(uma grande entrevista com a assinatura da Mulher Bidón, repórter encartada que utiliza com grande segurança e propriedade o plural majestático)
O local (secreto) da entrevista foi previamente indicado pelo Largo das Calhandreiras num mapa dissimulado dentro duma edição amarrotada do Jornal do Tózé, estrategicamente escondido num caixote do lixo junto ao Centro de Trabalho do PêCê. Ironias.
Há hora marcada lá estávamos de gravador em punho e com muitas perguntas para fazer. Despidos de preconceitos avançámos para a desejada entrevista, de robe de cetim, fio dental, algemas e chicote, que é como quem diz, preparados para uma entrevista a doer.
Fomos recebidos de forma pouco esfuziante por cinco pessoas encapuçadas, a quais manifestavam evidentes sinais de nervosismo – duas delas fumavam compulsivamente, uma roía o sabugo, outra coçava com entusiasmo a virilha direita e a sexta fazia rodar sobre o indicador uma caçadora de canos cerrados, enquanto despachava uma garrafa de Licor Beirão com gelo. Não seria caso para menos, finalmente estavam diante de nós e nós estávamos diante deles para arrasar.
Mulher Bidón (MB) – Afinal, quantos são? Quantos são?
Gerência do Largo das Calhandreiras (GLC) – Com a senhora da limpeza e com um senhor já reformado que metemos a meio tempo para ir aos bancos, é coisa p’ra nove, dez pessoas no máximo, uma estrutura comum à maioria das pequenas e médias empresas. Isto sem contar com os infiltrados.
MB – Têm infiltrados? Onde?
GLC – Humm... em pontos estratégicos.
MB – Quais?
GLC – Bem não podemos revelar detalhes mas, digamos, em sítios importantes.
MB – Como por exemplo...
GLC – Bom, isso não é relevante mas…, bom… talvez possamos adiantar alguns. Temos gente infiltrada na Confraria das Sopas de Bacalhau, na sala de espera do Posto Médico, no cabeleireiro Peruca Dourada, na sede do Camarnal, no restaurante Regional Minhoca ... e... ficamos por aqui.
MB – E nos partidos?
GLC – Não comentamos. Hoje em dia toda a gente recorre a infiltrados.
MB – Como surgiu o Largo das Calhandreiras?
GLC – Numa noite de nevoeiro, após um concerto do José Cid na Garcia em que ficámos a saber que El-Rei D. Sebastião se recusava a voltar, incompatibilizado com o Artur Autocolante.
MB – Quem teve a ideia?
GLC – A camarada Gina Ecologista. Ela na altura tinha acabado uma relação complicada com um sindicalista dos TSD’s e como estava emocionalmente debilitada sentiu necessidade de desabafar com alguém. Recorreu à Alexandra Solnado que a pôs a falar com o senhor.
MB – Com Deus?
GLC – Não com o senhor da informática que lhe explicou como fazer um blogue.
MB – Essa história parece-me muito mal contada. Então mas este não é um blog político?
GLC – Não só, mas também. Para além da política também temos os atoalhados, os jogos de banho, as miudezas, alguns produtos de drogaria e de higiene pessoal. Em breve vamos lançar o Sudoku para Autarcas e um compacto de anedotas do Fernando Rocha sobre o Artur Autocolante.
MB – Continua a fugir à pergunta. Então mas este blog tem ou não motivações políticas?
GLC – Claro que sim. Sobretudo se pensarmos que ele representa uma outra visão das coisas, o lado do avesso. É como as peúgas. Se repararmos com atenção há muito boa gente que sob um elegante fato Sonho da Moda e uns sapatos chiques da Fernandita Sapataria’s, anda com as meias do avesso e às vezes até mesmo rotas.
MB - Mas são um blog independente?
GLC – Não, não somos independentes. Aliás, na verdade a independência é como a virgindade, é só até à puberdade. Mal as hormonas começam aos saltos lá se vai a independência. A nossa dependência é total e absoluta.
MB – Confirmam então que estão dependentes dum partido político?
GLC – Não podemos ser redutores. Nós trabalhamos à peça, de acordo com as solicitações do mercado. Na verdade não dependemos dum partido, dependemos de vários partidos. Basta que se ponham a jeito.
MB – Mas quem é que vos financia?
GLC – Fazemos rifas, temos uma banca com o jogo do ratinho na festa da Ordem e também temos alguns mecenas, gente como por exemplo o EL-Rei D. Sebastião que se incompatibilizou com o Artur Autocolante, e que nos pagam para dizer-mos mal.
MB – Há uma pergunta, entre muitas, a que nunca responderam, porque que é que não “dão a cara”?
GLC – É simples, porque somos uma sociedade anónima e as sociedades anónimas não têm rosto, só têm capital. Se fossemos uma sociedade por quotas, tá bem. Mas não somos.
