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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Coisas da vida real (2)

Ontem quando assistia a um dos vários debates em que uns tantos analistas da nossa praça iam debitando argumentos a favor e contra, registei um dado. O ministério da agricultura e pescas, com um número (que não memorizei) muito grande de funcionários, teve que recorrer a empresas externas com um custo exorbitante para aprovar as candidaturas a um determinado programa de fundos comunitários.

Por razões profissionais tenho por várias ocasiões mantido contacto com quadros deste mesmo ministério: Veterinários; Engenheiros e afins, em acções de vistorias; aprovações e controlos de rotina. Munidos de um conjunto de regulamentos da CE e decretos de lei, sabendo de cor e salteado os anexos; capítulos e alíneas, lá vão procurando todas as possíveis “inconformidades” para uns tempos depois elaborarem os respectivos autos e aí lavrarem as suas doutas sentenças e demonstrarem os seus doutos conhecimentos para provar aos seus superiores hierárquicos a sua “grande produtividade” e se alinharem para uns “excelentes” nos processos de avaliação e consequentemente enfileirarem-se para as promoções automáticas existente na nossa função publica.
Nada de estranho. Estranho é que muitas vezes a pequenez destas empresas construídas à custa de muito trabalho e pouca “formação” académica, obrigam os seus proprietários a recorrer a serviços externos (pois não conseguem entender o “Alcorão” que estes novos Talibãs” lhes querem fazer entender à força, com a clara ameaça de que ou cumprem ou fecham-lhes as portas) e lá vão encontrar os mesmos fiscais, funcionários públicos a tempo inteiro a prestar serviço de assessoria em empresas privadas que lhes vêm (a troco de avenças caríssimas) “ensinar a corrigir as tais inconformidades descobertas, aquando das tais vistorias efectuadas pelos mesmos enquanto agentes do estado.

Não tem este texto qualquer intenção de ofender os bons funcionários públicos de diferentes escalões e atribuição técnica, que sabemos existirem no vasto universo do aparelho do estado. Mas contribuir para que sejam precisamente aqueles que não querem ver as suas profissões “emporcalhadas” a agir através das suas associações de classe, (tão activas nos últimos tempos) para impedir que este tipo de situações perdure, para que sua dignidade profissional não seja posta em causa.

A mim chateia-me ver uns quantos Doutores e Engenheiros financiados com os meus impostos na sua formação académica, a receberem os seus ordenados financiados também com os meus impostos, virem depois através de empresas privadas ensinarem-nos a corrigir as deficiências (cobrando pelo privado) que os mesmos indivíduos “encontraram” enquanto agentes do estado.

Claro que haveria muito mais a acrescentar neste e noutros sectores, mas por agora fico-me.

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