Graças ao Sr. F. Monteiro, que na semana passada escreveu uma carta ao JMG (acompanhada de um valente um puxão de orelhas àquele jornal), ficámos a saber alguma coisa sobre o conteúdo do relatório da ASAE, que esteve na origem da ordem de encerramento do mercado velho.
Apesar deste ser uma tema que já causa algum enfado, vale a pena determo-nos nas razões invocadas por aquela entidade. É que, ao contrário do que seria suposto, não são referidos (entre outros),
problemas como os que a seguir se indicam:
- “PARA O PESCADO E CARNE VERDE O INGRESSO TEM QUE SER FEITO POR FOLE DE ACOSTAGEM HERMÉTICO EM ESPAÇO CLIMATIZADO (9 a 12 GRAUS) CONTÍGUO AO ESPAÇO DE ARMAZENAGEM REFRIGERADO (0 a 2 GRAUS), OU , EM ALTERNATIVA, COLOCAÇÃO IMEDIATA EM CONTENTORES ISOTÉRMICOS DE MOVIMENTAÇÃO";
- "O ESPAÇO DE RECEPÇÃO PARA PRODUTOS CONGELADOS DEVERÁ SER REFRIGERADO (0 a 2 GRAUS) DE MODO A QUE NÃO SURJA ORVALHADA SOBRE PRODUTOS E EMBALAGENS, DEVIDO A VARIAÇÕES TÉRMICAS. A SUA CONSERVAÇÃO DEVERÁ SER GARANTIDA ENTRE -24 graus E –18”;
- "TODOS OS ESPAÇOS DE CONSERVAÇÃO EM FRIO POSSUIRÃO, OBRIGATORIAMENTE, REGISTOS IMPRESSOS DA EVOLUÇÃO DA TEMPERATURA E HUMIDADE";
- "OS FUNCIONÁRIOS DO MERCADO SÓ PODERÃO INGRESSAR NA ÁREA DO MERCADO APÓS PASSAGEM EM INSTALAÇÕES DE VESTIÁRIO/BALNEÁRIOS/SANITÁRIO, PARA HOMENS E MULHERES”;
- "OS MERCADORES DE HORTO-FRUTÍCOLAS, CHARCUTARIA, PADARIA, FLORES, AVES VIVAS, ARTESANATO, DEVEM DISPOR DE VESTIÁRIOS COM CACIFO COM SISTEMA DE FECHO SEMELHANTE AOS UTILIZADOS EM RECINTO DESPORTIVO COM BLOQUEIO DE CHAVE; SANITÁRIOS EM NÚMERO SUFICIENTE PARA OS DOIS SEXOS”;
- "PARA OS COMERCIANTES DE PESCADO, CARNES E AVES VIVAS DEVERÃO EXISTIR INSTALAÇÕES PARA OS DOIS SEXOS E DIFERENCIADAS PARA CADA PRODUTO”;
- “DADO EXISTIREM DIVERSAS ENTIDADES EMPREGADORAS, CONCORRENTES COMERCIAIS ENTRE SI, DEVER-SE-IA OPTAR PELA EXISTÊNCIA DE VÁRIOS CONJUNTOS DE SANITÁRIOS, BALNEÁRIOS, VESTIÁRIOS, QUE PUDESSEM SER AFECTADOS CADA UM A UM NÚMERO DE OPERADORES, RESPONSABILIZADOS PELO SEU USO"
- "AS BANCAS SÃO EQUIPADAS, NO TARDOZ DA ÁREA DE VENDA, COM BANCADAS E PRATELEIRAS EM AÇO INOX E TAMBÉM COM CUBAS DE LAVATÓRIO COM COMANDO POR PEDAL. A CONFIGURAÇÃO DAS BICAS NÃO PERMITE A COLOCAÇÃO DE UM BALDE PARA RECOLHA DE ÁGUA.
- "O COMANDO DE PEDAL ESTÁ ALOJADO NUMA CAIXA DE INOX QUE, POR TER FRINCHAS NA SUA CONSTRUÇÃO E NA JUSTAPOSIÇÃO AO SOLO E PAREDES, ACUMULARÁ DETRITOS E ÁGUAS E ABRIGARÁ INFESTANTES";
Para espanto geral, pasme-se, os problemas encontrados pela ASAE foram:
- instalações degradadas, nomeadamente no que respeita ao chão do mercado;
- paredes sujas, azulejos partidos, sinais de infiltrações, fungos e bolores;
- calhas e tubos de descarga rotos, provocando escorrência de águas pluviais nos corredores de acesso;
- estrutura do tecto da nave central degradada, oxidada e com teias de aranha;
- pontos de luz sem armaduras de protecção e com teias de aranha;
- janelas degradadas, sujas, sem redes de protecção, etc, etc, etc;
Para os mais incrédulos e para os mais “desatentos”, este é a prova que faltava para demonstrar à saciedade que o estudo encomendado pela executivo PCP/PSD (ou devemos dizer João Barros/Artur Oliveira?) relativo às adaptações a que o novo mercado deveria ser sujeito para poder funcionar, elaborado por pseudo-especialistas na matéria, é um embuste e uma aldrabice. A razão é simples: a maioria das restrições invocadas para a não abertura do mercado novo (algumas acima indicadas), não são aplicáveis (por isso é que não são referidas pela ASAE para o encerramento do mercado velho), o que só pode querer dizer duas coisas: ou houve má fé ou incompetência da parte de quem assina o referido estudo e de quem o apresenta como um trabalho credível formulados por doutos peritos.
Posto isto e após largas centenas de euros desbaratados na lunática solução provisória da Feira dos Porcos, sugere-se aos nossos governantes municipais o especial favor de serem razoáveis e criteriosos na gestão da coisa pública: com o dinheiro destinado à compra das tendas abram o novo mercado. E se por acaso os feirantes do Levante “fizerem ondas”, instalem o pessoal no parque de estacionamento situado ao longo da rua do Campo da Portela, bem perto do mercado novo.
Esta seria uma solução séria e responsável (depois de todos os erros acumulados ao longo de quase meia dúzia de anos), e a contento de todos. A menos que a muleta da coligação insista na tese da contaminação do Parque da Cerca e os feirantes não queiram ficar por perto.