Sopa de cação e pézinhos de coentrada, abundantemente regados por um soberbo Alfaraz Reserva Tinto de 2006, um complexo multicasta produzido nas afamadas termas da Vidigueira, obrigaram-me a permanecer de vigia com o bandulho a trabalhar à razão de 1.000 rotações por minuto e os intestinos a roncar como as dez trompas da Segunda Sinfonia de Mahler, embora os olhos e a cabeça suplicassem pelo conforto do colchão ortopédico comprado no Lopes, quando a espinha começou a acusar os danos irreversíveis dos maus tratos infligidos pelas loucuras da juventude e das companheiras libidinosas que passaram pelo travesseiro imperial do Casal da Formiga.
É sempre assim quando, uma vez por ano, no 5 de Outubro, rumo a uma pequena aldeia do concelho de Portel para dar vivas à república com o meu compadre e indefectível companheiro Manuel Casquete Cachapa, um alentejano orgulhoso, fino que nem um alho, arguto, comunista dos quatro costados, um irmão com quem comungo de modo desabusado e peito aberto a utopia e a divisa proclamada por Rosseau - Liberté, Egalité, Fraternité. Entre nós o mais importante não são as diferenças, antes pelo contrário, elas são a argamassa da nossa união de facto que dura vai para mais de trinta e muitos anos, dos tempos em que partilhámos a G3, o cantil e as longas tardes de domingo sob um sol abrasador, passadas debaixo dum imbondeiro, ansiando pelo regresso a casa, sãos e escorreitos. Depois veio o regresso e as longas tardes de domingo sob um sol abrasador, passadas debaixo dos chaparros de S. Bartolomeu do Outeiro, ressacando de dois anos de balas e de perdas irreparáveis, discutindo Marx e Engels, recitando Prévert, bebendo malgas de vinho e as palavras irredutíveis do poeta anarquista:
Empregado contra a vontade na fábrica de idéias
Recusei-me a marcar o ponto
Mobilizado mesmo assim para o exército das idéias
Eu desertei
E quando o vinho nos alagava os capilares e as memórias os olhos de lágrimas, as discussões atingiam, não raras vezes, a intensidade do ponto de ebulição e as hormonas e os punhos entravam em acção, até que um de nós visse escorrer no nariz do outro, um fino fio de sangue que anunciava o armistício – estava selada a nossa camaradagem. Abraçados e descompostos seguíamos passo trocado para a taberna do Xico Ministro, a fim de rematar a missão de sobrevivência. “Estranha amizade”, dir-me-ão os mais cépticos. Nada disso, meus caros, nada disso. “E porquê?”, insistirão vocês, os mais cépticos. Simples, demasiado simples. Porque entre nós há uma preposição nuclear que condiciona a nossa reserva mental e que marca a nossa inabalável convivência: o respeito mútuo. Porque as diferenças são a argamassa da nossa união de facto que dura vai para mais de trinta e muitos anos e porque elas nos fazem perceber que, embora por caminhos diferentes, o nosso destino é comum, e é nele que fundimos a nossa vontade e a nossa bandeira: Libedade, Igualdade, Fraternidade! Fui claro?
Independentemente de quem ganhe ou perca no próximo domingo, não devemos esquecer que há uma coisa que nos deve unir a todos, um grande amor à nossa terra. Talvez essa seja a argamassa que a nossa Marinha Grande tanto precisa para que as diferenças sejam de uma vez por todas factor de união. Concentremo-nos no essencial.
