.
.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Correio dos Calhandreiros

(recebido por e.mail)


Abril, sempre!


Porque já muitos viram que o rei vai nu e que nua segue a corte, crescem as vozes dos que duvidam da saúde do reino.
Ouvindo políticos, banqueiros, empresários, e alguns intelectuais mais ou menos independentes que alimentam debates, sessões, jornadas parlamentares, convenções, e toda a sorte de eventos, é natural que como na cantiga, cada vez mais se sinta a raiva a crescer-nos nos dentes e a força a crescer-nos nos dedos.
Com fraseados elegantes e tecnológicos quanto baste, alinhados ou irreverentes, tais figuras têm em comum serem ou terem sido, apoiarem ou terem apoiado o Poder. O Poder, o duradouro lugar ao sol, o trampolim para outros poderes, ou apenas o bocadinho da fama, pelos quais quase todos se dispõem a vender a alma ao diabo.
O Poder que sempre lhes pertenceu, a si ou aos seus pares, ora a uns ora a outros; o único Poder exercido nestas quase quatro décadas da liberdade.
A vaidade permite-lhes emitir elaboradas opiniões sobre a situação desprezando quase sempre a inteligência da plebe. Corajosos, propõem soluções que invariavelmente, ou são utopias ou ameaças de novos sacrifícios, com o que, pasme-se, querem remediar os erros do passado que eles, aliás, nunca cometeram. Após tantos anos em democracia falam dos resultados da incompetência acumulada nas governações, exercidas geograficamente na Europa dos ricos, usufruindo de todos os apoios e do regime virtuoso da economia de mercado, enfim, dos principais requisitos que os delfins definiram e os arautos apregoaram e com os quais tão mal souberam conviver.
Perante tão rotundo fracasso, teremos que concluir que estes sábios auto convencidos, poderão ser imbecis alienados que angelicamente nos enganam, simples incompetentes fala-barato, ou pior, esconder debaixo daquele manto erudito e paternal, por vezes venerando, o mais vil e cruel dos oportunismos. E dizem dizer a verdade aos portugueses.
Porque ao Povo apenas tem sido dado legitimar os representantes que lhe propõem e ser dirigido trabalhando como lhe mandam ou lhe permitem, é a esta corte de dirigentes e de pares que devemos os resultados que vergonhosamente alcançámos: No contexto das nações, falta de competitividade, subalternidade e dependência económica; Internamente, o flagelo do desemprego crescente, a torpe justiça, as assimetrias, desigualdades, e as exclusões sociais. E no ano de todas as crises, de todas as ameaças e de todos os desencantos, de seguro só os resultados como sempre milionários que bancos, seguradoras e outros poderosos vão ter o despudor de divulgar.
Estas realidades, ora omitidas, ora mitigadas nos discursos protocolares com que os representantes do momento ensejam alimentar-nos a esperança, não são as promessas de Abril.
Porém, feliz com o comodismo, o séquito prossegue alheio sem valorizar os anseios dos desesperados, continuando a acenar com sinais de falsa cumplicidade e de indignação solidária. E lá vão debitando iluminadas visões estratégicas fundamentadas nas ciências económicas e sociais, esmagador conhecimento que obtiveram e armazenaram à nossa custa durante vidas inteiras e que exibem com prazer e orgulho mas cuja inutilidade está infelizmente à vista de todos.
A tão eruditos não é dado ver o básico, que é, salvo afortunadas excepções, o de que em vez do progresso e da prometida coesão solidária, cada dia é maior a parcela de portugueses que vive em manifesta ou camuflada pobreza, ou no pavor desse destino.
Oxalá algo mude rapidamente neste rumo, porque se não se vislumbrarem intenções de repor a decência, assistiremos amanhã a um novo bramar da corte, dessa vez contra os perigosos marginais a quem, enquanto puderam, por linhas enviesadas negaram os caminhos do progresso e do bem-estar social.


Vento Norte

9 comentários:

Toino Tolo disse...

Não vale a pena dar pérolas a porcos!
Quando se fala ou escreve, há dois preceitos essenciais, que se devem respeitar. Escrever bem e ter alguma coisa para dizer. Foi o que sucedeu amplamente neste post. Já a não surpreendente ausência de comentários tem outra leitura...pérolas .... a ...

Zé Tolo disse...

Então e porque é que o Toino Tolo não contribuiu acrescentando ao seu bitaite alguma substância? Será que ficou engasgado com alguma pérola?

Apartidário disse...

As boas memórias (que bonito e importante foi o 25 de Abril) devem servirmos para projectarmos o futuro e para ver quanto a nossa vida mudou, queiramos ou não ver, para melhor.

Obviamente, que tanto a democracia como o capitalismo não são perfeitos. Talvez menos imperfeitos do que as outras formas alternativas.
Apesar de tudo, já provaram a capacidade de regeneração.

Caros amigos Vento Norte e o Toino Tolo, analisemos CUBA, por exemplo?

Lá não existem ricos, nem banqueiros, nem desigualdades sociais. São todos pobres.

A plebe não precisa de ser inteligente pois os dirigentes encarregam-se de pensar.

Não existe desemprego nem empresas a fechar. Simplesmente não há emprego.

Mas existem poderosos e governantes que nem sequer se submeteram a qualquer sufrágio eleitoral.

Contudo meus amigos estou de acordo convosco.
Ao longo destes 35 anos desperdiçámos e mais grave continuamos a desperdiçar oportunidades de desenvolvimento. Gastámos mal e mais do que a riqueza que criámos e tivemos um problema crónico de deficit. Agora, como não controlámos o deficit temos um problema mais grave. Estamos endividados.
Vamos ter que gastar menos e ainda dispender mais dinheiro para juros.

SOMOS TODOS RESPONSÁVEIS! Por acção ou por omissão.

Vamos ter que assumir as nossas responsabilidades.

Anónimo disse...

Os porcos a que o Toino tolo se refere, são aqueles que pretendem enporcalhar o largo, acabando textos pretensamente intelectualoides, com finais do tipo "vão à M....?

Anónimo disse...

Ora bem. É isso mesmo. E, parabéns ao escritor.

Anónimo disse...

emporcalhar Caro anónimo. Emporcalhar é assim que se escreve, com um M antes de um P.

Anónimo disse...

Vêm que tinha razão no meu comentário ao post do Relaxoterapeuta?
O anonimato só é mau quado usado por despeitados que nada têm a acrescentar nos comentários que fazem. São os porcos a quem se dão pérolas

robaloaosal disse...

Este texto foi enviado como anónimo agora vai com assinatura ainda que anonima

Vêm que tinha razão no meu comentário ao post do Relaxoterapeuta?
O anonimato só é mau quado usado por despeitados que nada têm a acrescentar nos comentários que fazem. São os porcos a quem se dão pérolas

Carapau enjoado disse...

Exatamente. Não podia estar mais de acordo. E, se o FLC não permitisse anonimatos, ficaria menor em termos quantitativos (bitaites e posts) e muitíssimo maior em termos qualitativos. Aí sim seria um prazer ler textos como os do Vento Norte e Relaxoterapeuta com comentários ao mesmo nível (concordantes e claramente discordantes, mas sempre enriquecedores.) Como se pode verificar nos dois exemplos recentes não foi nada disso que aconteceu. Pérolas a porcos. Um desperdício de talento e inteligência, infelizmente.