Abriu a caça à perdiz e a outras galiformes, sob o olhar complacente e incapaz das aves rabudas, mais preocupadas em não perder de vista os cucos que lhes querem subtrair os ninhos e os feitos que rendem petauro.
Abandonemos a hermética e sibilina linguagem dos ornitólogos diplomados, só ao alcance dos papáveis de crista escarlate, e troquemos por miúdos a cifra. Comitentes, regedor e demais asseclas, o clube das sextas-à-noite, decidiram por unanimidade e aclamação descer às profundezas da urbe para uma operação de charme, para prestar contas, boas contas, sentir o pulsar do povo que em si confiou e de si desconfia. Vão distribuir em bardas doses, atenção, pluralismo e humildade democrática, dizem. Despem-se os jaquetões e as camisas maoistas, dão-se lugar às humildes calças de zuarte e ao estame cinza das camisas da boca do forno, para que o povo sinta o cheiro da sudação que emerge das decisões difíceis, do trabalho árduo dos que têm a espinhosa e molesta tarefa de arquitectar o nosso porvir, da vida dura e cruel dos gabinetes. Despojados de todos os símbolos e tiques aburguesados, apoiados num dissimulado e roufenho megafone, urdido por conveniência em folha de papel-jornal, partem em missão estrada fora percorrendo em comitiva de matineiros e por várias semanas, azinhagas e áleas, lugarejos e povoados, pedindo ao povo que soluce os seus lamentos em ombro amigo, pedindo ao povo compreensão para as dificuldades herdadas de outros órfãos. Vê dona Efigénia, finalmente alguém que lhe presta atenção, alguém que a ouve e que lhe vai tapar o buraco, desentupir a sarjeta, colocar o contentor dez metros mais para a esquerda, calcetar o meio-metro que falta do portão até ao passeio, alguém que a compreende, que vai tomar boa nota e em devida conta todos os seus problemas. Pois que gerir um município também é isto, D. Efigénia, à pois é! Mas, e o resto? Os planos quinqui-catrapinqui-anuais? Os big-mega-projectos? A complicada planificação urbana? Os transportes? As germinações? O relacionamento estratégico com os povos irmãos da revolução? Felizmente que há alguém que não vai à rambóia e que fica para arrumar a casa.
Dividindo um dia de labor esgotante entre o pó do gabinete e o pó da rua, há um pilar da estabilidade, um visionário diligente que zela para que os herdeiros da sua resplandecente clarividência, concluam em obra o que imaginou legar ao futuro. Mas cautela Oliveira, cautela. Nem todos compreendem o valor e o alcance do teu meritório trabalho. Lá dizia o gazeteiro, trabalhar muito pode não ser sinónimo de trabalhar bem. Sinais…
Mas para quem como eu herdou da bisavó paterna inatos dotes de adivinhação, há mais sinais, sinais que não colhem logro e que desvendam o termo mais que próximo do teu prestimoso contributo para a história da coligação. Sinais como aquela mise-en-scène em que o maioral da corporação dos fregueses levantou fervura de modo inopinado. Em que abespinhado, exasperado, na presença da Mendes Pinto do reino, vociferou contra a destruição do mítico e idílico Lavadouro do Olho, atirando-se a ti como gato a bofe, dando o mote para que o xerife apaziguador executasse com mestria mais um dos seus magníficos passes de mágica. E logo ali se gizou a intrincada resolução para o não menos intrincado problema: uma réplica à escala natural daquela obra-prima que Lopes Vieira apenas não exaltou por falta de tempo. Acho a ideia bonita e o sinal inequívoco, por isso: cautela Oliveira, cautela…
Aviso: se passarem ao Casal da Formiga, não ousem desafiar a minha paciência que vos solto o temível Tarzan, pois que apesar de rafeiro, tem alma de guerreiro e dente afiado. É que se me acabaram os calmantes e já estou pelos cabelos com choramingas a baterem-me à porta. Já bem bastam as testemunhas do Senhor, todos os sábados à tarde.
3 comentários:
Só o próprio é que ainda não percebeu a estratégia "vermelha".
Fraquinho, fraquinho .......
Caro anónimo, por favor clarifique lá este seu "Fraquinho, fraquinho... ..."
Fiquei sem entender se fraquinho é o texto ou o todo que é a acção nele retratada!
Se for o texto... pois bem, já vi o Relaxoterapeuta fazer melhor. Mas este texto não é tão fraquinho assim. E olhe que, pelo menos substância tem, e muita!
Se for a estratégia 'vermelha', classificá-la de 'fraquinha' é pouco, já que os resultados que dela se possam esperar, poderão contemplar fragilidades sentidas por alguns fregueses, mas compromete, por omissão, a vida de toda a colectividade!
Quanto ao Relaxoterapeuta duas coisas se me oferecem: O manifestar-lhe sincero aplauso pelo texto; e pedir-lhe para que ele não deixe o temível Tarzan ladrar. É que é preciso mantê-lo fora do contexto do tal ditado, para o arrimar às canelas não só das testemunhas do Senhor, mas também, e sobretudo, de uns certos vendilhões do Templo que por aí adejam...
Digamos que esta "nova" técnica é uma espécie de "estudo de mercado". Como já verificaram que a incompetência não se esconde com os belos discursos do Presidente nem com os dotes musico-humorísticos do Topo Giggio Monteirovsky, vai daí ouve-se a população a tempos de se lhe passar a graxazinha da praxe. Resta ver o que fazem depois... Ainda espero por um rasgo de "engenho e arte" que permita fazer avançar esta cidade parada há anos...
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