Mas como uma tragédia nunca vem só, à confusão do conceito, e da praxis, para ajudar à festa junta-se uma invetiva dos fazedores de ciência política, cabotinos zarolhos, seus derivados e sucedâneos, à qual deram o bonito e sugestivo nome de “Agenda Política”, um eufemismo para designar uma vulpina moleskine mad in loja do chinês, cujo calendário Juliano foi substituído, inocentemente, pelo calendário das urnas, e onde os dias não são marcados pelas prioridades políticas mais genuínas mas sim pela discricionariedade do “Hoje não se fala disto porque não, mas amanhã já é importante falar disto porque sim! Hoje não se faz isto porque não, mas amanhã já se faz isto porque sim!”.
Vem toda esta prosápia a propósito de um problema de semântica, em resultado da eloquência com que um homónimo do Conquistador, no calor da entronização a pretendente ao trono do Reino da Conquilha, se referiu à moirama. Vai de retro satanás! E Zás e zás! Logo saltou a terreiro à espadeirada, qual Brites d’Almeida ofendida, um dos mais altos, senão o mais alto dignatário da cúria, insurgindo-se contra o blasfemo – pois que não senhor, pois que esta abençoada paróquia é uma terra santa, livre de almorávides, armas nucleares, toiradas e anões galhofeiros - desafiando a vir à praça do pelourinho os restantes bergamos da corte, para desdizer o desdito e para separar as águas, que estas coisas dos tiques xenófobos provincianos, não matam mas apoquetam.
Pois eu, um sujeito ímpio e inocentemente ingénuo, que prefere cidadãos instruídos a políticos versutos, confesso que muito mais me agradaria ver reptos e apelos a outras sabatinas. Em vésperas de ir à urnas preferia saber, se vossas excelências assim o permitissem, quais as genuínas predesposições pós-eleitorais, no fundo, e desculpem-me a candura, saber com o que contar -se com o ovo no cú da galinha, se com a galinha no cú do ovo. É que, curiosamente, estou farto de meias verdades, de meios mandatos, de meias doutrinas, estou farto de ser ludibriado, estou maçado, quero votar em consciência, se é que me é permitido o luxo. É por isso que me estou nas tintas para o que dita a moleskine da loja do chinês, e para as costumeiras pirraças, e para a conversa de encher chouriços e pasquins, e para os comícios, e para as arrudas, e para as feiras, e bandeiras, e pendões, e pregões… o que eu quero verdadeiramente, o que eu exijo, se vossas excelências assim o permitirem, é a nata, a substância, o azimute! É que esta merda de assumir compromissos é tramada, não é? E afinal o que eu quero é tão simples - quero um compromisso sério, de gente honrada, que nos resgate da prostração, que nos tire do cú do distrito, do cú do país, do cú da Europa! É pedir muito, senhores candidatos a qualquer coisa?