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quinta-feira, 11 de março de 2010

O PEC(ADO)

Não resisto à tentação de trazer ao Largo o texto do Ricardo Araújo Pereira publicado hoje na revista Visão. Sem espinhas…


O PEC peca por parco

"É irónico que os problemas económicos possam ser responsáveis pelas maiores desigualdades sociais mas que a economia, enquanto ciência, seja tão igualitária. Alguns dos maiores especialistas em economia previram tanto como eu o aparecimento da crise. A economia tem essa característica fascinante: por muito que alguém se dedique a estudá-la, aparentemente continua a ser um leigo. Um grande administrador tem tanta dificuldade em evitar a calamitosa falência de um banco como um merceeiro versado apenas em contas de somar. Por isso, é com a consciência invulgarmente tranquila que me dedico à análise económica: na pior das hipóteses, os meus comentários farão tão pouco sentido como os de um professor de economia. Quando o governo propôs o Programa de Estabilidade e Crescimento, a minha primeira impressão foi a de que o PEC tinha um E a mais. Duvido de que a nossa economia precise da ajuda de um programa para estabilizar, uma vez que se encontra estável (no sentido em que um paciente em estado comatoso se mantém estável) há muitos anos. As críticas de alguma oposição parecem-me ainda menos pertinentes. É falso que o Programa de Estabilidade e Crescimento obrigue uma parte significativa dos portugueses a apertar o cinto. E é falso sobretudo na medida em que aquilo que os portugueses têm à cintura já não é um cinto há algum tempo: é um garrote. O que vai ser preciso apertar agora é o garrote.

O grande raciocínio que sustenta a actual estratégia económica é importado da caça: o importante é não afugentar. Não convém taxar os lucros dos bancos e das grandes empresas para não afugentar o investimento. É desaconselhável taxar as transacções da bolsa para não afugentar o capital. Quem sobra? Os trabalhadores - que, além de serem muitos, são gente que não se deixa afugentar, porque precisa mesmo do emprego. Um trabalhador por conta de outrem trabalha, na verdade, por conta de dois, digamos, outrens: por conta do empregador e por conta do Estado. São os trabalhadores, e não as empresas e os bancos, os grandes "criadores de riqueza". Criam a riqueza dos patrões e a do Estado, que depois toma essa parte da riqueza e a devolve às empresas e aos bancos, sob a forma de nacionalização do que der prejuízo e privatização do que der lucro. Nota-se muito que estou a assobiar a Internacional enquanto escrevo isto?

A política fiscal é igualmente clara: as pessoas que ganham menos do que eu pagam menos impostos do que eu; a generalidade das que ganham mais também paga menos impostos do que eu. O governo alega que irá aumentar a taxa de impostos a quem ganha mais de 150 mil euros por ano, o que seria uma excelente medida, mas não é exactamente verdadeiro. O governo vai aumentar a taxa de impostos a quem declara mais de 150 mil euros por ano, o que é ligeiramente diferente. Não há assim tantos contribuintes nessas condições.


Resta a consolação de constatar que o congelamento dos salários dos funcionários públicos não é uma medida assim tão áspera. Os salários, a bem dizer, têm estado no frigorífico. Não vão propriamente sofrer um choque térmico."


1 comentário:

Anónimo disse...

O PEC não é nada que não tenhamos vindo a sentir ao longo dos anos com estas politicas neoliberais impostas pelo ditames do grande capital.Hoje na expressão mais moderna,denominada PEC.É no fundo a repetição das velhas e agora agravadas receitas para os mesmos de sempre,com congelamento de salários,destruição do emprego,imposição do aumemto da idade da reforma na Admnistração publica,novos cortes nas prestações sociais,desigadamente no subsidio de desemprego.Aumento dos preços com o anuncio de introdução de novas portagens.Limitação das deduções à colecta no IRS com despesas de saude e educação,traduzindo-se num aumento de impostos para milhares de Portugueses de baixo rendimentos.
Este PEC que este governo apresenta,com o apoio do PSD e CDS/PP penaliza os mesmos de sempre:trabalhadores,reformados,pequenas e médias empresas,os sectores produtivos e servciços públicos essenciais,na saude e educação.
Ao lado de tudo isto passam os grupos económicos,que esfregam as mãos de contentes,na medida em que continuam a arrecadar chorudos lucros,como foi o exemplo da banca em 2209 com cerca de 5 milhões de euros por dia e da EDP que voltou a atingir mais de mil milhões de lucros no ano passado.
Não queremos um País parado ou a andar para tráz .O que foi apresentado pelo Governo é uma verdadeira certidão de óbito ao desenvolvimento do nosso país.
É a resignação do brio patriótico,que conduzirá o nosso País e o nosso Povo à completa subordinação ao directório das grandes potencias europeias.

Assim não...O 25 de Abril merecia melhor.