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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

O Regresso do Desejado

Estava-se por alturas do centenário do regicídio, nem a despropósito, quando o magnânimo epistológrafo desibernou do recato auto-infligido, táctico, para dar esplendor, brilho e cor à desluzida gazeta das verdades incontidas, ao periódico que marca os tempos urbanos da abundância e do pousio intelectual, equipado com estatuto cadimo cuidadosamente esboçado em papiro coçado, vocacionado que foi por despacho e ajuste directo para acolher os mais nobres desígnios da informação do burgo, paradigma dos media take-away - “escreva, nós publicamos”. Nunca subestimando camaradas, nunca subestimando! Quem já “mandou abaixo” um alcaide de má memória, pode muito bem rescrever a história, pode muito bem surpreender os negligentes napeiros com um qualquer número artístico, com um passe de mágica fabuloso, subtraindo a uma vulgar cartola de amolador de tesouras um coelhinho catita, já guisado de preferência, ou então uma pomba branca, da paz, ligeiramente alimada e estufada a vapores de conhaque. A mensagem é clara e concisa: o tempo é de reconciliação e de desarrufo. Rei morto, rei posto.
Mas a reentre foi feita com modos, conduzida por mordomo entronizado, peneirada em tira de editorial laudatório a atravessar o tempo e o espaço, revelando a verdadeira identidade salvífica do desejado o qual, apesar de ausente, na verdade nunca o esteve, pois a sua magna opinião permaneceu sempre ali, implícita no espírito da gazeta, impregnada na textura do papel-jornal, entranhada nos elementos químicos da tinta da rotativa. Talvez por isso nunca nos tenhamos sentido órfãos, que para isso já bastou o da pesada herança...
Mas caros amigos, o que vos posso afiançar é que o intróito foi de tal forma punjente, penetrante e apelativo que comecei a sentir as glândolas salivares a entrarem em ebulição enquanto se apoderava de mim um voraz e incontido apetite de voltar a ler o mestre das frases de cortar a respiração. Contas feitas, as saudades já eram muitas. Muitas mesmos. Maiores do que o arco do tempo que o subtil silêncio durou, o curto reinado do jubilado Meio-Mandato.
E foi assim, de guardanapo entalado no colarinho e talheres de casquinha, convenientemente aparelhado para a exigente exegese, que ataquei de forma generosa e de peito aberto o texto do regresso, servido após a guarnição em apenas quarto de página. Na esperança de saciar a galga, de beber nas palavras acertivas o sentido dum novo rumo, na esperança de me lambuzar com arquétipos gizados com visão, ricos em hidratos de carbono, vitaminas, proteínas e sais minerais, atirei-me ao dito como gato a bofe.
Desilusão... d-e-s-i-l-u-s-ã-o… “não foi nada disto que pedi”, atirei com aziúme ao chefe de mesa.
Ao invés do esperado, apenas a insipiência da quadratura do círculo, o mesmo discurso de sempre, sectário, empedernido, moralista, redondinho, o discurso do “nós é que interpretamos a verdadeira essência da democracia”, do “nós é sabemos evocar os heróis e os mártires da liberdade”, do “nós é que representamos verdadeiramente as legítimas aspirações do povo”. A descuidada confecção e a falta de mão para os temperos, deitaram tudo a perder. A banha e o sal em demasia fizeram logo disparar a minha volátil tensão arterial, frustrando por completo as justificadas esperanças depositadas na lauda refeição prometida pelo chefe de mesa que me desvendou e aconselhou os segredos do cardápio. E eu a pensar que o desejado ia analisar as causas duma primeira parte de mandato medíocre, que ia discorrer sobre os projectos e as prioridades para a segunda parte, que ia insuflar um sopro de confiança na nova equipa, um sopro de esperança em nós cidadãos, nos agentes culturais, associativos, económicos, que ia enunciar as principais directrizes duma política cultural consequente, duma política para a juventude coerente, duma política associativa racional, duma política para a terceira idade generosa, que ia explicar a identidade estratégica entre os partidos do poder, que ia explicar duma vez por todas como é que conseguem coabitar com um parceiro que cada vez mais se representa apenas e tão só a si próprio, ignorando o partido que o fez eleger e reclamando para o seu próprio partido um desígnio colectivo, muito acima de pessoas e nomes. Em que ficamos camaradas?
Começo a ficar farto de tanta falta clarividência, de sentido crítico, de sentido de Estado, de ausência de razão. Para mim, basta.
Antes que as forças me faltem e a moral me murche, acho que vou encabeçar um movimento de cisma, de autodeterminação. É chegada a hora de dar um murro na mesa: Casal da Formiga a Concelho! Já!

5 comentários:

Anónimo disse...

muita parra pouca uva...

Anónimo disse...

Caro Relaxoterapeuta,
Vª Exª já parece aqueles articulistas do jornal do Berlusconi, tipo Traineiras, Ferrabraz, Guerrilhas, Arnestus, Comunicados do ACM, etc (que ninguém deve ler)
Seja sucinto e deixe-se de armar em Premio Nobel da Literatura.
Só de olhar o tamanho do texto fiquei com cólicas. Depois de tentar ler fiquei acamado!
Make "bocas" not verborreia.
Ciao

Anónimo disse...

Estes anónimos fazem-me citar o Marquês de Pombal já no exílio: "E era disto que eu queria fazer gente..."
Ou então: "Pérolas a porcos"

Anónimo disse...

Nem mais Ti nini...a pobreza de espirito e a falta de cultura...confundem-se nestes bitaiteiros sem nivel...mas não me posso enervar que me sobe a tensão.

Anónimo disse...

Sempre vai p'ráqui uma incoltura! Haja deuses...
Ao anónimo das 4:05 PM só tenho a dizer: Olhe meu caro... cure-se!