Após três horas de reunião com a Direcção, as expectativas alimentadas pelos trabalhadores da Escola Profissional e Artística da Marinha Grande acabaram defraudadas. A médio prazo, a alteração da figura jurídica que gere a EPAMG pode vir a ser uma solução que viabilize o projecto desta instituição de ensino.
Mas a pergunta urgente, feita vezes sem conta ao longo da reunião, que decorreu na segunda-feira, “para quando o pagamento dos salários em atraso?” ficou sem resposta.
Rumores de encerramento da EPAMG, ameaça de greve e de recusa da atribuição de classificações por parte dos professores e o mal-estar geral que se vive na escola e começa a preocupar os pais e encarregados de educação, levaram a direcção da EPAMG a convocar esta reunião geral de trabalhadores para esclarecer a situação financeira e anunciar algumas mudanças que se perspectivam a médio prazo.
Nunca o ditado popular “Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão” foi tão adequadamente evocado.
Num diálogo difícil, que atingiu picos de exaltação e dramatismo, foi explicada pela Directora-Geral, Piedade Panta, e pela responsável pelo Departamento Administrativo e Financeiro, Gabriela Roldão, a situação financeira da escola, bem como as razões que estão na origem desta asfixia, e que se traduz, no momento, em dois meses de salários em atraso aos professores e funcionários a tempo inteiro e quatro aos que prestam serviço a recibo verde, dívidas a fornecedores e incerteza quanto à possibilidade de pagamento dos próximos meses e do subsídio de férias.
Na origem desta crise estão vários factores que a direcção se esforçou por explicar: o modelo de financiamento por reembolso (que significa que é preciso pagar primeiro, apresentar provas das despesas para ser reembolsado pelo Programa Operacional do Potencial Humano, POPH); os atrasos na aprovação dos dossiers de saldo (do dossier de saldo entregue em Outubro de 2009, só há uma semana foi desbloqueada a verba correspondente), originando longos meses em que, com recurso ao crédito bancário através de conta caucionada e livranças, se procurou ir garantindo alguns pagamentos.
Acresce a estes factores, o recuo estratégico da banca nas últimas semanas, tornando mais difícil o acesso ao crédito.Recorde-se que a Escola Profissional, instituição sem fins lucrativos, não tem património próprio, é gerida por uma sociedade por quotas, de que fazem parte apenas pessoas a título individual, e que, no caso do recurso ao crédito bancário, apenas os bens pessoais dos sócios são dados como garantia.
O agravamento da situação financeira, com dívidas acumuladas ao longo de duas dezenas de anos, tornou evidente a fragilidade deste modelo jurídico e de gestão, levando a direcção a procurar, nos últimos meses, possíveis parceiros para assegurar a continuidade deste projecto, reconhecido por muitas entidades como imprescindível no concelho.
Reuniões diversas, com empresários individuais, a Cefamol e a Câmara Municipal, têm vindo a deixar claro que uma mudança na forma jurídica da entidade proprietária da EPAMG pode vir a constituir-se como uma solução, porque poderá facilitar o acesso a outros financiamentos.
Outra perspectiva de solução, mas a prazo incerto, prende-se com a esperada alteração do modelo de financiamento das escolas profissionais, que há alguns anos está a ser posta em prática nas escolas de Lisboa e Vale do Tejo – o financiamento por aluno, acabando-se com o modelo de reembolso.
A ANESPO - Associação das Escolas Profissionais tem vindo a pressionar o governo no sentido de fazer cumprir esta promessa, anunciada para Setembro de 2010, e que permitiria a muitas escolas, que vivem uma situação de asfixia idêntica à da EPAMG, gerir com mais flexibilidade os financiamentos, e assim, a médio prazo, liquidarem as dívidas que vêm acumulando.
Tais explicações não conseguiram acalmar a ansiedade dos trabalhadores da EPAMG, alguns dos quais enfrentam uma situação dramática, sem condições para assumirem os seus próprios compromissos com os bancos, estando também a acumular dívidas e a viver de empréstimos de familiares e amigos.
Não faltaram por isso as insinuações e acusações explícitas de má gestão, profecias do que já aconteceu, o que levou a um desfecho inesperado da reunião. Gabriela Roldão, na qualidade de responsável pelo Departamento Financeiro, a título individual, propôs aos presentes a votação de uma moção de confiança na sua pessoa.
Muitas vozes de professores se fizeram então ouvir, de recusa de votar esta moção, mas abertos à ideia de votar uma moção à Direcção. Piedade Panta, que detém a quota maioritária da sociedade, e é Directora-Geral da escola, foi peremptória na recusa de se submeter a este plebiscito enquanto se mantiver nessa qualidade. Três horas depois, todos saíram insatisfeitos. Mas sem falsas promessas.
E, apesar de tudo, ainda dispostos a não abandonar o barco!
(surripiado do Jornal da Marinha)
6 comentários:
Qual tem sido a intervenção da Camara ? Como é evidente não se pode substituir à Instituição.Mas pode e deve intervir no sentido de ajudar com o apoio e solidariedade a todos os que estão envolvidos e principalmente à Direcçao da Escola a encontrar soluções como objectivo de que a Escola não encerre as suas portas.
