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sexta-feira, 11 de abril de 2008

minhas senhoras e meus senhores, é com um nó na garganta que vos apresento a Marinha Grande, ex-capital do vidro

4 comentários:

Anónimo disse...

Até doi!!...
Poderia pôr-me p'ráqui a teorizar sobre este dramático assunto, mas reconheço que não tenho qualquer receita (mágica ou sem ser!) para alterar este infeliz estado das coisas!

Mas sou de opinião de que algo deveria ser feito, pelos marinhenses e não só, para tentar ultrapassar esta negríssima situação!

Anónimo disse...

Infelizmente, este cenário era previsivel e começou a desenhar-se logo após a revolução de Abril.
Vítimas de um regime fascista que permitia a sugeição a condições de trabalho deploráveis, os trabalhadores vidreiros que eram representados por um sindicato fantoche de modelo corporativo, viram na alvorada de Abril uma réstea de esperança e agarraram-na com toda a força que a razão lhes conferia.
Era legítimo que assim fosse, para quem se viu, durante décadas, privado das liberdades individuais e dos mais elementares direitos cívicos e sociais.
Cabia aqui, à classe política e aos sindicatos, encontrar formas de mudar o quadro de relações laborais e melhorar as condições de trabalho e de remuneração dos operários vidreiros.
Grandes empresas do ramo da cristalaria, que se organizaram num modelo de produção de mão de obra intensiva, porque era barata e facilmente controlável pela repressão patronal protegida pelo estado fascista, deveriam ter sido progressivamente reformuladas, com a participação dos trabalhadores, através do seu Sindicato, do patronato e do Estado.
Parece fácil, agora, debitar opiniões sobre isto e sei, que ao fazê-lo, corro o risco de me adjectivarem de demagogo.
Apesar de tudo, acho que é indispensável que todos reflictamos sobre a realidade histórica em que fundou a Marinha Grande, e se consolidou ao longo de séculos, porque se o não fizermos, estaremos a deixar apagar memórias colectivas de que sempre nos orgulhámos e a cortar as raízes que nos prendem à terra e às tradições industriais, que nos tornaram conhecidos no Mundo.
Durante mais de 30 anos permitimos que a luta política se sobrepuzesse aos interesses da economia e das pessoas. Ninguém parece ter-se preocupado com as consequências do processo revolucionário, na justa medida em que, aparentemente, se colhiam benefícios políticos imediatos.
A militância e a necessidade de afirmação política, pela via da reivindicação permanente e da contestação organizada, impediram-nos de ver para além do número de militantes inscritos e do número de votos e de mandatos conquistados.
Perante as sucessivas crises do sector, em vez de introduzir reformas na gestão das empresas, o patronato e o Estado conformaram-se com as sucessivas injecções de dinheiros públicos, provenientes dos nossos impostos, que foram ardendo nos fornos que fundiam o vidro, sem nenhum resultado prático que não fosse o apagar os sucessivos focos de incêndio de falta de dinheiro para salários e subsídios.
Ninguém quiz abdicar de nada. Os sindicatos fizeram bandeiras das suas conquistas de melhores salários e de horários de 35 horas, e os trabalhadores, embalados no canto da sereia, pensaram que o seu futuro estava assegurado e se revelava risonho.
Quando a entrada de dinheiro do Estado cessou, porque não tinha suporte legal e violava as regras da concorrência, as empresas foram fechando, de forma inexorável, uma após outra e mais de 2000 postos de trabalho, preenchidos por profissionais que demoram anos a formar-se, perderam-se na voragem da luta pelo poder, em que o Sindicato, na minha opinião, tem graves responsabilidades.
Pouco resta da Capital do Vidro que nos habituámos a amar e era nosso motivo de orgulho.
Pelo andar da carruagem, mesmo em Alcobaça, já se começam a desenhar estratégias de contestação laboral organizada, que a curto prazo poderão fazer baixar a temperatura dos fornos ao ponto da não fusão e do previsivel arrefecimento fatídico.