É sempre assim quando, uma vez por ano, no 5 de Outubro, rumo a uma pequena aldeia do concelho de Portel para dar vivas à república com o meu compadre e indefectível companheiro Manuel Casquete Cachapa, um alentejano orgulhoso, fino que nem um alho, arguto, comunista dos quatro costados, um irmão com quem comungo de modo desabusado e peito aberto a utopia e a divisa proclamada por Rosseau - Liberté, Egalité, Fraternité. Entre nós o mais importante não são as diferenças, antes pelo contrário, elas são a argamassa da nossa união de facto que dura vai para mais de trinta e muitos anos, dos tempos em que partilhámos a G3, o cantil e as longas tardes de domingo sob um sol abrasador, passadas debaixo dum imbondeiro, ansiando pelo regresso a casa, sãos e escorreitos. Depois veio o regresso e as longas tardes de domingo sob um sol abrasador, passadas debaixo dos chaparros de S. Bartolomeu do Outeiro, ressacando de dois anos de balas e de perdas irreparáveis, discutindo Marx e Engels, recitando Prévert, bebendo malgas de vinho e as palavras irredutíveis do poeta anarquista:
Empregado contra a vontade na fábrica de idéias
Recusei-me a marcar o ponto
Mobilizado mesmo assim para o exército das idéias
Eu desertei
E quando o vinho nos alagava os capilares e as memórias os olhos de lágrimas, as discussões atingiam, não raras vezes, a intensidade do ponto de ebulição e as hormonas e os punhos entravam em acção, até que um de nós visse escorrer no nariz do outro, um fino fio de sangue que anunciava o armistício – estava selada a nossa camaradagem. Abraçados e descompostos seguíamos passo trocado para a taberna do Xico Ministro, a fim de rematar a missão de sobrevivência. “Estranha amizade”, dir-me-ão os mais cépticos. Nada disso, meus caros, nada disso. “E porquê?”, insistirão vocês, os mais cépticos. Simples, demasiado simples. Porque entre nós há uma preposição nuclear que condiciona a nossa reserva mental e que marca a nossa inabalável convivência: o respeito mútuo. Porque as diferenças são a argamassa da nossa união de facto que dura vai para mais de trinta e muitos anos e porque elas nos fazem perceber que, embora por caminhos diferentes, o nosso destino é comum, e é nele que fundimos a nossa vontade e a nossa bandeira: Libedade, Igualdade, Fraternidade! Fui claro?
Independentemente de quem ganhe ou perca no próximo domingo, não devemos esquecer que há uma coisa que nos deve unir a todos, um grande amor à nossa terra. Talvez essa seja a argamassa que a nossa Marinha Grande tanto precisa para que as diferenças sejam de uma vez por todas factor de união. Concentremo-nos no essencial.
20 comentários:
Mais uma vomitadela do intelectual do Largo da Calhandrice e da Maledicência. Estes fulanos da esquerda são todos iguazinhos, não valem pevide. É muita conversa e pouca obra. Ainda não perceberam que ESTÁ NA HORA DA MUDANÇA?
Caro Relaxoterapeuta
Confesso que não deixa de me surpreender pela positiva.
Não sei quem é, nem faço a mais pequena ideia, mas sei reconhecer a pessoa de talento acima da média que está oculta por detrás do "terapeuta".
Escrita de grande qualidade. Combina a arte de jogar com as palavras e usa com mestria o génio de as transformar em mensagens decifráveis (não para todos, como se deduz do bitaite do bronco anterior).
Gostaria de pensar que as uniões de facto, construidas na diversidade de opiniões, estavam sólidamente alicerçadas numa argamassa que reforçasse o que de facto nos une, mas a vida já demonstrou que a transposição de práticas d0 noss quotidiano, para o terreno da política, se revelam quase impossíveis.
De qualquer forma, foi importante que tivesse escrito o que escreveu, porque, pelo menos, retempera-nos a alma.
Independentemente do que direi a seguir, quero dizer ao Relaxoterapeuta que aprecio o que escreve e a forma como o faz. Esta é uma mensagem de uma grande humanidade e de um grande sentido de responsabilidade o que só acrescenta valor a este blog e isso nem sempre me parece que é entendido por quem o frequenta.
Apesar disso, este blog é também uma excelente réplica da sociedade marinhense. Sempre que se escreve algo com conteúdo todos ficam calados, mas se alguém acrescenta um bitaite com uma insinuação ou com uma intriga, os teclados começam a fumegar de tantos disparates que são escritos. Percebo pois que alguns dos bitaites sejam apagados. Eu faria o mesmo.
O Relaxoterapeuta escreve bem se bem que com alguns floriados que eu pessoalmente não aprecio, mas desconhece ou pelo menos parece desconhecer, a "vulgaridade" dos que se movem em algumas listas. Não é a MG que importa, nem nunca importou. Acerca desse fenómeno do Louçã, nem me manifesto, primeiro porque o conheço de outros carnavais e foi sempre um menino família a armar ao revolucionário e os tontos que votam no BE pensam que estão a votar no Louçã. Engano puro, estão a votar em alguns ilustres desconhecidos deste Concelho. A avaliar pelos cabeças de lista para a AM (poruqe saiu repentinamente do IDV? - alguém sabe????). É um homem honesto, com as contas em dia????? (Já sei que esta espécie de Administrador deste blogue irá apagar tudo isto, mas alguém sabe quem é e tem sido esta estranha figura que encabeça a lista a AM por parte desta espécie de partido??????
