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segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

PARTIDOS

Uma coisa é certa, a democracia vai muito para além dos partidos. Mas, será possível uma democracia sem partidos? Este poderia ser eventualmente o ponto de partida para a discussão. O “divórcio” entre cidadãos e partidos, com reflexos imediatos na qualidade dos políticos e nas preocupantes taxas de abstenção aos actos eleitorais parece agravar-se, e nem mesmo algumas tímidas e pontuais tentativas de abertura dos partidos à sociedade civil parecem resultar. Diz-se muitas vezes que os partidos têm de alterar algumas das suas práticas, de se renovarem, de se reinventarem, mas a inércia parece ser a palavra de ordem.

A realidade partidária na Marinha não é excepção e os acontecimentos que marcam o passado mais recente da nossa vida autárquica vêm provar que os partidos se movem fundamentalmente por lógicas de poder (interno e externo), as quais subvertem por completo o seu verdadeiro papel. O poder nunca deveria ser um fim em si mesmo mas antes um instrumento. Não é por isso de estranhar que se constate esta crua realidade: os partidos servem-se das pessoas e as pessoas servem-se dos partidos. Mas esta lógica de poder pelo poder faz também com que, na maior parte do tempo, os partidos se percam em disputas mesquinhas, laterais à discussão dos principais problemas, mais preocupados em encontrar contradições na prática dos adversários do que em desenvolver mecanismo de auto-crítica que permitam ultrapassar as suas próprias insuficiências. Por regra a culpa é dos adversários e a responsabilidade nunca existe.

Para ajudar à reflexão transcrevo parte duma pequena entrevista que Philippe Schmitter, professor de ciência política no Instituto Universitário Europeu e um dos mais conceituados teóricos sobre a democracia, deu ao Diário de Notícias em Abril de 2006.

Schmitter aponta os partidos como o epicentro de um fenómeno de desencanto com a democracia. Como explica isso?

Os partidos já não são o que eram. Não estão a desempenhar as funções nucleares que sempre desempenharam.

Que funções são essas?

Primeiro, é mediar um sentimento de identificação política dos cidadãos. Em segundo lugar, os partidos devem representar, sós ou coligados, alternativas reais, de forma que os cidadãos sintam que votar num partido ou noutro faz uma significativa diferença, resultando daí um incentivo à participação. O problema é que os partidos, sobretudo os principais, já não têm perfis distintos, estão muito próximos uns dos outros. Finalmente, os partidos são supostos formar governos, mas não o fazem de uma forma que eu chamaria partidária. Explico: os governos cada vez mais são compostos por tecnocratas ou pessoas cujo recrutamento não depende da sua militância num partido, ou de se terem sujeitado a eleições com base partidária. Diria que se olharmos para os governos da Europa Ocidental encontraremos uma percentagem de indivíduos que nunca foram eleitos para qualquer cargo bastante mais alto do que no passado. Os partidos eram um mecanismo de recrutamento, de treino e de teste dos seus quadros perante a vontade popular e, nesse sentido, a composição dos governos era efectivamente partidária. Em muitos governos isso já não acontece.

Em Portugal os governos gostam de incluir quem nunca fez política. Acha que é uma coisa boa?

Não acho que seja uma coisa boa. Pode ser bom num sentido tecnocrático, no qual precisamos de pessoas que estejam acima dos partidos e que possam olhar para um problema difícil para o qual são necessários conhecimentos técnicos. Mas essas pessoas não têm que ser os ministros. É muito diferente recorrer ao contributo de um técnico ou fazer dele o responsável pela política.

E isso acontece porquê? Porque as pessoas estão fartas dos políticos?

Essa é uma parte deste desencanto [Schmitter usa a palavra portuguesa] a que me refiro - há um declínio dramático do grau de confiança nas pessoas que fazem política. Outra questão é saber se a nomeação de não políticos é uma resposta a isso. Não tenho a certeza. Em termos genéricos, tem razão: os políticos sabem que não estão nas boas graças dos cidadãos e nomeiam cada vez mais não políticos. Vimos isto com Villepin, que fez um erro típico de um tecnocrata. Por isso, acho que os que participaram na vida política e tiveram a experiência de concorrer à eleição para um lugar são melhores políticos.

E o que fazer com os partidos?

Há duas questões. O que pode ser feito depende do que achamos que está a acontecer. Uma teoria diz que o que produziu este afastamento foi uma quebra na transmissão inter-geracional dos valores políticos. Uma das formas mais simples de medir esse fenómeno é perguntar aos jovens se sabem em que partido os pais votam. Isto costumava ser fácil: num país como a Itália, 80 por cento dos jovens sabia em que partido os pais votavam. Mas isso mudou. Em parte, porque os pais já não votam de modo consistente num partido - a volatilidade está a aumentar o que torna mais difícil transmitir um quadro reconhecível de ideias políticas. Neste caso, a resposta é: o que se pode fazer é trabalhar mais o processo de transmissão intergeracional de valores. Mas há quem diga que este aspecto não é assim tão importante, porque os jovens podem construir a identidade política através da escola, do trabalho, do tecido social. O problema são os partidos: por causa da convergência dos programas, as pessoas já não os conseguem distinguir. A razão para a desilusão é que o que os pais ou a escola ensinaram já não bate certo. Os debates e os slogans de campanha estão cada vez mais vazios.

Tudo se reduz a escolher pessoas e não programas.

Exactamente, há a mudança de perspectiva. Precisamente porque os programas já não têm um significado distintivo para grandes grupos da sociedade.”

8 comentários:

Anónimo disse...

