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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

"Ora diga lá freguês" (ano 2035)

Como vem sendo hábito nos últimos trinta anos, a ajunta mais a cambra continuam a deslocar-se aos vários lugares do concelho para as famosas sessões do “Ora diga lá freguês”. Desta vez a sessão decorreu no Largo das Calhandreiras e damos-lhe conta em primeira-mão, de como correram os trabalhos.
Iniciada a auscultação aos fregueses pelo presidente da ajunta, cicerone de serviço, tomou da palavra a mais velha moradora do Largo, a dona Hermínia Marreca, para se queixar do mau cheiro que vem dos esgotos do seu prédio. Segundo as suas contas o problema está na tubagem que liga os esgotos ao colector e que é muito estreitinho. “Ora se o prédio tem quinze pessoas a comer quatro refeições por dia, no mínimo são… é só fazer as contas, mas no mínimo… três vezes seis… portanto, uns… dezoito quilitos de cocó por dia, é muito cócó e o tubo de ligação não dá vazão” concluiu a anciã.
O vereador responsável tomou de imediato a palavra para dizer que anotou a situação e que vai tentar resolver o problema, mas que não se lembra de ver nos estaleiros tubos com mais de duas polegadas de diâmetro, pelo que vai ser difícil, até porque que "o Barroca cortou o crédito". Ainda segundo o vereador, parece que um dos moradores come seis refeições por dia o que complica mais as coisas. Enquanto o problema não se resolve o autarca sugeriu aos moradores para evitarem as feijoadas e os cozidos e de quando em vez comerem "uns sabonetes Lux que assim cheira menos mal, eh, eh, eh”, gracejou com humor.
O sr. presidente da cambra também usou da palavra para acrescentar que a culpa é do anterior executivo que gastou todo o tubo de vinte polegadas que existia “e agora nós vemo-nos aflitos e constrangidos para resolver o problema da falta de vazão”.
De seguida falou a dona Gracinha para perguntar porque é que a cambra mudou o nome do Beco da Passarinha para Beco da Pardala, o que lhe tem causado muitos transtornos, ao que o vereador responsável explicou que a toponímia “tentou acompanhar o crescimento da ave” que está na origem do nome do beco. O sr. presidente da cambra, tomando da palavra aproveitou para acrescentar que a culpa é do anterior executivo que deixou a passarinha engordar.
O terceiro freguês a falar foi o sr. Borracho que se queixou da sinalização vertical existente no Largo, “há um stop em frente à minha porta, já lhe preguei três cabeçadas”. O vereador disse desconhecer a localização do sinal mas que vai mandar fazer um estudo sobre o assunto sugerindo ainda ao freguês: “para a próxima que acertar com a mona no sinal, chame a polícia para tomar conta da ocorrência e aproveite para soprar no balão, eh, eh, eh” respondeu divertido. O sr. presidente concordou e acrescentou que a culpa é do anterior executivo mas que não sabe bem porquê.
Jorginho Sapo foi o penúltimo a falar e, com a inocência dos seus dez anos acusou a cambra de andar a tapar os buracos que tinha feito para jogar ao “belindre”. Desta vez a resposta veio directa do presidente que acusou o garoto de "estar feito com o anterior executivo" e que tapar buracos é com ele e só não tapa os buracos do ozono porque não tem pessoal especializado, já que a anterior cambra despediu todos os tapadores de buracos de ozono "que tanto custaram a formar".
Por último tomou da palavra o sr. Manel Anjinho para questionar a cambra sobre diversos assuntos, nomeadamente, para quando uma resolução sobre o problema do mercado novo e do mercado velho, quais são os planos para o centro histérico, para quando o alargamento da zona industrial, qual o futuro da empresa de transportes, qual a política de juventude para o concelho, a política cultural, quais as prioridades do executivo relativ…blá, blá, blá, blá.
Vendo que o homem não se calava o cicerone interrompeu-o para informar que dado o adiantado da hora estava tudo muito cansado e a sessão ía ser encerrada ao som da música dos Patinhos. “Boa noite e bons sonhos! E não se esqueçam que estes encontros são muito importantes!” rematou.

6 comentários:

Anónimo disse...

Este não não me parece um texto ficcionado.
Tem a certeza que isto não se passou mesmo?
Dá-me ideia que este tem direito a publicação no jornal do tó-zé...

Anónimo disse...

Eu também acho, este vai ser um sério candidato ao famoso prémio "Pasquim de Ouro".

Anónimo disse...

Bem, lá acontecer não teria acontecido, mas qualquer semelhança com a realidade não é pura coincidência!...
Essas reuniões da Ajunta acompanhada pela Cambra e feitas da forma que são feitas por esses lugares além, não passam, na esmagadora maioria dos casos, de meras sessões de propaganda populista, onde a muitos assuntos menores é dada uma relevância que não justificam.

Quanto aos outros assuntos, os verdadeiramente importantes, a esses não se lhes dá a atenção devida, até porque implicam, em alguns dos casos, tomadas de decisões incontornavelmente polémicas... e dessas há que fugir a sete pés.

Não nos espanta portanto que comecem a aparecer por aí mais caminhos asfaltados e mais obras para agradar a clientelas, em detrimento das obras de fundo, essas sim de interesse para a nossa vida colectiva.

Temos, porém, de dizer em abono da verdade que ao menos estes fazem (o seu) diálogo com os fregueses... e que os outros para isso não tiveram capacidade. Quanto a mim foi esse o seu pior defeito...

Já agora os meus parabéns ao Zézé Camarinha pelo bom ‘desarrincanço’ do post…

Anónimo disse...

eheheheh

excelente, ... a culpa é do anterior executivo, ehehehehe

excelente, texto de... poesia...

parabéns e boas noites

Anónimo disse...

Em primeiro lugar, quero dizer que concordo com os encontros das Autarquias com as populações e que acho um acto político inteligente, que ajudou o Xico a fazer uma limpeza nas eleições para "Prazidente da Junta..".
Se no anterior executivo da Câmara, salvo uma honrosa excepção, ninguém se disponibilava para acompanhar a Junta, agora é uma overdose de demagogia, populismo bacoco e desresponsabilização idiota de Presidente e vereadores, que tinham obrigação de explicar como vão resolver os problemas do Concelho, porque fizeram um Programa eleitoral e conheciam, porque sempre estiveram na Câmara, as situações em que se exigia mudança de rumo.
A verdade é que "RUMO", OBJECTIVOS", ESTRATÉGIA, ACÇÃO, são palavras de que esta Cãmara foge a sete pés.
É mais fácil dizer que a culpa é dos outros, que a Câmara não tem dinheiro, que não se pode ir a todo o lado ao mesmo tempo, mas não tentando seque ir a lado algum.
Por favor acudam-nos.

Anónimo disse...

VERDADEIRO vinagrete disse:

Eu, verdadeiro Vinagrete, que já não participo neste blog há largos meses, concordo com o comentário, mas sugiro ao seu autor que altere o nick name para " Vinagrete II".