MB – Desculpe, mas não percebi…
GLC – É natural, há muita gente que ainda não percebeu! As ideias não dependem de quem as tem, dependem da coerência com que são formuladas e do contexto estratégico em que são produzidas. Profundo não é? Não me diga que também não percebeu? Experimente ler qualquer coisa do camarada Cassete Zé Luís, vai dar quase ao mesmo, o mais certo é também não perceber.
MB - Numa frase como definiriam este blog?
GLC – A brincar, a brincar, divertimos o macaco e a mãe.
MB – Acham que se pode brincar com assuntos sérios?
GLC – Não.
MB – Então porque o fazem?
GLC – Para entreter, exclusivamente. Porque a Marinha, excluindo as revistas à portuguesa do Império e os escritos do Arrenesto Silva, é deficitária em «produtos para rir» (lícitos) de qualidade. Tentamos por isso servir um produto com valor acrescentado, rico em bífidos activos e aloé vera.
MB – Mas assim nunca vos vão levar a sério.
GLC – Nem queremos. No dia em que isso acontecer é porque deixámos de ser competentes ou então porque quem manda o passou a ser. Rir não resolve nada mas faz bem à circulação e estimula a consciência crítica. É como as meias do avesso que para além de estarem do avesso também cheiram a cholé.
MB – Como alguém disse, o Largo das Calhandreiras é o “Contra Informação” da Marinha?
GLC – Não, absolutamente. Isso seria o mesmo que comparar o Machester United com o Estrela do Mar (com todo o respeito pelo Manchester). Nós somos um blogue dos Distritais, embora pretensioso. Digamos que somos uma espécie de El-Rei D. Sebastião, o que se incompatibilizou com o Artur Autocolante, mas em versão primavera/verão.
MB - Quais são as vossas verdadeiras intenções?
GLC – As melhores. O nosso sonho era comprar o centro histórico, arrasar tudo e instalar três barracas gigantes a concessionar a uma grande superfície. Passávamos os Paços do Concelho para um contentor no Largo Ilídio de Carvalho e enviávamos os comerciantes do centro histórico para a China, a fim de receberem formação profissional.
MB – Fora de brincadeiras…
GLC – Tomar o poder! Sim, é isso, tomar o poder, porque não?! Distribuir gomas e chocolates às pessoas, acabar com a publicidade nas árvores, comprar um golfinho para o lago do Parque dos Mártires da Contaminação e pedir à ASAE para vir fechar o mercado da Ivima, já que as autoridades locais não conseguem. Tomar o poder é um sonho que nos persegue constantemente, até porque parece que não se ganha nada mal, não é João Baião?
MB - E até onde estão dispostos a ir?
GLC – Até onde estamos dispostos a ir? Boa pergunta. Até à porta da Câmara, vamos a bem. Daí p’ra dentro só à bruta. Se for preciso pegamos em armas de destruição em massa, trituradoras, varinhas mágicas e essas coisas perigosas para a humanidade. E contamos com o apoio de El-Rei D. Sebastião, o que se incompatibilizou com o Artur Autocolante.
MB – Qual é a missão do vosso blog?
GLC – Serviço público! Sem dúvida. As pessoas andam chateadas, deprimidas, tristes, com o patrão, com a família, com o partido, e então vêm aqui, desabafam um bocadinho e ficam aliviadas - a caixa dos bitaites é uma espécie de consultório anti-stress. E de vez em quando também se riem com algumas parvoíces que dizemos. Elas não nos dizem isto, mas nós sentimos que é assim.
MB - O que pensam do actual estado da Marinha?
GLC – Anémico!
MB – Mas acham que a Marinha tem futuro?
GLC – A Marinha tem gente de muita qualidade. É como o comércio, mas ao contrário.
MB – O que é que isso quer dizer?
GLC – Que o futuro depende dessa gente com qualidade. E da Feira do Levante, obviamente.
MB – Mas essa gente está dentro ou fora dos partidos?
GLC – Essa gente está sobretudo em casa a ver a O Preço Certo, com o Sr. Fernando Mendes, e a chupar pastilhas para os nervos.
MB – Acham então que as pessoas se acomodaram?
GLC – As pessoas têm é de orientar os nervos para fora do sofá, tal como fez El-Rei D. Sebastião, o que se incompatibilizou com o Artur Autocolante. Mas isto é muito culpa das médias superfícies que arrasaram com o comércio tradicional e que começaram a vender fatos de treino ao desbarato. Aos domingos e feriados a malta veste o fato de treino, vai às compras e depois não tem tempo para ser cidadão, para votar, para pensar no futuro, para ter consciência política, para ter consciência crítica, essas coisas chatas. Olhe, razão tem o Tózé Berlusconi e o outro, o Piriquito, a política é para os políticos e o que temos é de estar ao lado dos interesses da população, como sempre estivemos!
MB – Mas o que é que isso quer dizer?
GLC – Também não sabemos, mas parece-nos bem. Essa coisa do “interesse das populações” é uma espécie de aspirina, dá para tudo, não é?
MB – Como assim?