Na politica perdeu-se o hábil gosto pela discórdia, a discórdia das ideias dos caminhos das bases programáticas. O triste resumo que nos caracteriza cinge-se a uma tangencial disputa orgânica, onde normalmente ganha, quem na incapacidade do seu intelecto encontra tempo de sobra para coordenar e dirigir um barco, onde cada vez mais está, quem não sabe fazer mais nada. É hoje comum encontrar-se no corpo dirigente dos partidos tradicionais reformados compulsivos, falidos vereadores, incapacitados gestores, pseudo-sindicalistas, antecipados pensionistas, etc…

A política tem por base e força o princípio do fórum, do debate, da tertúlia da profícua discussão que se fazia entre o café e o partido, perfeitamente refinado em debate social.
Onde se pode hoje discutir FUTURO?

O problema da politica é sem dúvida quem agora lá está, mas também quem não está sabendo que o debate de ideias não se restrita numa qualquer sede partidária. As principais acções reformadoras não nasceram nas sedes partidária, mas no seio da sociedade, as sedes foram criadas como elemento facilitador do debate e centro da informação, hoje são o condicionamento disso mesmo.

A Marinha Grande não é muito diferente de muitos outros locais, onde o corpo dirigente dos partidos locais é a raiz do tumor político que eles se tornaram, a nossa terra é pouco mais de que um rectângulo com alguns kilómetros quadrados, plana, com uma estrutura populacional estabilizada e pólos habitacionais perfeitamente organizados, não nos emprenhem pelos ouvidos dizendo que é difícil gerir esta cidade. Pois a dimensão da dificuldade é directamente proporcional à dimensão da capacidade, que os senhores manifestamente não têm, seja BE, PCP-PEV, PS, PPD-PSD ou CDS.

Anónimo disse...

Tenho de dar razão ao Canto Esquerdo?
Há por aí, de facto, ‘muita parra e pouca uva’ e o que nós precisávamos era de mais dedicação à coisa pública, menos fundamentalismo nas posturas e mais, muita mais, inteligência e vistas largas na governação.
Oxalá os nossos políticos leiam o que se escreve neste fórum e tenham, ao menos, a capacidade (e a humildade) de fazer alguma reflexão sobre estes comentários.

Anónimo disse...

Sim senhora, que grande animação que para aqui vai...
Esta participada discussão só vem provar a mediocridade deste blogue e dos seus autores (anónimos!!!)que misturam coisas sérias com brincadeiras de mau gosto. Será que estão mesmo convencidos que alguém os leva a sério? Eu divirto-me só de pensar que a ideia lhes passa pela cabeça......

Anónimo disse...

assim é que é!
Finalmente alguem aqui assina um bitaite com o seu verdadeiro nome... parabens m.a.

Anónimo disse...

A mediocridade não se adjectiva por decreto, contudo, a ignorânica revela-se pelos actos.

m.a. é o reflexo da forma com se comporta...

Anónimo disse...

Se este (ou esta) m.a. tivesse dois palmos de testa nem tinha maltratado as teclas.
Se não fosse tão trágica, tanta falta de senso dava para rir. Assim, a única coisa que me apetece é chorar... chorar muito. Deixem-me cá beber um gole para ver se isto me passa!

Ao que me quer parecer o comentário do Canto Esquerdo fez mossa!
Claro que também o subscrevo...

Anónimo disse...

ROUBEI isto do
Cantinho do Zé Luis...
"O PS, quando perdeu as eleições autárquicas no final de 2005, deixou a autarquia sem capaciadade de endividamento para financiar novas obras."
(...)
"Apesar desta desastrosa gestão financeira do PS, o actual executivo de maioria CDU, mercê uma gestão rigorosa nos últimos 2 anos, lançou obras de de invulgar importância para o desenvolvimento do concelho."
(...)
"Desnecessário será dizer que o Partido Socialista, sem que tivesse apresentado qualquer sugestão ou mesmo proposta a incluir nos documentos, votou contra."
(...)
"O Plano e Orçamento, incluem projectos estruturantes com verbas significativas e obras há muito reclamadas pela população."

...só para dizer: mas que ganda lábia que esta gente tem.
Isto só reforça aquilo que o Canto Esquerdo quis dizer.
Não é preciso acrescentar mais nada!
Que os deuses nos acudam!...

Anónimo disse...

agora a sério!

É claro que o problema não está nos partidos.As crises existentes nos varios partidos politicos, passam quanto a mim, por há falta de militancia (no verdadeiro sentido da palavra)de pessoas que apenas o faziam por sentido civico "e porque não por consciencia de classe".Mas aquilo a que asssitimos nos ultimos anos foi um verdadeiro assalto ao poder por um conjunto de oportunistas e carreiristas que não sabem fazer mais nada( ou não estão a isso dispostos) ás vezes apenas para conseguirem uma reforma com valores que numa profissão "normal" nunca atingiriam...e porque não dizer um ordenado que nessas mesmas profissões tambem não.Não seria justo aqui (e de facto debaixo do anonimato) citar nomes, mas façam um pequeno esforço e vejam o que ganhariam alguns dos protagonistas dos ultimos tempos. No caso concreto da nossa terra.Vejam os porquês de algumas militancias exarcebadas, aparentemente para servir "ideais" ...exemplos: Reformados da autarquia que fazem uns ganchos no partido, a troco de mais uns cobres... professores que viram o seu ordenado duplicar em função dos lugares que ocupam... empresários falidos que passaram a ter um ordenado de vereador, que sempre dá para aguentar as despesas que a vida custa a todos,etc...etc.

Claro que acredito que os patidos são indispensáveis á democracia...mas é absolutamente imperioso que os membros dos partidos que estejam lá para defender ideais e queiram dar o seu contributo par a construção duma sociedade justa(independentemente do tipo)corram com esses verdadeiros parasitas que dão má imagem aos seus partidos e que leva muitos e muitos eleitores, a afastar-se.

É evidente que não me refiro só ás estruturas locais.