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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Um bitaite que devia ser post

Publicado no post do folha seca, com o titulo "Más Memorias"

Cigano Rico, que já foi pobre disse...

As notícias da nossa terra, envolvendo crianças onde as únicas refeições que deglutam, são as que são consumidas nas escolas, (penso que o município da Marinha Grande foi pioneiro) não me espanta nada. Quando há uns anos fizeram um estudo sobre as refeições nas “nossas” escolas, frequentadas pelas “nossas” crianças, ficaram a sabe que: a maior parte das “nossas” crianças, o unico leite que ingeriam, era o que bebiam na escola, isto é, tomavam o pequeno-almoço, a primeira refeição do dia, na escola!
Julgo que está tudo dito, ou não, porque respeitante à fruta; em cada 35 alunos, 6 comiam fruta em casa!

Presentemente, ler que a nossa autarquia (e não só) vão fornecer refeições ao fim de semana para que as crianças sejam minimamente alimentadas, não me faz sentir ”vergonha”, nem me alivia a consciência, eu continuo a contribuir para que algumas tenham um pouco mais. Não sinto vergonha por isso, agora tenho pena, é das crianças que alguns e algumas vão levar à escola, em boas viaturas TG, e os filhos, fruta e outros… apenas "papam" na escola. É o que temos, vivência e atitude, acima das possibilidades.
E não estou a falar de lcd´s e telélés com visores tácteis, nem vou falar da higiene oral da maioria das nossas criancinhas, mesmo descontando o tal cheque dentista!
Há uns anos, quando visitava uma certa escola, uma ou duas vezes por ano, conforme a logística e as possibilidades, entregava gratuitamente iogurtes, algumas crianças diziam-me: que eram muito bons!, outras: quando é que eu voltava?, sentia-me pequeno, pequenino, eu… e as professoras. Já lá vão mais de 10 anos, ainda não havia: euros 2004, helicópteros, submarinos, tgvs, bpn bpp, pec´s 1,2,3 e se calhar o 4, nem se falava de crise, ou da crise, mas… já havia carências e fome nas “nossas” bem frequentadas escolas.
Por isso, a “Sopa dos Pobres”, junto da FEIS, (depois da galeria, sensivelmente a meio do edifício) que outrora foi um projecto humano e importante, junto dos mais carenciados desta Cidade, não seria desajustado (já existem noutros municípios) ser posto em prática pelo nosso Município e Juntas de Freguesia. Infelizmente a pobreza cresce a níveis assustadores por todos os Países.
Existe muita miséria escondida, por este Portugal a fora, e a Marinha Grande, não é excepção!
Por mim, pode e deve abrir, reabrir com este nome, ou outro nome parecido, é me totalmente indiferente.
Mais vale combatermos a miséria e a fome, do que esconde-la ou manifesta-la através de bandeiras pretas!
Não sei se já constataram, se já observaram, ou já se aperceberam e deram conta, que todos os dias, incluindo os Domingos, existe cada vez mais prostituição diurna nas ruas da nossa cidade, não falando da toxicodependência e das abordagens por eles praticadas.
É disto que eu tenho vergonha, ver seres humanos na Marinha Grande (a minha terra), seres humanos que desistiram, que já não se importam com nada, nem com ninguém e que se vão expondo, vendendo à luz do dia, o resto que têm… o seu corpo.
É desta realidade que tenho vergonha, jamais terei vergonha de colaborar para que alguém deixe de ter fome, e passe um dia com o estômago aconchegado.
Alguns, lembram-se dos pobrezinhos, dos aleijadinhos, dos coitadinhos e dos sem abrigo, apenas e só... na véspera do Natal, porque, no Natal esquecem-se.

Para mim, é Natal todos os dias, espero, que seja todo o executivo camarário a envolver-se nesta causa digna e altruísta, foi para isso que foram eleitos, para estarem ao serviço da população, e neste particular caso, ajudarem aqueles que mais carecem.
Uma causa, que pode não dar votos, mas… dá alegria, esperança e dias melhores a alguém que já nada espera.

30 Novembro, 2010 17:58

2 comentários:

folha seca disse...

Caro Cigano rico que já foi pobre
Chamámos (digamos) à primeira página o seu comentário porque nos parece que o assunto merece discussão e também nos parece que infelizmente, vamos ter que voltar a ele mais vezes. Sabemos que em todas as crises há vitimas inocentes que são arrastadas para situações que nunca lhes passaram pela cabeça. Na nossa terra, já vimos pessoas (Como se costuma dizer) bem na vida e que dum dia para o outro se viram em situações que as impediram de satisfazer as mais básicas condições de sobrevivência do seu agregado familiar.
Naturalmente que a sociedade Marinhense tem que ser capaz de acudir aos que mais precisam. E os Órgãos autárquicos têm nisso um papel fundamental.
Quando usei o termo “vergonha” não me referia àquilo que entendeu. Referia-me ter vergonha de por culpa (não assumida) de alguns, muito bem aproveitada por outros, se ter chegado a esta situação. Claro que sempre houve e sempre haverá franjas da nossa sociedade que serão sempre “pobres” por razões sociológicas, desenquadramento e estruturação familiar. Mas há os outros que quando menos esperam, são surpreendidos por situações para as quais não contribuíram.
Conheço bem a pobreza, conheço bem a solidariedade dos vizinhos e dos familiares. Nasci e fui criado no “Pinhal da Feira” outrora conhecido precisamente pela zona dos pobres da Marinha Grande.
Cumprimentos

Pedro Coimbra disse...

Vi na RTP reportagens que abordavam esse facto (as crianças tomarem a primeira refeição quando chegam à escola).
Chocante!