Centros da Marinha Grande e de Coimbra foram assaltados várias vezes desde Abril. Técnicos do IDT dizem que negligência no acompanhamento dos utentes continua e tráfico também.
Os assaltos aos centros de atendimento de toxicodependentes (CAT), para roubo de metadona e dinheiro sucedem-se, fomentando o tráfico daquela substância nas ruas. Só nos últimos dois meses, o CAT da Marinha Grande foi assaltado várias vezes, segundo o DN apurou. Mas também o centro de Coimbra voltou a ser alvo de um assalto esta semana, com os assaltantes a só conseguiram levar dali dinheiro, num total de 200 euros.
Aqueles casos somam-se a outros já reportados pelo DN, como o verificado há cerca de um ano, no centro de atendimento de Leiria, que sofreu um assalto à mão armada por um indivíduo encapuzado, que roubou um frasco de três litros de metadona, o suficiente para fornecer os doentes de um centro durante um mês. Ou os casos de tráfico de comprimidos Subutex nas ruas de várias zonas do País.
A manutenção destas situações leva técnicos de vários CAT ouvidos pelo DN a afirmar que "apesar das denúncias feitas no ano passado - quer dos roubos quer da falta de rigor na prescrição da Buprenorfina (substância que substitui a heroína) - nada mudou no funcionamento dos centros" sob a alçada do Instituto da Droga e da Toxicodependência". Ou seja, "continua a fornecer-se metadona ou a passar-se receitas de Buprenorfina aos doentes sem que lhes sejam feitos os testes de despistagem de consumo de drogas, que são obrigatórios no nosso protocolo", disse ao DN um médico, que trabalha CAT.
Na maioria das vezes, o roubo da metadona (utilizada como medicamento de substituição da heroína) visa o seu tráfico para a obtenção de dinheiro. Mas esta não é a única via utilizada. Às vezes são os próprios médicos dos centros que, indirectamente, fomentam o tráfico, através da prescrição irregular da Buprenorfina, segundo disseram ao DN fontes de alguns centros de atendimento. E é assim que um comprimido de Subutex (o nome comercial da substância) acaba por ser vendido nas ruas por 15 euros, valor de uma caixa inteira de comprimidos.
Questionado pelo DN, o presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência, João Goulão admitiu ter tomado conhecimento de "alguns incidentes com toxicodepen- dentes na Marinha Grande", mas desvalorizou a relevância dos episódios, que diz não conhecer em detalhe. Aquando da denúncia feita pelo DN, em Outubro de 2008, da existência de casos de médicos que passavam receitas a doentes sem os verem - violando o protoco- lo que prevê consultas e exames semanais aos doentes - João Goulão disse ter dado orientações aos serviços para reforçarem o rigor. Contactado ontem, o responsável pelo plano de combate à droga e toxicodependência em Portugal reafirma aquelas orientações. "Recentemente não tenho tomado conhecimento de um agravamento dos assaltos aos CAT", disse. "É preciso não esquecer que estamos a lidar com um universo de utentes problemático e, hoje em dia, a segurança até é muito maior do que a que existia nos anos 90, pois os centros têm protecção e seguranças, o que na altura nem existia."
Embora arredado da agenda mediática, o problema do consumo e do tráfico de droga não só está por detrás de uma parte significativa da pequena criminalidade, como preocupa mais os portugueses do se possa pensar. Segundo um estudo elaborado pela Universidade Católica, de 2007, quase 84% dos portugueses consideravam que a toxicodependência tinha aumentado nos últimos quatro anos, com 67% a apontarem uma relação crescente entre a droga e a criminalidade.
(surripiado do DN)
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