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quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Porquê?


As crises da cristalaria não são um fenómeno da última década. Elas atravessaram os tempos, quase desde a sua fundação. Se é verdade que a evolução do sector se fez sempre com grande turbulência, também é verdade que às crises sucediam períodos de recuperação e crescimento, que fizeram da Marinha Grande uma terra conhecida no País e no estrangeiro, assumindo a indústria um papel fundamental no crescimento da nossa terra.
As convulsões pós-25 de Abril são de outra natureza. O derrube da ditadura, que artificialmente protegia alguns sectores industriais e os mantinha à custa de baixos salários, veio acelerar um processo de entrada numa economia mais aberta e mais competitiva, ao mesmo tempo que os movimentos operários, legitimamente, reivindicavam melhores condições salariais.
Estes dois factores conjugados, provocaram efeitos devastadores nos resultados das empresas deste sector de mão de obra intensiva. A Ivima, na década de 70, tinha mais de 1300 operários.
Com a democracia, os sindicatos corporativos deram origem a um movimento sindical forte, onde o PCP tinha, e tem, uma forte influência.
Na verdade, enquanto o PCP foi poder na Autarquia, e isso aconteceu até 1994, os problemas graves e estruturais que existiam no sector, eram mascarados com injecções de dinheiro para pagar "formação", mas que, na prática, servia para pagar salários e evitar convulsões sociais que todos tentavam evitar.
Olhando para trás, vem-nos à memória uma Manuel Pereira Roldão que já tinha passado de um Freitas para um Antero e que, em 1993, acumulava prejuizos, tinha salários em atraso e estava em falência técnica.
O grande problema do sector da cristalaria é que, para competir com as novas economias emergentes (Turquia, Polónia, R. Checa, China, Roménia, etc.), alguém deveria ter pensado num novo modelo de exploração, antes que o actual se estivesse esgotado totalmente.
Ao contrário, aquilo que se assistiu foi a uma agudização das lutas e reivindicações sindicais, muitas delas artificiais, que foram usadas como arma de arremesso contra a Câmara Municipal, entretanto perdida pela CDU.
Numa indústria em que os custos da energia têm um enorme peso na formação do preço, sucederam-se os plenários, as greves, as arruadas, os acampamentos na Praça Stephens, sob qualquer pretexto, acusando-se os autarcas de serem responsáveis pelos problemas, quando eles residiam na ausência de estratégia e no vazio do mínimo esforço de concertação.
Se há coisa de que as empresas não se podem queixar é de falta de apoios do Estado ao longo de muitos anos, atrvessando transversalmente os vários partidos no poder.
Mais do que descobrir culpados, é preciso encontrar soluções para o que resta da cristalaria, sendo certo que a dimensão de outrora e a importância que detinha na criação de emprego se perdeu irremediavelmente.
Só como registo, lembrar que de 2005 até agora, já fecharam a Marividros, a Tosel, a Canividro, a Vitroibérica e outras, sem que o Sindicato tenha sequer esboçado uma manifestação pública, mesmo que fosse no Largo do Luzeirão e também sinalizar que a Atlantis está à beira de declarar falência, sem que o risco de perda de mais 500 postos de trabalho leve o Sindicato a abdicar de marcar greves com novas exigências, em vez de se sentar à mesa, como fazem os grandes Sindicatos Alemães, com disponibilidade para negociar as cedências que se revelarem necessárias para salvar a única empresa que produz cristal, mesmo que fora da Marinha Grande.

10 comentários:

Anónimo disse...

Concordo inteiramente com o Vinagrete. Infelizmente acho que os sindicatos (salvo raras excepções) têm sido parte do problema e não parte da solução. A acção conjugada de todos os intervenientes está à vista. A Marinha já não tem indútria de vidro manual e os mestres vidreiros ainda existentes são os últimos. Esta é uma perda patrimonial e cultural irreparável! Será que ainda há lugar para alguma esperança? Não tenho resposta para esta pergunta.

pois, pois disse...

