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sexta-feira, 9 de abril de 2010

Na pretéria semana houve fumaça

Na pretérita semana, a da Páscoa, a única do ano em que o meu afilhado Luís Eduardo, um mimoso e viçoso rapaz na casa dos trinta e sete anitos ainda virgens, tem o seu assomo anual de memória a respeito da minha medíocre existência, lá se cumpriu uma vez mais a insalubre tradição de extorquir o dízimo ao padrinho. O asno, atributo que aproveitou por via genética da sua tia e minha ex-mulher, a azémola Cintinha de Jesus, veio como de costume ao Casal da Formiga, de forma desinteressada está-se mesmo a ver, ansioso por me esganar a carteira. A contra-gosto lá tive de me desfazer duma nota das gordas e dum folar de dois ovos que a vizinha Carminda simpaticamente me tinha oferecido, sem segundas intenções – “olhe que fui de propósito às Figueiras, ao Quintino, para lhe trazer este folarzinho, que é uma categoria”. Se a pobre senhora lhe sonha o fim, ainda tem um fulminante achaque. Justamente.
Mas, caros calhandreiros, não foi por certo para falar do asno, nem da azémola, que hoje vim a terreiro. Não. O que me fez verdadeiramente fazer saltar a carica na pretérita semana, foi o habitual, um recital de folclore pífio, nas barbas do agonizante Titanic. A pique. Pois justamente.
Na pretérita semana, no mesmo dia em que o Constâncio do Banco, de olho pisco e pinta de merceeiro, sacando do lápis preso atrás da orelha, revia em baixa, mais palmo menos dedo, a sua projecção para o desempenho da economia em 2010, prevendo agora um robusto crescimento de 0,4 por cento, ardilosa metáfora para nos revelar que se a coisa não acelera o FMI faz um intervalinho na Grécia, onde se encontra diligentemente a puxar o autoclismo, e num pulinho vem por aí abaixo limpar o cuzinho aos meninos, as modernaças têvês brindaram o povo sereno e porreirinho, em horário nobre, com uma generosa dose de cromos da bola. Fumaça, digo eu que me estou perfeitamente a cagar para o Vieira e para o Costa. Fumaça e ponto final, parágrafo!
Ao ritmo do tremoço e da cervejola, os popularuchos presidentes subiram ao ringue das audiências para espalharem magia e arrotos de gás carbónico. E o povo, esse indulgente juiz, rendido à epifania mandou a crise para trás das costas e continuou a discutir os túneis, os penaltis, o filho-da-puta do árbitro e outras tantas realidades que nos condicionam o dia-a-dia, enquanto os Mexias se entretêm a utarem-nos com vazelima esterelizada. Fumaça, digo eu – fumaça!
Mas, a verdade é que, há qualquer coisa de grave que está a acontecer e que eu não consigo explicar. Como por exemplo aquele diálogo surreal que mantive esta tarde com a Lurdes Rata, a minha mulher-a-dias, que há pergunta – então Lurdes, como está o teu marido? Continua desempregado? – respondeu indiferente – “ora, tudo na mesma, cada vez menos dinheiro na carteira e mais ralações. Mas olhe, pelo menos nunca o vi tão satisfeito, diz que este ano é que é!” – é que é o quê? – retorqui – “então não sabe? Este ano o Benfica vai ser campeão!” - rematou.
Não sei, não sei, não sei. A coisa está ficar cada vez mais complicada e as forças e o discernimento começam a faltar-me. Não sei se emigre ou se eremite, não sei. Se calhar... se calhar... acho que tive uma ideia: vou suscitar a inconstitucionalidade do Tratado de Zamora. Isso, isso, pode ser que pegue e que volte tudo à estaca zero.

8 comentários:

Anónimo disse...

verborreia..................

Anónimo disse...

Não sei bem porquê mas sempre que o Relaxoterapeuta nos brinda com um dos seus excelentes textos em geral cheios de conteudo, aparece sempre aqui alguem que a coberto do anonimato, (que a todos é permitido) com bitaites de caracter ofensivo. Será que a ignorância dá para isto? Ou será algum anti-corpo?

Anónimo disse...

Aplaudo o texto que pelo seu conteúdo me merece várias reflexões.
De facto existem milhares de homens e mulheres neste País,iguais ao marido da Lurdes Rata.
Eles são mais de 700 mil trabalhadores que estão no desemprego.O desemprego constitui um grave problema económico e social.Afecta a saúde e representa um risco de instabilidade pessoal e familiar e de exclusão social.
E o mais grave é que metade dos desempregados não têm subsidio de desemprego.
E muitos dos atingidos são adormecidos pelo sistema dominante que todos os dias nos entra pela casa dentro.O homem das Lurdes Rata mesmo que não queira é quase obrigado a falar do resultado do Benfica com o Liverpol,do árbitro,dos golos que não entraram e da possibilidade do Benfica ser campeão.Sim porque falar de desemprego é para os politicos e eles são todos iguais,desabafam
aqueles que estão interressados nesta conversa,para chegar ao sítio de sempre.Não merece a pena,estou desacreditado,não vou votar mais,eles querem todos é tacho...
NÂO é possivel uma vida melhor em Portugal.Inverter o rumo da politica nacional evitando de novo o recurso à emigração que muitos Portugueses estão infelizmente a recorrer.
Travar a politica de direita das últimas décadas,ao serviço dos grupos económicos e financeiros,que liquida o sector produtivo e acentua as injustiças sociais.

Frei Tomás disse...

Canta bem mas não me alegra. O certo é que enquanto não arranjou o tacho lá para os lados do matadouro não descansou. Bem pregas...

Acintoso disse...

O primeiro anónimo, que não sabemos se é de direita ou de esquerda, demonstra, inequivocamente, que o que é, é parvo...

O Frei Tomás deita-se a adivinhar e, de novo, nada traz.

Em suma, mais um excelente texto do Relaxoterapeuta que tem a grande virtude de por o dedo na ferida e de nos fazer reflectir... se nisso estivermos interessados, bem entendido.

Parabéns e, já agora, que o Relaxoterapeuta vá coligindo estes textos para os editar. Se tal acontecer e se forem bem enquadrados, darão um excelente livro. Se darão!...

Sancudo disse...

Ainda bem que há gente inteligente.E que sabe escrever.
Estou de acordo consigo, divergindo apenas numa coisa:
que se mantenha o Tratado de Zamora e que todo o povo emigre, à uma, para Tuy.
Condenemos os ladrões a "governarem-se!" entre eles.

Anónimo disse...

Parabéns Sérgio Bento!

curioso disse...

Quem é essa Sérgio Bento?