Sexta-feira, 2 de Julho.
Um dia de trabalho do presidente da autarquia marinhense, que começa com a chegada aos Paços do Concelho às 8h30 da manhã, depois de uma visita aos pais e uma bica a correr, no café da Praça Stephens, e só termina no sábado, pelas 2h da madrugada, quando finalmente regressa a casa para umas horas de sono.
Mais hora menos hora, é quase sempre assim, desde que há oito meses assumiu a liderança autárquica.
Deixou de ter semana inglesa, pois até as manhãs de sábado são passadas a trabalhar com o vereador Paulo Vicente. Felizmente, confessa, “nunca fui pessoa de muitas horas de sono”.
É certamente verdade, pois não lhe vi, ao longo de 18 horas, qualquer sinal de cansaço ou enfado.
Nem mesmo quando, próximo da meia-noite, num hotel de Oliveira de Azeméis, tomou a palavra para proferir um discurso de homenagem a Gabriel Roldão (pág. 7) ou durante os 150 quilómetros de auto-estrada de regresso à Marinha Grande.
Como todas as sextas-feiras, este foi, nas suas palavras, um “dia tranquilo, um dia sem tensões”, apesar do atendimento contínuo de munícipes e empresários, do almoço em meia hora ou do banho rápido antes da saída para Oliveira de Azeméis. “Difíceis são as manhãs de segunda-feira”, diz-me, quando, madrugada adentro, faço com ele um balanço do dia.
Difíceis, porque são as reuniões com os vereadores com pelouros, Cidália Ferreira e Paulo Vicente, que, explica o autarca, “vêm sempre com imensas ideias e tenho de ser eu a pôr travão, porque há que ser realista e ver se há meios para concretizar tantos projectos”.
Por estes dias, viveu-se um frenesim em alguns gabinetes da Câmara, porque foi preciso preparar vários projectos para candidatar aos fundos do QREN, que tinham de estar prontos para aprovação na reunião alargada do Executivo na quinta-feira, dia 1 de Julho.
Deverão agora ser introduzidos na respectiva plataforma informática, até 7 de Julho, sem falhas e sobretudo sem atrasos, sob pena de ficarem adiados, sabe-se lá por quanto tempo. O presidente confia no seu pessoal, sabe que os projectos seguirão, e está optimista quanto ao financiamento.
Afinal não são muitos os concelhos que apresentam um superavit comercial como a Marinha Grande: 480 milhões de euros em exportações contra 80 milhões em importações (dados de 2009).
“Assim estivesse o país!”, sublinha o autarca.
Centro da cidade será revitalizado
As expectativas do presidente da Câmara quanto à revitalização do centro da cidade, e não só, têm fundamento. Intervenções em grande parte do património Stephens, nomeadamente Museu, Teatro, Galeria, Jardim Central e na Fábrica da Resinagem integram este projecto.
Ascendem a vários milhões de euros, sendo obviamente impossíveis de suportar pelo orçamento da autarquia que, ainda assim, deverá contribuir com 20%.
As regras de Bruxelas impõem que todos os projectos de regeneração urbana estejam concluídos e pagos até 31 de Dezembro de 2012, o que justifica o optimismo do autarca que poderá, assim, ver concretizadas obras sobre as quais já muito se falou mas pouco se fez.
Mas há mais. Neste mandato, Álvaro Pereira conta que a autarquia concretize os projectos de dois centros educativos, um na Vieira e um na Marinha Grande e é seu objectivo dotar a cidade com mais três.
Na lista das prioridades estão também alguns acessos rodoviários, a famigerada piscina municipal, cuja localização ainda está em discussão, o alargamento da zona industrial, para a qual é preciso chegar a acordo na troca de terrenos com o Estado porque, defende ao autarca, “não é viável à autarquia pagar os terrenos a 35 euros/m2 quando o que queremos é vendê-los a futuros investidores a preços atractivos”, e o novo mercado municipal, cuja localização está prevista para um espaço junto aos estaleiros da câmara, apesar de não haver consenso sobre isso.
O que está fora de questão é instalá-lo no Atrium Cristal porque, reconhece o presidente, “essa insistência já fez o Partido Socialista perder umas eleições”. O rés-do-chão em breve terá utilidade, mudando-se para aqui os serviços do Registo Civil e Predial.
Outros projectos para a cidade, mais do que consenso político, passam pela negociação com entidades privadas, como é o caso do património da FEIS/Mortensen, que pertence ao Millennium BCP, onde poderá vir a ser instalado o Museu do Molde, ou da Ivima, adquirida pela Barbosa & Almeida, com a qual a autarquia está a negociar a instalação de dois berçários.
São muitos projectos para um mandato só!
É por isso que o autarca, contendo o entusiasmo, confessa que “ficaria feliz se neste mandato conseguisse concretizar os projectos que candidatou e lançar o da piscina e do mercado”.
Cidade regenerada… e os Paços do Concelho?
Depois do almoço, entre o despacho das questões inadiáveis que lhe vão chegando à secretária e o atendimento seguinte, o presidente rouba uns minutos do seu tempo para me conduzir numa visita às instalações dos Paços do Concelho, onde funciona o grosso dos serviços da câmara.
