Desde pequenino que me habituei a ouvir dizer que tenho “maus fígados” e que sou rancoroso. É verdade, corroboro. Sobretudo quando a azia resulta daquilo a que o messiânico e multifacetado doutor do Abrupto, no seu superior estado de probidade um dia apelidou de “inveja social”. Nem mais! Sou compulsivamente um “invejoso social”, admito o vício! Pois por muito que tente não consigo esquecer os Mexias e quejandos, os que mamam as uvas e os que, ironicamente, mesmo tendo quota e feitoria na vinha, ficam de atalaia para confirmar se a uvas são mamadas até à grainha. Ao menos que nos deixassem “ir ao rabisco”, expressão utilizada pelo meu avô Serafim, quando no fim de uma jorna de vindima nos obrigava a passar a leira a pente fino, de cócoras, para apanharmos os preciosos baguitos que haviam caído. Mas nem isso - “está tudo congelado até novas ordens da administração!”. Punhetas duma figa!...
Ponhamos tudo em pratos limpos, de uma vez por todas: o que se passa nos privados não é coisa que me apoquente, são dores que não carrego. Agora quando nos toca a todos, aí sim, fico amofinado! Quando o Estado discute o quinhão com uns mas a outros estende-lhes graciosamente a teta engordando-os a leite e mel, até rebentarem a escala lipídica, aí sim, fico chateado, aborrecido mesmo, a-r-r-e-l-i-a-d-o, tal qual o Pinheiro de Azevedo quando foi sequestrado no parlamento. Desabafos…
Mas como em tudo na vida, há nesta descarada subtracção… perdão, nesta justa atribuição de “prémios de performance”, algo a reter, conclusões que os meus agastados neurónios vão arrumando na já atulhada prateleira dos insultos e dos ultrajes, ao ritmo do palavrório dos argumentadores e contra-argumentadores dos prós e dos contras. É que, ao contrário do que se possa pensar, o Portugal límbifero não é só paisagem meus caros, temos dos melhores gestores do mundo, uma raça autóctone de mamíferos que valem o que produzem, o que reproduzem e mais o que defecam, a peso d’ouro, upa, upa! Como diz o povo: “são poucos mas bons”! Mas coincidência das coincidências, geralmente esta fina-flor da estratégia, que saltita graciosamente de nenúfar em nenúfar, está à frente de empresas que, com o beneplácito do Estado, vivem da posição do missionário, subalternizando os tão defendidos e propalados valores liberais da sã concorrência e da mão invisível do mercado, que tudo estabiliza e que tudo regula, subjugando os consumidores a uma posição espúria de companhia de alterne, de usar e deitar fora, de “pagas e não bufas”. Mas há mais. Estas performances de mérito têm um único mentor e lugar-tenente – os gestores de topo – pois toda a maralha e camarilha que se lhes segue na pirâmide do organigrama, não pensa, não produz, não rentabiliza, não tem mérito. Nada! É por isso que essa casta de burros de carga, em vez que quinhoar nos ganhos, é “convidada” a fazer mais um furo na tira de couro que lhes cinge as calças, a bem da estabilidade e do futuro.
Confesso porém que há uma coisa que me intriga nisto tudo. Então e o topo da classe política, não protesta? Está tudo manso? É que comparados com estes gurus do lucro, os seus salários não passam de amendoins e de tremoços. Quer-se dizer, então os fulanos no topo da hierarquia do Estado, aqueles em que de tempos a tempos depositamos as nossas esperanças e a nossa confiança, vivem à míngua? Vivem da migalha e do rissol? Os tipos que meditam horas e horas a fio no PEC, na PAC, no OGE, na escolha dos gestores de topo a colocar no sítio certo, ganham um cinquenta avos dos seus subordinados? Dir-me-ão, é evidente que há aqui uma pequenina questão, que é a da p-e-r-f-o-r-m-a-n-c-e. Deixemo-nos de merdas: isso é apenas um pormenor... De uma coisa tenho a certeza, algo tem de mudar! - Cavaco, Sócrates, Ministros, Secretários de Estado, Deputados: o Relaxoterapeuta está convosco nesta luta! Força! Avancem sem medos! Exorto-vos a avançarem para a rua, por melhores salários, pela dignidade das vossas carreiras! Vamos fazer uma grande concentração em frente à sede da EDP e pedir a cabeça do Mexia. E não se preocupem com a logística, está tudo previsto: o Sérgio Moiteiro leva as bandeiras negras, o João Paulo leva o megafone e eu levo o curriculum. É que se o Mexia cair, alguém tem de o substituir, não é? E eu estou aqui com uma ideias para a EDP que acho que iam resultar. Qual é a dúvida? Pois se até o Artur de Oliveira chegou a vereador, porque é que eu não hei-de chegar a gestor milionário da EDP?