Não sei se ainda estamos a tempo, mas penso que um último esforço deve ser feito. Gastaram-se milhões de euros com projectos de relançamento da indústria vidreira, quase todos assentes no pilar da qualidade e do design. Parecem ter-se esquecido, os artífices de tal estratégia, de que as empresas estavam financeiramente exauridas, alguns fornos a produzir sem qualidade e os responsáveis dessas empresas totalmente absorvidos com problemas de tesouraria de curto prazo, que lhes não deixavam, nem tempo, nem ânimo para se dedicarem a esses projectos.
Todo esse dinheiro consumido pela AIC e Vitrocristal se perderá se não for feito um esforço para concertar interesses.
Mais do que fazer greves para obter melhores salários, numa altura em que a globalização da economia permite a entrada de produtos semelhantes aos que produzimos, a muito mais baixo preço, com origem em países ditos comunistas em que se trabalha mais de 12 horas por dia, sem direito a férias e subsídio de Natal, importaria aceitar sentar-se à mesa, para renegociar e ceder, no limite do possível, para se conseguir manter os postos de trabalho. Parece óbvio, que em empresas que têm que consumir energia 24 horas podia, 365 dias por ano, quer produzam quer não gerem um cêntimo de receita, o horário de 35 horas é, nesta fase da economia, irrealista e incoerente com a crítica aos custos do gás, porque os desbaratamos.
Também não me parece justo, nem inteligente, que o Estado não intervenha no funcionamento de uma empresa que detem o monopólio do Gás Natural e da qual detem o capital, por forma a que, no mínimo, o preço do gás seja ao mesmo escalão e bonificado para todo o sector vidreiro, independentemente do consumo.
O Sector Vidreiro é estratégico, porque combina aspectos de identidade histórica da cristalaria com mais de um século com a alta tecnologia instalada no vidro automático e nas garrafeiras.
É um todo, que deveria merecer do Estado, um olhar especial, revelador de um pensamento estratégico novo, que olhe para a economia e veja para além dos números, procurando alcançar a Alma de um Povo que se revê na arte que aprendeu a criar.
Temos empresas fechadas, temos oficiais vidreiros no desemprego, temos nome no mercado, temos Marca.
Falta-nos Flexibilidade nas relações de trabalho para introduzir algumas mudanças, ainda que negociadas em função de resultados, com a gestão partilhada com os trabalhadores e falta-nos a vontade política para criar um tarifário único para o gás natural que nos deixe ser competitivos na produção.
Para além disto, também nos falta o que é mais importante. É a capacidade de liderança, de alguém ou de uma entidade, com legitimidade para reunir concensos e mobilizar um grupo de personalidades de inatacável prestígio e competência, de preferência ligadas ao vidro, como o Sr Manuel Gallo, Professor Pedro Barosa, entre muitos outros, porque estes funcionariam como cimento de uma solidariedade que tem que haver entre aqueles que falam a linguagem do sector vidreiro, quer seja automático quer seja manual.

Anónimo disse...

Não posso deixar de estar de acordo com muito do que diz o Vinagrete.
Mas a realidade, infelizmente, é muito dura. Se não, vejamos: quem no sindicato estaria à altura de uma tal tarefa?
Que ministro da economia teria a abertura suficiente para o apoio que se necessita? Este? duvido... praticamente ainda não lhe ouvi uma ideia coerente que consubstancie uma filosofia de apoio às PME!...
Os nossos 'industriais? Cádêles?
Os vidreiros? Não será que deixaram (muitos deles…) que se lhes lavassem os cérebros e os formatassem à medida de filosofias proletárias do século passado?
São, de facto, muitas as interrogações para as quais não consigo atinar com quaisquer respostas com substrato!
E é pena, pois a nossa Marinha Grande está a ficar preocupantemente descaracterizada!

Anónimo disse...

Cuidado que o Socrates ainda vem dizer que isto é tudo mentira!!!