Teriamos no desemprego mais pessoas e seria um forte contributo para uma maior desertificação do Centro tradicional.
Por isso não percebo o silêncio da nossa Camara.
O aparecimento das Escolas Profissionais foi, por assim dizer, uma resposta da sociedade civil à inconcebível ideia que levou ao encerramento do ensino profissional no nosso país.
E se houve algumas dessas novas entidades que cedo demonstraram ter consideráveis carências e dificuldades - pouco mais sendo que 'nados mortos' - outras houve (e entre elas conta-se a nossa EPAMG) que demonstraram ser projectos muito válidos e inovadores capazes de, de alguma forma, darem um contributo capaz de ultrapassar parte das lacunas que a anulação do ensino profissional originou.
Registemos ainda que as dificuldades agora vividas não são, propriamente, uma surpresa, já que o estado nunca soube lidar com estas Escolas que, de algum modo, passam à revelia da sua tutela açambarcadora.
A tutela nunca foi capaz de encontrar um esquema fosse justo e capaz de, eficazmente, financiar essas entidades a quem, afinal, o país já muito deve.
E os resultados aí estão. Escolas estranguladas e à beira da asfixia e da morte lenta. É pena, já que as Escolas Profissionais demonstraram que, tendo alguma autonomia na organização dos seus cursos e dos seus currículos, apresentaram resultados acima da média, tornando-os mais atractivos aos olhos de alguns alunos, do que os cursos postos à sua disposição pelo ensino dito oficial.
Nessas Escolas (e a EPAMG não foi excepção à regra, bem pelo contrário) vimos alunos motivados e orgulhosos das suas Escolas e dos cursos que nelas lhes são ministrados.
Pena é que as entidades de tutela continuem embrenhadas em tortuosos labirintos e enredadas em teias que as suas próprias linhas foram tecendo!
E, assim, aqui chegamos. Vamos lá a ver no que vai dar mais esta triste situação.
Acompanhamos, muito de perto, o aparecimento desta Escola marinhense e testemunhamos o entusiasmo que os seus promotores colocaram neste projecto.
Estamos, pois, em posição de avaliar o quanto sofrerão os seus responsáveis com a deplorável situação por que passa a sua (nossa) Escola!
Não ficaríamos de bem com a nossa consciência se não deixássemos uma palavra de reconhecimento e de apoio pelo esforço dispendido e pela meritória contribuição que têm dado, ao longo dos anos que já leva este magnífico projecto, para o enriquecimento da Marinha Grande.
a dona Lince D'arquis enquanto lá andou a receber a gamela que acumulava com o ordenado de professora na calazans duarte, era tudo bom até se tornou sócia, agora que as coisas estão a dar para o torto foi lá na qualidade de jornalista, nunca vi tamanha falta de vergonha e cobardia
Leitor habitual deste blogue que me parece hoje ser uma excelente forma de comunicar e que permite que cada um de nós simples cidadãos anónimos expressar a nossa opinião, achei estranho as poucas opiniões aqui expressas num assunto de tão grande importância para a nossa Marinha grande. Não sendo grande entendido nestas coisas do Ensino e não percebendo bem esta ligação dos projectos empresariais privados com fundos publicos publicos e ao falharem os mesmos, apelo que alguem mais entendido nos esclareça. Apesar do escelente bitaite do Anaacleto Fontainhas ter feito alguma luz.
No Entanto sei que a Epang tem dado um contributo execelente em temos de formção profissional e artistica á nossa terra.
A situação que nos é transmitida sobre a EPAMG, obriga-nos a fazer uma reflexão profunda, isenta, séria sem deixar de ser fria e objectiva.
1- Sem dúvida que todo o património criado pela EPAMG merece o nosso respeito, e um Bem Haja a todos quantos fizeram e consturiram essa Escola
2- A EPAMG de alguam forma é o reflexo directo do quese passa na Marinh Grande e em concreto naIndustria Vidreira, não existindo coloca em causa a existência da própria EPAMG, poi a suavocação artisticapara o vidrofica desde logo condicionada e comprometida.
3- Meritório que os funcionários, mesmo com dificuldades, sigam na busca de soluções e quegaratama continuidade da Escola que ao fim e ao cabp é de TODOS.
4-lamentavel posturas que se lêm, eque ja foram comentadas em post..... nem perco tempo a caracterizar, avaliar e comentar!
cada um fica com as acções que pratica
5- CADA VEZ MAIS, urge repensar TUDO, não a EPAMG, TUDO! na MARINHA, para isso o Forum repensar a MARINHA GRANDE, foi importante e será um inico de um processo complexo, de questionar tudo, e procurar caminhos, mas caminhos de todos para uma solução GLOBAL.
Deixemos as vizibilidades individuais, os protagonismos em nomes de posições em estruturas partidárias ou coletivas, abandonemos ideias pré concebidas, e de forma isenta e honesta seja dado um contributo para criar a ESTRATEGIA PARA A MARINHA GRANDE NO FUTURO
Blá, blá, blá, blá, blá ...... mas na próxima vez vou votar nos mesmos de sempre (PS ou PCP) que nos levaram a isto .........
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