A culpa é sempre dos sindicatos......
São uns malandros esses gajos......
Bom, bom, era o Salazar.....

Anónimo disse...

O programa Novo Rumo prevê,
no seu programa:- Apoio aos artesãos locais através da criação de um espaço específico onde possam expor e comercializar o artesanato.

Quero dizer que para além de prever é para dar cumprimento cabal ao mesmo.

DN Portugal disse...

O líder do BE apontou hoje a indústria de moldes como uma área de sucesso em Portugal mas defendeu que "o Código do Trabalho de José Sócrates" está a travar a qualificação no emprego e o crescimento económico.

"A Marinha Grande é um retrato de todas as diferenças do país, porque na cristalaria e noutros sectores os trabalhadores têm sido despedidos, as empresas têm fechado e o investimento tem fracassado, mas neste sector de moldes, que é para exportação, tem havido capacidade, porque há a invenção tecnológica, o desenvolvimento das melhores competências, o que quer dizer trabalhadores qualificados", afirmou Francisco Louçã.

O coordenador do BE falava aos jornalistas no final de uma visita à fábrica de moldes "Aníbal Abrantes", criada em 1946 na Marinha Grande e que actualmente pertence ao grupo Iberomoldes.

Referindo-se à questão da qualificação e do emprego, Francisco Louçã criticou em seguida o Código do Trabalho aprovado pelo Governo, afirmando que o diploma não diminui a queda das exportações e "é um projecto para um país que não exporta, que não funciona e em que a economia degrada a vida das pessoas".

"Quando olho para o projecto de Sócrates percebe-se bem a aventura irresponsável que é o Código do Trabalho, porque quanto mais precários forem os trabalhadores menos qualificados serão, menos capacidade tecnológica terão estas empresas, menos exportação haverá", concluiu.

Apartidário disse...

A este respeito repito parte do meu bitaite de 27 Agosto, 2009.

Nós vivemos num concelho desenvolvido a nível empresarial em que uma grande maioria das empresas têm vindo a introduzir novos métodos e formas de gestão que lhes permite continuar a existir e a desenvolver-se.

Compare, por exemplo, vidro de embalagem com a cristalaria. A cristalaria que ainda existe, se exceptuarmos a Jasmin, continua com a mesma abordagem do negócio e com as mesmas práticas de negócios e é seguro que se não mudarem continuarão a definhar até morrer por completo.
As empresas de vidro de embalagem, ao longo dos anos, têm alterado permanentemente as suas abordagens ao negócio e melhorado continuamente as suas práticas para servir cada vez melhor os seus clientes. Por isso, são sustentáveis e têm criado muita riqueza para o nosso concelho.

E o que é que fizeram e/ou fazem?
Melhoram sistematicamente os seus processos de gestão, formam os seus trabalhadores, reorganizam as suas estruturas, implementam "ferramentas" para redução de desperdícios, monitorizam a satisfação dos seus clientes, tem sistemas de controlo de gestão, etc.

E porque é que o fizeram?
Porque os seus proprietários tiveram a capacidade de perceber os seus clientes a de formar equipas de gestão de grande competência.

Com estas, temos muitas outras empresas da Marinha Grande em diferentes sectores que são casos exemplares de sustentabilidade (não é aquilo a que muitos chamam sucesso).

Existe um aspecto comum a todos os gestores das boas empresas:
TIVERAM A CAPACIDADE DE MUDAR E DE MOBILIZAR OS OUTROS PARA MUDAR.

Apartidário disse...

Por falar em mudar, vejam a excelente lição de vida contida no filme seguinte:

http://www.youtube.com/watch?v=9UCfLaYUBeE

vinagrete disse...