Quanto ao candidato perfeito, o maior e melhor, o impoluto cabeça de lista do PSD à Câmara...tirando aquela das novas freguesias, quem é o homem????? Nos ultimos 35 anos alguém o viu em algum lado???? Depois temos o actual Presidente, coitadito e o Aspirina... nem falo do velho Artur, porque esse nem conta para o totobola...Marinhenses, escolham, porque a sorte é vossa!
por exclusão de partes, depreendo que o anonimo das 20.29 apoia o arturinho dos papeis para presidente..ou ele proprio!
Aqui está alguém sensível e culto que sabe o que é a política.
Parabéns ao autor.
Abaixo os sectarismos cegos que conduzem a lado nenhum. Ou por outra, podem levar ao lado errado. Digo eu.
abaixo os mata melgas de 1/2 tostão e furado.
Caro Relaxoterapeuta,
O seu texto encerra uma mensagem que infelizmente não é entendida nem parece interessar á nossa classe politica. Os interesses que os move são outros e, por isso, a agressividade com que tentam mostrar diferenças naquilo que, muitas das vezes, até nem os deveria dividir.
Não aceito mas compreendo as razões porque agem assim.
Porém, existem outros que não tendo qualquer beneficio ou interesse directo não conseguem ter um raciocínio critico, descomprometido e independente livre de preconceitos ideias feitas. São utilizados como marionetas pelos sanguessugas.
Esses não os compreendo.
Existem outros ainda que se conseguem distanciar das posições apaixonadas, tem grande abertura de espírito, são objectivos, construtivos, independentes e não vinculados a pensamentos dogmáticos.
É neste que gostaria de estar incluído.
Não aceito mas compreendo as razões porque agem assim.
Porém, existem outros que não tendo qualquer beneficio ou interesse directo não conseguem ter um raciocinio critico, descomprometido e independente livre de preconceitos ideias feitas. São utilizados como marionetas pelos nossos sanguessugas
Peço desculpa mas uma "traição" de meu computador ou se calhar uma aselhice do utilizador levou a que os 2 últimos parágrafos estejam repetidos.
Confesso-me um sincero admirador do Relaxoterapeuta e da sua escrita. Sempre que escreve, não só leio com atenção aquilo que escreve, mas faço-o no esforço de ler nas entrelinhas as mensagens que quer transmitir-nos.
Mas para a mensagem de hoje, como sempre muito bem escrita e arquitectada, não precisei de esforços extra para a interpretar.
Não, hoje a sua mensagem foi directa e particularmente clara e objectiva e, além disso, traduz bem a ideia de que, por detrás desse pseudónimo está alguém com um forte sentido cívico e um apurado senso do que é a responsabilidade colectiva!
Como já alguém afirmou num dos comentários anteriores, pena é que nem todos quantos frequentam este Largo tenham o espírito da convivência que defende e por que apela!...
Mas como na vida é precisa uma ponta de utopia, façamos de conta que os tais ‘broncos’ poderão um dia, também eles, vir a entender a mensagem que quis deixar-nos!
Muito obrigado Relaxoterapeuta. Foi particularmente bom lê-lo, hoje!!
Deixo este comentário, apenas para agradecer ao "Relaxoterapeuta", que não conheço, o facto de me fazer sentir bem, pelo facto de afinal descobrir que há marinhenses que sabem transmitir mensagens sem ofender ninguém. Continue.
Não dá para pôr bitaites no post acima, por isso ........
Que pobreza, este JBD ...... se eu não tivesse sentido de voto definido podem crer que votava CDU. Esta entrevista só prova que o que o move é o ódio, o rancor, a baixeza politica e moral.
Se dúvidas houvesse, agora perderam-se.
E está muito bem a apoiar o MCI, um "partido" que nasceu precisamente com base nos mesmos principios: ódio, rancor, baixeza politica e moral, preconceito, etc.
Basta ler os escritos do Chanoca. Se ele morde a lingua .... morre, garantidamente. Aliás, numa sala cheia de víboras, ele não tem nada a temer. Elas fogem dele, garantidamente.
Aliás, o Chanoca concerteza estava a referir-se ao JBD e ao AA quando falou em "prostituição politica".
Foi o que este senhor (JBD) e o seu sucessor (AC) fizeram com o AA. O homem, a troco de dinheiro (salário "chorudo" de vereador a tempo inteiro), vendeu-se .... fez favores de todo o tipo ..... esqueceu-se que era Vereador e passou a ser "pau-para-toda-a-obra". Enfim, prostituiu-se ..... Devia ser isso que o Chanoca se queria referir.
