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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Revista de Imprensa

Vieira de Leiria recorda Lúcio Tomé Feteira com carinho

O industrial Lúcio Tomé Feteira, falecido em 2000, aos 98 anos, é recordado pelos mais velhos na terra Natal, Vieira de Leiria, como um benemérito que ajudou famílias necessitadas e legou grande parte da fortuna a obras sociais.
"Havia muita gente, famílias daqui e parentes afastados, que viviam com dificuldades e ele sustentava-os. Nunca fez alarde disso", disse à agência Lusa Paulo Vicente, vereador da autarquia da Marinha Grande e presidente da junta de Vieira de Leiria durante 20 anos.
As ajudas, explica, provinham de uma conta bancária "destinada só a beneficência", abastecida pelas rendas de prédios e terrenos do empresário.
Dessa conta saía, por exemplo, "uma quota mensal de 100 contos" (500 euros) destinada à Biblioteca de Instrução Popular da Vieira de Leiria, projecto de combate ao analfabetismo do qual Lúcio Feteira foi sócio fundador.
A acção benemérita estendeu-se a obras sociais da Igreja e escolas - como o Jardim dos Pequenitos - um jardim de infância baptizado com o nome de Inácia da Piedade Sequeira, mãe de Lúcio ou a duas cantinas escolares a que foi dado o nome de Olímpia, a mais nova dos 11 irmãos do industrial.
"Ajudava muita gente, mas não badalava a ajuda que dava ou deixava de dar. Às vezes, os irmãos davam todos em conjunto", reforça Albano Feteira, sobrinho de Lúcio.
Albano recorda a juventude "difícil" do tio, que, tal como os sete irmãos homens, foi "empregado manual" na empresa de limas União Tomé Feteira, fundada em meados do século XIX.
Lúcio não seguiu o negócio familiar - embora entre 1931 e 1941 tenha assumido uma quota na empresa - e "progrediu" na indústria do vidro, frisa Paulo Vicente.
"Ele pouco ou nada tinha a ver com as limas. Casou com a filha de um fabricante de vidraças da Vieira, que possuía uma fábrica de vidros na Guia".
O sogro, continua Paulo Vicente, "deu-lhe a administração da fábrica", precursora da Companhia Vidreira Nacional (COVINA), que viria a fundar em Santa Iria da Azóia.
O industrial manteria, no entanto, a ligação a Vieira de Leiria, onde presidiu à autarquia local na década de 1930, quando o património das antigas juntas paroquiais era disputado pelas recentes juntas de freguesia.
"Aceitou presidir à Junta para resolver esses problemas. E devolveu o património à Igreja", revela Paulo Vicente.
O vereador, que conheceu Lúcio Feteira, garante que o empresário "teve sempre uma relação muito boa" com a terra Natal, apenas interrompida pela agitação social ocorrida no 25 de Abril.
Outra das mágoas de Lúcio Feteira, assegura, foi a nacionalização da COVINA e a proposta de indemnização feita, anos mais tarde, pelo Governo de Cavaco Silva.
"Nunca perdoou a Cavaco Silva a indemnização que lhe propuseram pela COVINA, disse-mo a mim", sublinhou.
Segundo Paulo Vicente, data dessa altura, igualmente, algum "esfriar de relações" com o empresário João Rocha, sócio de Lúcio Feteira em diversos investimentos, como o Hotel Júpiter, na Praia da Rocha, Algarve.
A reaproximação do industrial a Vieira de Leiria deu-se na década de 1990 e, no seu testamento, o industrial deixou 80 por cento do dinheiro que tinha para a constituição de uma fundação com fins culturais e sociais, a denominar Família Feteira, que seria criada pela junta de freguesia na Quinta da Carvalheira.
"Ainda não houve partilha de bens, não se sabe qual o montante disponível. Mas o dinheiro que existe devia voltar todo à herança, há fundos para a constituição da fundação", advoga Paulo Vicente.
A história de Tomé Feteira tornou-se pública nos últimos dias por causa da disputa da herança entre os herdeiros e a mulher com quem viveu durante muitas décadas, Rosalina Ribeiro, que foi assassinada no Brasil em Dezembro de 2009.
Surripiado ao Diário de Leiria

2 comentários:

Isa GT disse...