Pois,Pois disse,
Mas eu quero desmentir.
Não se pode aferir dos textos que a culpa é dos sindicatos, em termos gerais.
Também não se diz que os sindicalistas são "gajos" e "malandros e muito menos se pode concluir que "bom seria Salazar".
No texto, o que se diz e se sustenta, sob prova em contrário, é que o Sindicato Vidreiro e a União dos Sindicatos de Leiria teve uma conduta virulenta, agressiva, violenta e caluniosa para com a Autarquia, sempre que se revelavam problemas nas vidreiras, no período de 1994 a 2005.
Nos outros mandatos, apesar das falências, foi um "RUIDOSO SILÊNCIO".
O que se diz, é que o Sindicato Vidreiro se foi apercebendo das dificuldades do sector, mas preferiu culpar o Governo por causa do custo da energia e continuar a reclamar mais ordenado e menor nº de horas de trabalho, em vez de tomar a iniciativa de propor reuniões com os trabalhadores, com o patronato e com o Governo, para se chegar a uma plataforma de acordo, manifestando-se disponível para fazer cedências temporárias.
Como autor do artigo, não me custa assumir que já fui sindicalista, já sofri na pele os efeitos da perseguição fascista do regime de Salazar, pelo que repudio a forma pouco séria como o texto foi comentado pelo Pois..Pois..
Para terminar, acho que um movimento sindical forte e independente dos partidos é peça chave dea democracia, assim como acho, no plano político, que também o PCP faz falta num regime democrático.
Não se podem é misturar as coisas.

Apartidário disse...

Caro Vinagrete,

Não tenha medo de dizer que o sindicato vidreiro e muitos outros não cumpriram minimamante seu papel em defesa dos trabalhadores.

Também lhe digo que quando existem bons gestores o papel "destruidor" dos sindicatos é rejeitado pelos trabalhadores que querem garantir o seu futuro.

Também não acho que seja um problema que a Camara tenha culpa nem que deva interferir.

Infelizmente quando se meteu não resolveu nada e tivemos de pagar essa irresponsabilidade à CGD (lembra-se daquela aval à MPR?).

Anónimo disse...

Caro DN Portugal,

o Louçã disse isso antes de querer nacionalizar essas empresas ou depois ??


Que hipócrisia ..........

Anónimo disse...

A reflexão está muito interessante.

Tudo o que ja foi referido é relevante e digno de reflexão, mas mais pode ser acrescentado!

Os Sindicatos, não retiro nada do que ja foi dito, acrescento que são o foco de muitas das situações drmaticas que se vivem e viveram na Industria da Cristalaria.

A empresas de vidro de Embalagem, sem duvida que são empresas com tecnologia de ponta, sem duvida que são exemplos vivos de modernidade de gestão de produção, MAS: e a crise que se vivu nos final dos anos 70? que estiveram quase todas falidas? com salarios em atrazo! como foi a sua recuperação?
Se hoja essas empresas são exemplos, nao podemos deixar de dizer que nasceram como empresas de Cristalaria..... Até há muito poucos anos, e isto fazendo a leitura do tempo da sua exsitência a Ricardo Gallo, tinha prensas manuais onde produzia a Telha de vidro!
Souberam evoluir, souberam e tiveram como evoluir e tiveram oportunidade de corrigir erros e tomar rumo correcto.

Ora a Cristalaria, não soube, não teve oportunidade de o fazer, porque queira ou naõ se queira assumir esse SECTOR, foi sempre um braço reivindicativo do PC, e hoje essa factura tem de ser PAGA!!!

Mais, a Cristalaria na Marinha Grande, nunca soube perceber a rumo que deveria ter, as opções estrategicas que deveriam ter, por razões que podem ir desde o facto dos proprietarios serem EX VIDREIROS, e portanto terem apenas a logica da produção e nao a logica comercial e a postura de prograamr, prever e definir objectivos.
Mas por esse facto foram maipulados, seja pelo PC, como memso pelo Sindicato, e como prova disso, peço que façam um exercicio de memoria e lembrem-se que as greves e as lutas que aconteceram foi smepre em empresas cuja gestão nao era de um Ex Vidreiro!!!!!!
como o caso da Ivima, Manuel Pereira Roldão!!!!!ou Sthephens!!!!

Para colmatar tudo, ou seja, a cereja do Bolo apareceu a VitroCristal, mas isso fica para futuras conversas