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sexta-feira, 2 de julho de 2010

Um post que devia ser bitaite (sobre a Jasmim)

Quando durante a manhã publiquei um post ilustrado com uma canção do Fernando Tordo (Adeus tristeza) e no pequeno texto que lhe inseri, desejava a todos um fim de semana “o menos triste possível” não imaginava que a seguir seria surpreendido com a noticia do fecho da Jasmim.
Infelizmente todos os dias “vemos ouvimos e lemos” noticias sobre o fecho de empresas em vários pontos do País com o consequente aumento do numero já gritante de desempregados.
Se qualquer uma destas noticias nos choca e assusta, o eventual encerramento da Jasmim, choca não só pelos mais 14 desempregados, mas pelo que significa em termos da nossa história.

Operário vidreiro, dos 10 aos 23 anos que passou todas as escalas, desde fechar o molde a oficial (de belga) seguindo a tradição dos meus Bisavôs, Avós, Pais e Irmãos não consigo como desejei aos nossos frequentadores deixar de sentir uma profunda tristeza , por mais esta situação que inevitavelmente aviva as cicatrizes mal curadas de muitas outras situações anteriormente vividas e a dor volta a sentir-se com o toque numa ferida mal curada..

Apesar de há cerca de 32 anos estar profissionalmente desligado da industria vidreira (não por vontade própria) as minhas raízes estão profundamente ligadas a esta industria, não fosse eu natural e residente nesta terra. Mas para além das nossas ligações profissionais, há a ligação efectiva e a nossa história colectiva.

Na mesma altura que se homenageia um dos grandes mestres vidreiros (Zé do Ernesto) manda-se para o desemprego um dos mestres vidreiros vivos (Fernando Esteves, perdoem-me a imodéstia, mas de quem eu fui 5º ajudante sendo ele 4º na obragem do Zé Lopes, na extinta FEIS).Este mestre vidreiro vivo e activo, foi a figura escolhida para a edição especial dos CTTs aquando das comemorações dos 250 anos da industria vidreira.

Creio que para além do queixume e nostalgia que aqui manifesto, parece-me que não nos devemos limitar a isto. Há que fazer mais. Todos somos excelentes treinadores de bancada. Está na hora de sugerir coisas concretas. Há muito que se discute a inclusão no nosso Museu do Vidro, de um museu “vivo”.
A Jasmim apesar de um projecto privado fazia em parte esse papel… que fazer, agora?

7 comentários:

folha seca disse...

Tinha este poema meio esquecido por muitos de nós, guardado no meu blogue "Abril Abril" partilho-o convosco.

Poema : Mãos vidreiras
Poema: Mãos Vidreiras
Autor: Francisco Correia Moita

Olhai para estas mãos que aqui vedes
Já foram pequeninas e mimosas
Leves e macias como lírios
Rosadas e frescas como as rosas
Mãos que foram dóceis em criança
Hoje são áridas brutais
Não tendo a graça das ilustres
Valem certamente muito mais

Mãos vidreiras
Que o gás do forno queimou
Mãos vidreiras
Que o trabalho calejou
Mãos vidreiras
Que só fazem obras d’arte
Mãos que sabem ser vidreiras
Honradas em toda a parte

Olhai para estas mãos trabalhadoras
Pelo rigor da vida transformadas
Mãos que nunca foram ociosas
Mas pelo trabalho calejadas
Mãos que se irmanam com o fogo
Trabalhando o vidro em fusão
Mãos que são a alma de um povo
Na sua dura vida e em duro pão

Anónimo disse...

H.Neto disse, e com razão, que a "Marinha está em fim de ciclo"..este no fundo é so mais um caso duma terra cujos governos locais persistentes do PC e do PCP, tão adorados pela população, a conduziram ao descalabro e ao atraso...mas cada terra e cada povo tem sempre o que mereçe..e pelos vistos a marinha e os marinhenses não merece mais do que o pouco (e fraco) que têm tido..

Anónimo disse...

Anónimo de 2/7 as22:22:

Não há dúvida que estão a faltar as idéias "brilhantes" deste anónimo para resolver os problemas da nossa indústria vidreira:
Porque é que nunca ninguém se tinha lembrado que a Camara já devia ter posto a funcionar a Feis, a M. P.Rordão, a J. F. Custódio a Ivima e agora a Jasmim, para só falar destas?
É caso para dizer (plagiando) "Não me fecundem".
Haja tento na "bola" que a Marinha bem merece.

Anónimo disse...

Então e as instalações do Crisforme, com um forno de milhares de euros às moscas? Não seria de o reactivar e pôr lá os poucos mestres vidreiros que existem a produzirem, articulando com o museu do vidro? Eu a mim custa-me ver património, físico e humano, ser delapidado. Ou então façam pequenos estudios no ex-mercado que nunca o foi e ponham-nos ao serviço dos artesãos e mestres por valores comportáveis.
Eu sei que falar é fácil mas se nada se fizer todos ficamos a perder. A Marinha fica a perder.

zé lérias disse...

