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terça-feira, 17 de julho de 2007

Santos da Casa

E nem o dilúculo do estio trouxe o calor há muito desejado pelos apóstatas

O astro rei, envergonhado, não vai nem vem, lembrando outros astros menores de enredos caseiros, menos luminosos, é certo, mas não menos flamejantes (a avaliar pelos relatos das cortes). Mas o Sol, dizia eu, tem-se mostrado reservado, espreguiça-se de quando em vez, boceja e por fogachos passa pelas brasas, ocasião de imediato aproveitada por uma qualquer arquibesta para proceder à ignição que deixa, sem dó nem compaixão, pelos matos e pelas matas, um rasto de cinza e fumo – empalá-los com um tição em brasa era modesta guloseima para bárbaros que perpetram tamanhos crimes!...
No entanto, bem vistas as coisas, as forças celestiais estão em comunhão com o poder temporal. A natureza está com o governo da nação e a ecclesia com o governo da autarquia, tudo por intercessão do príncipe dos apóstolos, S. Pedro, o santo pescador que fazia praia p’rós lados das Valeiras, atirava aos robalotes junto à escarpa do Penedo da Saudade (... saudade, ó saudade de comer pexinho ali pescado a salvo da merda dos porcos dos Milagres, que a poucos parece importunar, é certo!).
Mas vamos à explicação dos factos, à manifestação do dedo divino através da intermediação do dito Santo - e o Senhor nem lhe pedira tanto mas ele quis mostrar serviço e conseguiu juntar sob o acropódio da mesma pedra angular o simplex e o centralismo democrático, a flexisegurança (da Evax) e a luta de classes (da WWE). Reparem bem. Enquanto o Senhor Primeiro Ministro José acordava com os russos os prestimosos serviços dos Beriev, bombeiros dos ares à razão de 2,5 milhões de aerios (mais despesas de envio), em paralelo, confirmava com o bento Pedro, colega de curso de Antímio de Azevêdo, umas morrinhas para burrifar o cantinho ocidental da península, a troco de jejuns e abstinências infundidos ao rebanho que apascenta em prados depenados. Por sua vez, o Senhor Presidente da Câmara João, seguindo as pegadas dos antecessores, enquanto vai deixando cair em apatia agonizante a praia do apóstolo, iluminado pelos valores da tradição associa-se à refundação da já refundada festa em honra do padroeiro, festa rija (pois claro!) para o povo esquecer a míngua, esmolinha ao Santo, procissão com andor e pálio, barraquinhas com bebes-e-comes, papas e bolos, majoretes e bombos, cabeçudos e anões, tudo apadrinhado pela Sra. Dona Primeira e abençoado pelo Cura da Freguesia. O povo regozija-se com o arraial, o Santo agradece o empenho e promete saúde e longa vida à coligação, por momentos tudo parece ganhar vida e cor, alegria (quem diria!). E a seguir? Ah, a seguir vai tudo a banhos que ninguém está para se maçar com a chatice da política, é quase Agosto e os alfacinhas já levam pelo menos uma semana de avanço (que o digam o Portas e o Mendes).

5 comentários:

Anónimo disse...

Bravo!
Há muito que na me passava um petisco destes pela retina. Isto sim, isto é escrita a sério.
Plenamente de acordo.

Anónimo disse...

De acordo? De acordo com quê?...

Anónimo disse...

humm... esta do relaxado parece não ter agradado aos xuxas

Anónimo disse...

Estava apenas a encomiar a retórica. Neste mundo semi-analfabeto é sempre gratificante topar com alguém que sabe alinhar umas frases em português correcto ...

Anónimo disse...

Então ó admirado, não percebeste a mensagem? Pois é, enquanto a malta andar distraída porque tudo é uma maçada, o provérbio continua actual "com papas e bolos..."
Os meus cumprimentos ao Relaxoterapeuta e que escreva muitos!