Acontecem-nos coisas na vida, que inesperadamente nos surpreendem. Hoje ao ler algumas linhas sobre as comemorações do 18 de Janeiro de 1934, senti um impulso de te dizer qualquer coisa. Sei que estou a fazer algo impensável e também sei, que onde te encontras não vais ler nada disto, mas olha muitos de nós passamos e vamos passar por isto. Só nos dizem certo tipo de coisas quando já cá não estamos para as ouvir.
Quando te conheci era uma criança em formação, mas muito cedo criei um grande fascínio pela tua personalidade, penso que acontece a todas as crianças pelos seus avós e na altura de grande austeridade pela personalidade e bondade. Mas confesso que demorei algum tempo a perceber aquilo que mais tarde se tornou para mim um motivo de orgulho. Ou seja quando me perguntavam de quem era filho e neto, logo que o teu nome aparecia, quase que era proscrito porque era neto de um homem que esteve preso. Confesso que tive alguma dificuldade em lidar com isso enquanto criança. Então o meu avô, o melhor homem que conheço, esteve preso? Porquê? Foi uma dúvida com que vivi algum tempo e à qual procurava encontrar resposta, pois nessa altura a ideia generalizada era a de alguém que esteve preso, só podia ser, por ter feito algo de mal. Timidamente lá te fui perguntando e tu com a tua calma e sabedoria lá me foste explicando aquilo que contigo se tinha passado durante a tua vida. Com as limitações impostas pelo regime em que cresci e tu viveste quase toda a tua vida, tinhas que ser muito cauteloso e claro as explicações iam ficando para mais tarde. Uma coisa eu recordo, conseguiste convencer-me que não estiveste preso por ter feito algo condenável, antes pelo contrário.
O tempo passa e com 10 anos de idade fui trabalhar para o vidro, porque o orçamento familiar era muito curto e estava farto de ter apenas vinte e cinco tostões ao Domingo que apenas chegava para uma gasosa e um pacote de amendoins na sede da columbófila, explorada pelo Zé Folia e esperar que passasse mais uma semana para voltar a ter quantia igual para repetir a extravagância.
Apesar do meu Pai insistir para que continuasse a estudar, achei que o devia fazer, mas trabalhando de dia e estudando de noite, o que não fiz de imediato porque o trabalho por turnos no M.P. Roldão não era lá muito compatível.
Com o andar dos tempos e porque viste em mim mais um menino que se ia tornar homem à beira duma fornalha (comparado contigo e com o meu pai, já fui um privilegiado) lá me foste explicando mais umas coisas e dando a ler outras. Recordo uma revista de que eras assinante editada pela JOC (Juventude Operária Cristã) se a memória não me trai, onde li textos que contribuíram para a minha formação e educação. Com os tempos a passar fui tendo contigo uma relação de Avô/Neto muito especial, até porque contigo comemorei a liberdade que os militares de Abril nos deram porque muitos homens como tu e a sua abnegada luta pela liberdade serviram de incentivo.
Avô
Acredita que ao escrever este pequeno texto, vêm-me à memória uma infinidade de coisas que não cabem neste texto. Apenas, se fosse possível tu ouvires-me, gostava de te dizer que tenho um grande orgulho em ser teu neto e ostentar, como a mais valiosas das heranças, o teu nome.
Um Cidadão
(texto recebido por e.mail)
8 comentários:
Que nunca se esqueçam os "HOMENS", que lutaram para que os seus filhos, netos e bisnetos possam hoje reclamar em "LIBERDADE", o "DIREITO"
ao "PÃO".
Obrigado ao meu Avô, Pai e a todos quantos que a pensar em nós, sofreram e morreram nas mãos do fascismo.
Habitualmente nestes momentos temos muito a tedência e ainda bem que assim é,para evocar a memória dos homens do 18 de Janeiro e de todos os antifascistas que souberam lutar com tenacidade para que o 25 de Abril fosse possivel.Muitos dos melhores filhos desta terra passaram anos e anos nas masmorras do fascismo às mãos da Pide,do Salazarismo e do Marcelismo.Justo será também evocar o papel das mulheres Marinhenses nesta luta exemplar de muitos anos de resistência,mas que valeu a pena.Como disse Alvaro Cunhal em 1975 na trasladação dos restos mortais de José Gregório"Marinha Grande é um nome escrito a ouro na história do movimento operário português.Melhor se pode dizer escrito com lágrimas e com sangue.Marinha Grande pode orgulhar-se de muitos dos seus combatentes de vanguarda que tem dado ao movimento operário.Pode orgulhar-se dos seus mártires e dos seus heróis".
Mas quanto a mim é necessário também tirar os ensinamentos e com frontalidade dizer que a evocacão do 18 de Janeiro de 1934,não pode ser só uma mera retórica,mas antes uma alavanca e um incentivo para que saibamos,todos continuar todos os dias a afirmar os ideais de Abril.A dizer basta e ter direito à indignação e pugnar por uma vida melhor,e não ficarmos de braços cruzados à espera que Abril se cumpra.Não foi para esta miserável situação em que vivem muitos dos Portugueses,desemprego,baixos salário,fome e miséria que os antifascistas do 18 de Janeiro e todos os outros lutaram.E muito menos quando essas politicas de direita,são conduzidas por um governo do PS.
Isto de comemorar coisas de ha 75 anos atrás como se tivesse sido ontem á tarde ja enjoa....e depois, não passou de uma intentona mal sucedida e nada mais,....quando e que o 18 de Janeiro passa a ser historia? irra que saudosismo ..até parecem os salazarentos...
A História quando não convém, é uma chatice...é mesmo um aborrecimento, digamos uma maçada, diria até uma fecundação...
Espero sinceramente que o anónimo anterior não comemore todos os anos o seu aniversário. Não tem motivos para isso.
Ó Anónimo das 23:27! O sr. acha que lutar por pão para os filhos é uma intentona? Então não acha que se devem recordar os factos da nossa História, sejam eles bons ou maus? Desculpe que lhe diga mas a sua insensibilidade, demonstra que o sr. ou nunca lutou pela vida, ou então não tem orgulho pelos seus antepassados que provavelmente muito tiveram que lutar para que o sr, hoje não sinta necessidade de fazer uma "intentona". E já agora, para que não se sinta tão enjoado, estude um bocadinho o que representou o 18 de Janeiro de 1934,e reflicta, como ainda hoje alguns descendentes daqueles operários são afectados. Felizmente ainda temos Liberdade, mas cuidado, que andam muitos a querer acabar com ela.
observação: quando me referia ao anónimo anterior, era ao anónimo da 23:27
O anónimo das 23:27 é um provocador infiltrado,daqueles que usa cravo vermelho ao peito,mas que conspira contra a democracia.Talvez consiga dar pistas do participante do 18 de Janeiro,Manuel Domingues,que ao que consta foi assassinado pela PIDE.
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