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quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Revista de Imprensa

Comício e exposição evocam 75 anos do 18 de Janeiro na Marinha Grande

"Uma jornada heróica que anima a nossa luta"

O 18 de Janeiro de 1934 na Marinha Grande foi«a primeira grande acção de massas contra o fascismo» e, 75 anos decorridos, «continua a ser uma jornada que se projecta na luta dos nossos dias», disse Jerónimo de Sousa no comício que o PCP realizou, sexta-feira, 16, para evocar o heróico levantamento do operariado e do povo marinhense.

Horas antes do comício, o secretário-geral do Partido inaugurou a exposição que até ao final deste mês estará patente na Praça Stephens, bem no centro da cidade vidreira. Acompanhado por responsáveis regionais e locais, militantes comunistas e alguns populares, e por Joaquim Gomes - histórico dirigente do PCP e ex-operário vidreiro que integrou e viveu algumas das grandes lutas desenvolvidas na Marinha Grande a partir dos anos 20 do século passado -, Jerónimo de Sousa percorreu os painéis onde se relatam os principais acontecimentos daquela insurreição operária, explica-se o contexto histórico, político e social no plano nacional e local, ilustrado com fotos da época, evocam-se os mártires, heróis, deportados e principais responsáveis pela direcção da revolta, e recordam-se algumas das anteriores homenagens promovidas pelo PCP.
Aberta a mostra evocativa dos 75 anos da proclamação do soviete marinhense, a comitiva atravessou a estrada em direcção ao Museu do Vidro e abrigou-se do frio cortante trazido pela noite. Dentro do auditório, alguns tiveram que ficar de pé enquanto decorria a apresentação do catálogo da exposição. As conversas iniciadas na praça onde se desenrolaram alguns dos mais importantes acontecimentos do 18 de Janeiro continuaram entre as paredes da antiga Fábrica Stefens e só foram interrompidas para a intervenção que antecedeu o porto de honra.
Lembrando que esta evocação é feita pelo «Partido que assumiu o envolvimernto dos seus quadros e militantes, e portanto responsabilidades na condução das lutas desse período e do período do 18 de Janeiro», José Augusto Esteves, da Comissão Central de Controlo, destacou a qualidade do documento editado pela Direcção da Organização de Leiria do PCP, o qual fixa «a essência dos acontecimentos» e presta uma duradora homenagem aos seus principais protagonistas.
«Homens que cedo conheceram a dureza da vida nas fábricas e muito cedo percorreram os caminhos da luta». Trabalhadores que com apenas 12 anos não só participavam mas dirigiam a própria luta conhecendo precocemente a prisão e, mais tarde, «se sacrificaram em defesa dos interesses dos seus companheiros de trabalho e do seu povo, unidos por esse ideal fraterno e comum de combate à injustiça e às desigualdades». Comunistas que impulsionados pela reorganização do Partido em 1929, empreendida com Bento Gonçalves, desenvolvem no contexto da consolidação da ditadura fascista uma exaltante e intensa actividade política e sindical na Marinha Grande, trabalhando incansavelmente para a unificação das diversas organizações de classe dos vidraceiros, garrafeiros, cristaleiros e lapidários numa única organização nacional, e para o reforço e implantação do PCP no seio da classe operária e dos trabalhadores.
Homens de grande dedicação e disponibilidade revolucionária como José Gregório, António Guerra, Augusto Costa, Manuel Baridó, Adriano Neto Nobre ou Manuel Esteves Carvalho - o «Manecas» como lhe chamavam carinhosamente os amigos, e que foi até ao 18 de Janeiro de 1934 o responsável local do Partido deixando no colectivo comunista da Marinha Grande a raiz combativa que perdurará em décadas de resistência ao fascismo -, que estarão «na direcção do movimento do 18 de Janeiro» e, muito embora tenham sido derrotados «num combate em que a heroicidade não bastava para vencer a desproporcionalidade das forças», inscrevem os seus nomes num grande feito da classe operária portuguesa, sublinhou o dirigente do PCP.

Exemplo da resistência ao fascismo

Já perto das nove e meia e com o estômago mais confortado, muitos dos que haviam estado na inauguração da exposição e na apresentação do catálogo dirigiram-se ao Sport Operário Marinhense para a última iniciativa da evocação da revolta operária e popular de 1934 na Marinha Grande. A estes juntaram-se muitos mais, tornando apertado o espaço que acolheu o comício. Enquanto a música e a passagem de um filme alusivo aos acontecimentos de há 75 anos preparava os discursos de Sérgio Moiteiro, em nome da DORLEI, de Irina Souzinha (ver caixa), em nome da JCP, e de Joaquim Gomes (ver caixa), cá fora vendiam-se o AGIT e outros materiais de banca, e distribuia-se o último documento da campanha do Partido afirmando «Sim é possível uma vida melhor!».
A encerrar a maratona comemorativa, Jerónimo de Sousa frisou que o 18 de Janeiro de 1934 é a «primeira grande acção de massas contra o fascismo salazarista e em que a classe operária se perfila como a força determinante na resistência e na luta pela liberdade e pela democracia».
«Pela sua amplitude, pela natureza que assumiu, pelos ensinamentos que permitiu extrair, continua a ser, para nós comunistas, um acontecimento marcante na longa e heróica luta dos trabalhadores portugueses pela liberdade e pelo direito a construir uma vida liberta de todas as formas de opressão e exploração», continuou, sobretudo se considerarmos que os revolucionários que se ergueram contra a ditadura não só foram vítimas da mais feroz repressão e sujeitos «a toda a espécie de perseguições, larguíssimos anos de cadeia, deportações e assassinatos», como o fizeram num contexto em que «o fascismo português acabava de completar o seu processo de institucionalização, Hitler havia chegado ao poder e pela Europa fora aumentava o número de ditaduras fascistas ao serviço do grande capital», apostado em «ajustar contas com o movimento operário e enterrar de vez as suas aspirações».
«O exemplo dos revolucionários do 18 de Janeiro animou e inspirou a luta de sucessivas gerações contra o fascismo, sem a qual – nunca é demais recordá-lo - a democracia conquistada em 25 de Abril de 1974 não teria sido possível», acrescentou o secretário-geral do PCP. «Quando proclamamos “Fascismo nunca mais, 25 de Abril Sempre”, expressamos o repúdio pelo fascismo que mergulhou o Pís e o povo na mais negra miséria e opressão durante 48 anos. Fazêmo-lo para manifestar o nosso apego à conquista da liberdade para a qual os trabalhadores e os comunistas deram uma contribuição ímpar, mas também para lembrar que os exploradores e o poder político que os serve nada dão de livre e espontânea vontade, que a liberdade conquistada precisa de ser defendida, para que os sacrifícios de sucessivas gerações não tenham sido em vão».

(…)


(surripiado do Jornal "Avante")


Nota: os erros ortográficos são da responsabilidade do Jornal "Avante"

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