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terça-feira, 22 de janeiro de 2008

INCONGRUÊNCIAS?

Há tempos ouvimos Jerónimo de Sousa dizer, a propósito das “saídas” de Barros Duarte e Luísa Mesquita, que o PCP era um partido diferente, um partido onde os compromissos eram para ser levados a sério. Não duvidamos. Mas presumimos que esta seriedade se estende à coerência das posições do partido em relação àquilo que é o seu pensamento e a sua análise.

O JMG desta semana dá conta que o folhetim Marinhense/E.Leclerc poderá ter uma solução à vista uma vez que a questão irá a reunião de câmara na próxima quinta-feira. Ainda de acordo com este jornal, a construção do espaço comercial deverá ser votado favoravelmente pelos três vereadores do PCP.

Com a suspensão de mandato de Barros Duarte, terão ficado reunidas as condições para que nesta matéria o PCP fale (e vote) a uma só voz, viabilizando a construção daquele espaço comercial no centro da cidade.

O PCP, com a legitimidade que os votos lhe conferem, tem todo o direito de tomar a opção política que muito bem entender. Mas deve explicá-la. Até porque, a nível nacional, o PCP parece vir dar razão a Barros Duarte (que sempre se manifestou contra), quando nas conclusões da conferência nacional sobre questões económicas e sociais que realizou em finais de 2007, fez a seguinte avaliação relativamente ao sector do comércio e distribuição, no capítulo em que se analisa a situação económica e social do país, sendo apontados os seguintes “défices, estrangulamentos e desequilíbrios” (para o sector):

i) O comércio e distribuição - sob o ponto de vista qualitativo são de destacar as profundas alterações nos dois últimos decénios, com o crescimento exponencial dos novos formatos, onde avultam as grandes superfícies (hipermercados e supermercados), os discount, cash & carry, os centros comerciais e a redução brutal do pequeno comércio, dito tradicional. Segundo o Índice Nielsen Alimentar a percentagem de vendas de hiper e supermercados passou de 25,8% em 1987 para 83,6% em 2004, contrapondo-se com o comércio tradicional que regrediu de 74,2% para 16,3%, no mesmo período. O conjunto dos cinco maiores «operadores» (Sonae, Jerónimo Martins, Mosqueteiros, Auchan e Lidl) representa 67,5% do mercado de retalho.

As novas unidades do comércio, pertencentes a grandes cadeias comerciais nacionais e estrangeiras sob tutela de grandes grupos económicos (em Portugal Sonae/Belmiro, Amorim, Jerónimo Martins), para lá da liquidação do comércio tradicional, fazem sentir a lógica predadora igualmente na rede dos seus fornecedores, com a imposição de condições leoninas, e têm profundas consequências nos hábitos de consumo, tempos de lazer e socialização, e na vitalidade dos centros das grandes cidades.

Confirmando-se que os vereadores do PCP vão votar favoravelmente, embora eu não tivesse vontade de contrariar o Sr. Jerónimo de Sousa, a verdade é que parece haver aqui uma incongruência. Ou será que a reserva moral do PCP vai ser Barros Duarte que surgirá à última da hora para “salvar a honra do convento” e votar contra a instalação de uma unidade de comércio com tantos pecados mortais? Nunca se sabe. No lo creo, pero que las hay, las hay.

6 comentários:

Anónimo disse...

isso seria de HOMEM com coluna vertebral.... Será que a JBD a tem?

Anónimo disse...

Eu se estivesse em exercicio nao dormia descansado até 5 feira

Anónimo disse...

Um dia a estória será contada e como o azeite a verdade virá ao de cima!!!
Esta é boca... Consta para aí que a confraria da sopa de bacalhau vai ter a sua sede na galeria comercial a construir pelo Leclerc nos terrenos da portela. Estou mesmo a ver o Jeronimo de Sousa na Inauguração!

Anónimo disse...

Sobre a construção de um (mais um...) supermercado e naquele sítio - hoje um espaço nobre da cidade - já me manifestei por várias vezes.
Penso ser desnecessário voltar a fazê-lo.
Agora o que quero dizer é que sinto ser enorme a responsabilidade do executivo camarário na resolução que tem de tomar.
Eu, se estivesse no lugar do presidente e dos vereadores da nossa câmara, não deixaria de pensar que, ao decidirem que aquele espaço venha a ser ocupado por uma média superfície, seja ela da responsabilidade de que empresa for, é uma decisão que terá repercussões, sem retorno, na vida económica e no ordenamento do espaço público da cidade.
É certo que o ACM precisa de resolver este seu problema, mas a câmara não deverá consentir que essa solução passe pelo comprometimento da vida da cidade.
Volto a afirmar, como já o fiz anteriormente, que à câmara competirão duas coisas fundamentais: ZELAR PELOS INTERESSES DA COMUNIDADE (que poderão não ser exactamente coincidentes com os do ACM), assim como também lhe cabe o dever de ajudar aquele clube a resolver uma situação que já se arrasta há demasiado tempo…

Vamos esperar (sentados e com muita calma) as cenas que se seguem... a coisa promete!

Anónimo disse...

A decisão está há muito tomada, ou não teriam saneado o JBD.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, mas já que hoje estamos dados à poesia, celebremos o "Zeca" que tão bem soube cantar quem faz fretes:


Os Eunucos

Os eunucos devoram-se a si mesmos
Não mudam de uniforme, são venais
E quando os mais são feitos em torresmos
Defendem os tiranos contra os país

Em tudo são verdugos mais ou menos
No jardim dos haréns os principais
E quando os mais são feitos em torresmos
Não matam os tiranos pedem mais

Suportam toda a dor na calmaria
Da olímpica visão dos samurais
Havia um dono a mais na satrapia
Mas foi lançado à cova dos chacais

Em vénias malabares à luz do dia
Lambuzam da saliva os maiorais
E quando os mais são feitos em fatias
Não matam os tiranos pedem mais

José Afonso

Os Eunucos (No Reino da Etiópia)

Anónimo disse...

Hoje vai-se abrir muitas garrafas de champagne e dizer: UFA... Estava a ver que não me deixavam orientar...