Embora se trate de um sector muito específico, como é o caso do mundialmente famoso Vidro Murano, não deixo de ter esta dúvida (levando em conta o que documenta o vídeo cujo link junto abaixo): Teremos nós na Marinha Grande capacidades para impedir o desaparecimento, a curto prazo, da cristalaria que deu à cidade o título de Capital do Vidro? Creio que não.

Mas isso não será o fim.
Assim como aqui nasceram - depois da indústria vidreira - muitas unidades de produção de moldes de aço (sector que parece estar a passar também muitas dificuldades)outras novas indústrias irão surgir em substituição das que vão morrendo.
Assim queiram os investidores inteligentes.
O futuro está nas Universidades.
Olhe-se para Braga, Guimarães, Aveiro...

http://videos.sapo.pt/m3Y6VARouOS58Fz6kotC

Bom fim-de-semana

Anónimo disse...

Perante mais esta notícia, que nos indica o encerramento da JASMIM, não posso deixar de fazer uma reflexão, séria, isenta deixando de lado apartes e acusações gratuitas que a nada levam, nem soluções criam.
Num dos bitaites, li “VIDRO DE MURANO”, pois aí começa o problema, a tradição e história vidreira da Marinha Grande, nasce para COPIAR esse foi o fundamento da criação da fábrica pelo Marquês de Pombal, aliás veio com o Stephens os catálogos das peças mais comercializadas na Inglaterra para serem feitas cá a mais baixo custo. Algo que nunca se alterou, nunca a Marinha Grande se afirmou no Mercado Global com algo que nos distinguisse de outros “vidros”.
Lamentavelmente, todos os que tentaram em vão contribuir para uma mudança de rumo foram ignorados, e colocados com títulos que seguramente desmotivaram e impediram que essa mudança fosse feita, mesmo que tardiamente fosse feita.
Naturalmente que o Crisform existe, naturalmente que todas as outras fábricas enumeradas fecharam, e se a CMMG não tem de ter uma postura de reabilitação de unidades fabris, é também verdade que tem na sua mão poderes que bem utilizados poderiam conduzir a uma visão da industria bem diferente da que existe hoje. Exemplo, ainda na passada bienal das Artes, o prémio que foi entregue ao distinguido – Guilherme Correia, foi uma salva de prata!!!!! Comentários? Nem os faço
Agora, que todos choram o encerramento de mais uma fábrica, é tempo de perguntar a quantas peças compraram da Jasmim? Quantas peças compraram da Stephens? Poderia passar agora a enumerar todas as fábricas que já não existem……
Falam-se do reconhecimento da Arte? Como? Se os próprios naturais a não reconhecem?
Caros Marinhenses, é dura a VERDADE, e o Sr. Henrique Neto falou a verdade, pura, dura e crua, estamos em fim de ciclo, e abandonando guerras político-partidárias, a verdade é só essa. Mais grave é não se fazer a leitura a 15 anos, pois o fim de ciclo não é hoje, nem termina hoje com a Jasmim….. para mal da nossa cidade.
Não sou nem profecta da desgraça, nem Velho do Restelo, mas também já não acredito em conversas meigas, doces e suaves, tão presentes nos nossos dias de hoje pelo próprio PM, agora, se quiserem tratar dos assuntos de forma FRIA, DIRECTA, há situações a corrigir, medidas a tomar e tentar manter o que existe, e quem sabe recuperar algo do perdido.
Estranho para mim, é que certos Senhores, que em tempos idos tanto apareciam, tanto falaram, parece que quando o “barco” começou fundar, foram os primeiros a fugir…….Não seria tempo de os chamar? E porque não os RESPONSABILIZAR por tudo o que se fez que só serviu a eles próprios e para acelerar o fim da industria vidreira – Cristalaria.
Não vou tocar no tema SINDICATO, por ser demasiado óbvio e porque as responsabilidades que também tem, são conhecidas de todos, mas seria também interessante ver a posição e a solução apontada para a inversão do rumo que se leva! Embora possamos desde já imaginar as posições que serão defendidas.
Será que agora teremos tempo, para discutir de forma séria o tema?
Será que existe capacidade na sociedade civil de apresentar soluções e alternativas? Realistas, viáveis com um único objectivo?
Será que por uma vez, a Marinha Grande e as suas gentes sabem dar um exemplo único no país? Recuperar uma industria, uma Arte?
Quero acreditar que saberíamos, não sei que querem que saibamos dar esse exemplo!
Deixo a provocação!

Flor do Liz disse...

Este último comentário, tocou em todos os pontos e feridas. Disse tudo o que tinha que ser dito, SEJAMOS REALISTAS.