Já agora ...... para o JBD, para o AA, para o Chanoca e para muitos outros que acham que os Partidos não servem para nada e que não têm o direito para "opinarem" sobre os seus eleitos, era bom que, então, NÃO ACEITASSEM o dinheiro que esses mesmos Partidos gastam para os eleger ........ Na campanha actual vão ser gastos mais de € 200.000 ..... dinheiro que aos Partidos pertence (com excepção do MCI e dos Independentes da Moita, naturalmente). Então, depois de eleitos (os candidatos dos Partidos, independentes ou não) têm o direito de mandar tudo "às malvas" e fazerem o que lhes apetece ??
Quanto dinheiro é que a CDU gastou para eleger o JBD ???
Quanto dinheiro gastou o PSD para eleger o AA (que não tinha para mandar cantar um cego) ???
Gostava que os "grandes pensadores" anti-partidos que povoam este Largo respondessem ...
Pelos vistos o MCI já tinha a entrevista do JBD...
http://www.movimentocivicoindependente.pt/imprensa4.html
É pá, o relaxado num merecia isto pá...
Então o gajo esfalfou-se a escrever e agora botam-lhe vitaites do Barbas e do Autolocante e mais do Xanocas? Num está currecto, num senhor...
Esta xuxeirada é um spectáculo..................
É abrirem o post acima a bitaites .....
Realmente, depois de um momento literário delicioso e com conteúdo ideológico próprio de Homens livres, isso mesmo, com H maiúsculo, deviam poupar-nos a este baixo nível de comentários despropositados vindos de trambolhos de intelecto, ressabiados e assustados, a fazer exactamente o contrário do desejo que o mensageiro corajosamente exprimiu.
Ainda por cima escondidos no anonimato e a infantilmente fazerem-se passar por outros.
Os meus parabéns ao Relaxoterapeuta por este magnifico texto e pela coragem e ousadia da proposta que, modestamente, é também a minha. Para ele, o meu respeito e admiração que já noutras alturas lhe expressei, ainda que noutras encarnações
Caro(s) Anacleto(s) Fontainhas,
Neste post, em 09 Outubro, 2009 00:26 um escreveu
"Como já alguém afirmou num dos comentários anteriores, pena é que nem todos quantos frequentam este Largo tenham o espírito da convivência que defende e por que apela!..."
Em 28 Setembro, 2009 21:39 noutro tinha escrito:
"Por outro lado e agora no plano das ideias, eu quer-me parecer que na entrevista de Jorge Martins perpassa muito de ‘dor de cotovelo mal curada’, ou, então, laivos de uma pré senilidade que, a verificar-se, muito me contristaria!
Poderá ainda existir uma terceira situação e, essa também, nada cómoda para o senhor comendador. Refiro-me a uma incontida prosápia de saber falacioso que não é, de todo, recomendável e, de resto, não lhe reconheço!
Pois seja pelo que for, aqui fica um conselho a Jorge Martins: Cure-se, homem, cure-se que a sua imagem não está a ficar muito favorecida!."
Será que não existem 2 pessoas a utilizar o mesmo nickname?
Pode ter a certeza que não sou o Jorge Martins e mal o conheço. Exemplo foi só para ilustrar que existem umas certas bitaiteiros que sem dúvida escrevem muito bem.
Sem mais comentários e até ao próximo apanhado.
PUB.
http://oolhodocuko.blogspot.com/
Meu caro COMO ELES SE APANHAM,
Não há duas pessoas com o mesmo nickname. Quem escreveu ambos os parágrafos que citou foi o mesmo Anacleto Fontaínhas.
Desculpe que lhe diga mas não vejo qualquer contradição. Considero-me um cidadão contemporizador e sempre disposto a entender as opiniões do próximo.
Mas confesso-lhe que tenho uma imensa dificuldade em pactuar com atitudes de quem pensa ser superior…
Não sei se é Jorge Martins ou se o conhece ou não.
Eu conheço e sou seu amigo, por isso me dói que amigos meus tenham atitudes que, do meu ponto de vista, em nada contribuem para o fortalecimento da sua imagem.
Por isso meu caro, não esteja assim tão seguro da sua tese comparativa.
E quanto ao último parágrafo do seu comentário… faço de conta que o não vi.
Caro Anacleto Fontainhas,
No seu post subentende-se que tem pena de que muitos outros bitaiteiros não tenham o espírito de convivência que o Relaxoterapeuta defende e apela.
Até aqui estou completamente de acordo.
E acha que o seu post de 28 de Setembro está dentro deste espírito?
Aqui já não estou de acordo consigo pois parece-me que o seu post é provocativo e não tem nada de construtivo.
Entendi eu e de acordo com o que diz pensar, que aquele espírito tanto deveria ser utilizado em relação às pessoas que se goste como as que não se goste. Ainda por cima diz que é amigo dele? O que diria se não fosse.
E não vê contradição?
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