Fez ele bem em ter dado em vida porque vira quase uma regra, os herdeiros esgatanharem-se (ou matarem-se) por algo que nem sequer sabem, dar valor.

Bjos

Até eu ainda vou a Feteira (por parte duma tia-avó) disse...

O Estado português poderá vir a ficar com a herança que Lúcio Tomé Feteira deixou a Rosalina Ribeiro. Antes de morrer, a ex-secretária do empresário deixou dois testamentos. Um em Portugal e outro no Brasil. A história do assassínio da portuguesa de 74 anos, em Dezembro do ano passado, no Brasil, ganha agora um novo capítulo com os beneficiários dos documentos a reclamarem a suas partes.

A advogada Glória Amaral, representante de dois sobrinhos do ex-marido de Rosalina, confirma que a ex-secretária mandou escrever "dois testamentos". Contudo, nenhum deles faz referência aos 15% da herança deixada por Lúcio Tomé Feteira à portuguesa com quem manteve um relacionamento por mais de três décadas.

Uma vez que Rosalina não terá deixado familiares directos e a Justiça só lhe atribuiu a sua parte da herança em Março deste ano - três meses depois de ser assassinada - , o dinheiro poderá reverter para o Estado. Independentemente do seu destino, a filha do empresário de Vieira de Leiria, Olímpia Feteira de Menezes, sublinha que "quem assumir a herança terá igualmente de assumir as dívidas". Isto porque Rosalina Ribeiro ter--se-á "apoderado" de dinheiro proveniente de contas bancárias de que era co-titular com Lúcio Tomé Feteira - pelo menos de nove milhões de euros depositados na Suíça, dos quais cinco milhões terão sido transferidos, segundo Olímpia, para o advogado de Rosalina e ex-deputado do PSD, Duarte Lima.

Cinco anos antes de morrer, Lúcio terá deixado um documento em que autorizava a ex--secretária a movimentar algumas contas. "Mas apenas para acorrer a uma situação de doença dele ou da esposa, Adelaide", acusa a filha do empresário. Comprovando-se que Rosalina movimentou "indevidamente" o dinheiro, a quantia terá de ser reposta. "Já para não falar dos prejuízos que tivemos e das custas judiciais, por exemplo, do pedido de união estável [que Rosalina requereu no Brasil e que lhe indeferido pela Justiça]", sublinha a engenheira.

Os dois testamentos têm beneficiários diferentes. Em jogo estarão bens como uma quinta no Algarve, dinheiro e apartamentos no Brasil e na Europa. Um dos herdeiros é afilhado de Rosalina, Armando de Carvalho, 55 anos, que, em declarações ao jornal brasileiro "Extra", garante ter sido "substituído" no testamento dias antes de a ex-secretária ter embarcado para o Brasil pela última vez, em Setembro do ano passado. "Fez um novo testamento, mas sempre me disse que eu era um filho para ela. Mudou tudo de repente e não sei porquê", revelou.

Os restantes beneficiários são os sobrinhos do ex-marido de Rosalina, Luís Ribeiro, também originário de Vieira de Leiria e com quem casou muito nova. "Começou como empregada em casa dele, depois tirou um curso de dactilografia e mais tarde de secretariado", recorda ao i Albano Feteira, sobrinho de Lúcio. Luís era mais velho e, antes de morrer, terá pedido ao empresário e amigo Tomé Feteira, para "dar trabalho a Rosalina", acrescenta. No entanto, "devido à pressão da família de Luís", o casal acabaria por se "separar judicialmente, apesar de continuarem a viver juntos" até à morte do ex-marido, como adiantou ao i Olímpia Feteira de Menezes. Agora, os sobrinhos de Luís Ribeiro poderão herdar, entre outros bens, uma quinta de 22 mil metros quadrados no Algarve, avaliada em três milhões de euros e apelidada de "Vivenda Brisamar".