GLC – Olhe por exemplo, se perguntar a dez pessoas com fome se querem comer, elas dizem todas que sim, mas se perguntar o que é que cada uma quer comer, umas vão dizer que querem peixe, outras que querem carne e há sempre um parvo que quer uma feijoada de tofu. É como ir ao Pêro Neto partindo do centro da Marinha, há gajos que gostam de ir pela Embra e há gajos que gostam de ir pelas Trutas.
MB – Então mas as pessoas não podem comer o que quiserem?
GLC – Claro que podem, o Zézé por exemplo é boa boca. Já El-Rei D. Sebastião, o que se incompatibilizou com o Artur Autocolante, é um bocadinho esquisito, tem de ser tudo bem passado. Também já não é novo, não é? É como o Autocolante...
MB – O que pensam do anterior presidente da cambra?
GLC – Tem barbas.
MB – E o actual?
GLC – Também tem barbas.
MB – Como gostariam que fosse o próximo presidente?
GLC – Sem barbas e lavadinho.
MB – Mas estão a sugerir que temos um presidente que não se lava?
GLC – De todo. Não foi isso que quisemos dizer, até porque ele passa o tempo a lavar as mãos.
MB – Mas o novo presidente tem ou não legitimidade para exercer o cargo?
GLC – Toda a legitimidade democrática! Cumpriu-se a lei! Inatacável!
MB – E legitimidade política?
GLC – Terá de perguntar às pessoas e ao partido que armaram toda esta confusão. A política é acima de tudo um exercício de consciência e de respeito.
MB – Então concordam com a substituição mas não concordam com a forma, é isso?
GLC – A substituição é um problema do PêCê e que ele próprio tem de explicar aos eleitores porque que é que concorreu há dois com um candidato meia-dose. Até porque no essencial nada muda. Quantas vezes João Barbas e o partido não estiveram de acordo ao longo destes dois anos? Apenas uma “e vocês sabem do que é que eu estou a falar”. Quanto à forma, está à vista. No comments! Já alguém respondeu à carta de suspensão do João Barbas? Há velhos hábitos que não se perdem…
MB – Há na vossa interpretação destes factos alguma reserva mental em relação ao PêCê, algum preconceito primário do tipo “os comunas comem crianças ao pequeno almoço”?
GLC – Não nada disso! No PêCê há gente séria e menos séria, como em todo o lado. Agora não podem é querer passar a ideia de que são mais sérios do que os sérios e do que os menos sérios. Sejamos sérios, é evidente que já não comem crianças ao pequeno-almoço, até porque as crianças, como é sabido, têm muito colesterol e os comunistas também ganharam hábitos burgueses e começaram a cuidar mais da sua alimentação. Aliás, tal como El-Rei D. Sebastião, o que se incompatibilizou com o Artur Autocolante, que era para ter ido para Alcácer do Sal, mas por indicação do médico, por causa da tensão alta, foi parar a Alcácer Quibir com os resultados que se conhecem.
MB – Se pudessem chegar à fala com o actual presidente que sugestão lhe fariam?
GLC – Pedíamos-lhe para resolver o problema do “Beco das Cidades Germinadas”, o qual se arrasta vai para mais de seis meses, e sem solução à vista. O beco continua sem placa e quem chega à Marinha vê-se aflito para dar com ele. Penso que da parte dos carteiros também já houve reclamações.
MB – Para terminar algumas perguntas para respostas rápidas. Quem gostariam que escrevesse no vosso blog?
GLC – O Eduardo Lino de Rãs.
MB – Quem manda na Marinha?
GLC – O jovem Cassete Filipe Andrade.
MB – E nos arredores da Marinha?
GLC – O Alta Tensão?
MB – Qual a melhor decisão deste executivo?
GLC – Mandar pintar a fachada do Teatro Stephens.
MB- Até que idade é que se é jovem na Marinha?
GLC – A juventude não depende da idade, depende do peso.
MB – Quem gostariam de ver no concurso “Sabe mais do que um miúdo de 10 anos?”
GLC – O Tozé Berlusconi.
MB – E na Família Superstar?
GLC – A família João Pedrosa da Vieira, os primos Baião e Barbas.
MB – Quais os protagonistas que escolheriam para um filme melodramático?
GLC – Cassete Cascalho e João Barbas Duarte.
MB – E para um filme de acção?
GLC – Luis Guerrilha.
MB – Quem escolheriam para escrever um poema de amor à lua.
GLC – O Saúl Traineira.
MB – Em quem votariam já para presidir à cambra?
GLC – Monsieur Piriquite.
MB – Obrigados.
GLC – De nada.
MB – Já agora, porque é que El-Rei D. Sebastião se incompatibilizou com o Artur Autocolante?
GLC – Porque o Autocolante lhe usurpou o lugar e El-Rei não lhe perdoa! Ainda por cima com o apoio incondicional do povo, que o adora! Esse D. Sebastião saiu cá um ciumento!...