As condições de trabalho de dezenas de funcionárias são indescritivelmente más! Para além do barulho constante dos carros, nos gabinetes quase “em cima” da estrada que atravessa a cidade, há secções em que as funcionárias literalmente se tornam invisíveis entre as pilhas de processos que forram as paredes e se amontoam em cima de secretárias.
Os sanitários são insuficientes, os gabinetes são asfixiantes, todo o espaço é disfuncional e insuficiente. Digo-lhe, meio a sério meio a brincar, que se houvesse ali uma inspecção da ASAE lhe fechavam a câmara, observação de que não se atreve a discordar!
A criação dum Gabinete do Munícipe, que foi uma promessa eleitoral na sua candidatura, não se compadece com a espera pela finalização das obras na Resinagem, onde terá instalação definitiva.
Em breve deverá funcionar nos Paços do Concelho, mal acabem as obras que são visíveis na ala direita. E a autarquia continuará a ganhar espaço para o edifício mais nobre da cidade, recuperando o que está desaproveitado, na Rua Machado Santos, e negociando com privados, o crescimento a norte. Porque para o autarca, a importância do trabalho duma câmara justifica a sua centralidade, para além de o edifício carregar “todo o simbolismo da cidade”.
Um dia em cheio. Das pessoas recebidas nesta sexta-feira, a maioria veio anunciar boas novas: munícipes que querem alargar as instalações para expandir os seus negócios, empresários que querem instalar-se na cidade e até um grupo interessado em comprar a sociedade que gere a EPAMG (ver notícia).
Não podia ser melhor.
A avaliar apenas por este dia com o presidente, seria caso para dizer que a retoma já chegou à Marinha Grande.
(surripiado do JMG*)
* parabéns ao JMG por já ter on-line alguns dos artigos da edição que hoje saiu para as bancas
6 comentários:
Ó Minha cara Drª Alice Marques
"pois não lhe vi, ao longo de 18 horas, qualquer sinal de cansaço ou enfado".
Ou o homem é de ferro ou então aqueles medicamentos especiais fazem efeito... será que tambem tomou ou é conversa jornalistica? claro que pelas nossas idades, ao fim de 18 horas estamos de rastos, salvo se tivermos algum ADN especial... vá lá não é preciso tanto. Quanto ao resto ainda não li.
Mas pode crer Sr ai ai, que é verdade, só quem não conhece a capacidade de trabalho dos elementos do executivo é que duvida e, alguns deles, pode crer que até, são bastante avessos a medicamentos.
Beijinhos e Boa Noite
cara (o) Flor do Liz
Não puz e não ponho em causa a capacidade de trabalho "dos elementos do executivo" mas "18 horas sem acusar qualquer cansaço" é obra... pronto, é inveja, penetencio-me.
Mas que raio de conversa
A qualidade do trabalho mede-se pela sua eficácia e não pelo suor dispendido.
Trabalhar muitas horas pode significar falta de organização e planeamento. Também não acredfito em superhomens ou supermuiheres.
Está provado que ao fim de determinadas horas as nossas capacidades de decisão vão reduzindo.
ESTA PASSAGEM É FANTÁSTICA
“Difíceis são as manhãs de segunda-feira...
Difíceis, porque são as reuniões com os vereadores com pelouros, Cidália Ferreira e Paulo Vicente, que, explica o autarca, “vêm sempre com imensas ideias e tenho de ser eu a pôr travão, porque há que ser realista e ver se há meios para concretizar tantos projectos”.
AINDA BEM QUE TEMOS UM TRAVÃO PARA REFREAR OS ÂNIMOS, A GANÂNCIA EMPREENDEDORA DOS DOIS VEREADORES É DESMEDIDA... OBRIGADO SR. PRESIDENTE POR SER UM HOMEM CONTIDO!
Pondo de parte a prosa, o estilo e algum conteúdo, estou de acordo com algumas das ideias expendidas durante um longo dia de trabalho, mas em relação a duas ou três, tenho as maiores dúvidas, ainda que ache legítimo e natural que outros pensem de maneira diferente.
Dar de barato que o PS, liderado por João Paulo Pedrosa perdeu as eleições que ele, e todo o Partido, achava que estavam ganhas e a dúvida era se seria por maioria absoluta, parece-me um raciocínio simplista.
As verdadeiras razões, como o Dr. Álvaro Pereira bem sabe, são outras bem diferentes.
Logo, continuo a não achar "inteligente" deixar de testar uma solução que não implica grande investimento e que será perfeitamente reversível se, de facto comprovado, não funcionar.
Para dinamizar o Centro Tradicional, há que tentar recolocar os serviços públicos onde já estiveram e o projecto da Resinagem que eu conheço, previa exactamente isso.
Adquirir a FEIS ao BCP, não só é desejável, como é inevitável, porque se não for a Câmara, com o Plano de Salvaguarda do Centro Tradicional aprovado, aquele espaço só interessa ao Povo da Marinha Grande. O que se exige é firmeza na negociação, porque os valores de mercado medem-se pelo potencial reprodutivo do investimento e naquele caso, para os privados, o retorno é ZERO.
Quanto ao Museu do Molde, na minha opinião, ainda que modesta, a aposta deveria ser num Museu de Ciência e Tecnologia, onde cabia a fileira florestal, o vidro, os moldes, os plásticos e as limas.
No resto, uma dúvida aqui outra ali, estamos de acordo.
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