Era uma vez… nããã!
Certo dia… humm…
Há muito, muito tempo… mau porra… soa-me a José Cid!… Recomecemos:
Zás-trás-pás, pozinhos de pre-lim-pim-pim, mesuras e pilim, esta história de pasmar não tem tempo nem lugar.
Em uma aldeia perdida entre Vila Velha do Vapor e Degredo da Porca, havia um velho, havia um rapaz e havia um burro. Comecemos pelo afalado jumento, que era o único da sua espécie na aldeia. De quatro patas, bem entendido.
O dito asinino, que já não era tenro e que já passara pelas mãos de diversos armentários, era o único meio de transporte do pequeno povoado e o alvo da cobiça de peraltas e abastados. É que mais do que os seus prestimosos serviços de pequeno, médio e longo curso, o burrico, equipado com faróis de nevoeiro, escape de alto rendimento e uma placa pendurada ao pescoço onde se podia ler “Serviço Ocasional”, era usado e abusado como veículo de ascendimento, para passear presunção e água-benta, pesporrência e soberba. Homem bom que se cuidasse, havia de passear-se pela aldeia no corcovo do bicho, todos os anos, entre o Domingo Gordo e o Dia de Todos os Santos, pelo menos três ou quatro vezes, enfarpelado em brochura domingueira e a tresandar a lavanda. Era o mínimo. Não que a tarefa fosse canja de miúdos, custava uma fortuna e alguns golpes de rins, mas como não havia outro modo, o melhor mesmo era perder o amor a três afonsins e deixar para as calendas os princípios distintivos dum novel e ilustre cavalheiro, que Deus os haja.
Quanto ao rapaz… bem, quanto ao rapaz, era simplesmente o dono do burro. No essencial era isso, o grumete era o dono do burro. Não se lhe conhecia condão nem predicado, o seu talento resumia-se a ser o dono do burro - um golpe de finura: um burro sério, de idade respeitável, arrematado em vésperas da restante comunidade asinina ter sido dizimada por um funesto surto de diarreia.
Já do velho, dizia-se, que era rijo, probo e imprevisível, às vezes finório. Havia sido contador de sua senhoria reverendíssima o Arcipreste Cilício, até ao dia em que foi chamado, contra a vontade de uns e a manha dissimulada de outros, a prover bom augúrio para o celeiro do burgo. Logo contas deitou à vida e com artes de avisado espíscopo entesourou cereal para quatro invernos, upa, upa, à míngua do povo que passava privações e miséria, de barriga e de alma.
Os tempos eram de indigência e até as viagens fautorias do burrico se ressentiam da conjuntura, levando o rapaz, que contava com o ovo no cú da franga, a exasperar para juntar folhelho que compusesse o estômago do escanzelado. Tá visto que lhe entravam nas contas as viagens promocionais do velho celeireiro mais umas quantas, bem medidas, idas e voltas de aprovisionamento.
Só que o velho, que não alimentava a mais pequena dilecção pelo rapaz e pelo burro, estima que era reciprocamente devolvida pelos visados, decidiu, contra as legítimas aspirações económicas e bairristas do rapaz, recorrer a azémola de aldeia vizinha, para compor a logística e para dar um ar de sua graça. Olha o que o velho foi fazer! O rapaz, melindrado com a desfeita, começou a enxerir à má-língua o desmiolado, treinando o burrico horas a fio a dar coices numa silhueta que replicava o velho, apurando-lhe o sentido para que o jerico lhe deferisse com os cacos um golpe demolidor, quando ambos na rua se cruzassem.
E tantas vezes o cântaro foi à fonte que, as gentes da aldeia que haviam levado o velho a supremo feitor do celeiro foram as mesmas que lhe indicaram a porta dos fundos e lhe entregaram guia de marcha compulsória. O rapaz, ufano, vangloriou-se e logo predispôs os préstimos do burro para honra e glória do povoado e da nova capelania. Olha o que o rapaz foi fazer! O velho, ressabiado, mandou espalhar bicadas e calduços, no rapaz e no burro, exigindo que fossem reparadas as ofensas despendidas. A esta nova investida, aos olhos do moço, impropérios, aos olhos do ansião, a defesa da honra, veio o burro zurrar clemente punição divina, que a dos homens custa uma fortuna e demora uma eternidade.
A tudo isto os mais comuns do povoado assistiam com ingénua indiferença e os mais altivos com paciência ardilosa, tolerando as piruetas do burro e dando anuência e palmadinhas nas costas às tiradas do imberbe - nunca se sabe o dia de amanhã! Ao decrépito, por piedade, tudo era descontado e assentado no rol da mercearia, que as contas ficariam lá mais para diante.
Moral da história:
“não vejas no melro um pavão, nem uma libra num botão”
10 comentários:
Mas o que é que este gajo quer afinal? As mesmas chachadas de sempre!!!!
Vá lá 'anónimo' nem sempre as coisas correm bem. Olhe o seu fígado!...
Sabe, as dificuldades não estão só no texto. Elas estão, sobretudo, nos anticorpos que o 'anónimo' tem para com o Relaxoterapeuta.
Coisa que, por exemplo, eu não tenho.
Eu tenho uma ideia onde é que o Relaxoterapeuta quer chegar, mas confesso que achei este texto um pouco hermético e, logo, difícil de fazer passar a mensagem.
Há dias!... Para a próxima tenho a certeza de que as coisas sairão da pena do 'escritor' um pouco melhores e de mais fácil leitura.
A propósito desta parábola quem é que, para aí, está em condições de me esclarecer quem são, afinal, o Velho, o Rapaz e, já agora, o Burro?
Tenho cá um palpite, mas também muita curiosidade em confirmar as minhas suspeitas...
Ó curioso, eu para mim isto é limpinho como a água. E está muito bem escrito. Este relaxotepareuta é tramado.
Meu caro H. Lopes,
Lá bem escrito está (embora já tenha visto o Relaxoterapeuta produzir coisas melhores...), mas agora limpinho como água!?... Com toda a certeza sou eu que tenho a massa cinzenta a atirar pró baço. Admito. Problema meu.
Mas ainda não sei bem quem são as três figuras da novel parábola.
Ora bem...
Isto sou eu a adivinhar...
Temos um rapazito a mandar no PCP!!
Temos um PCP que não prima pela inteligência ( logo é burro)
Temos um Velho, que reclama para si um estatuto de douta sapiência, inquestinável honestidadade e inesgotável capacidade de trabalho (que se não viu).
O puto instrumentaliza o burro e o jumento chuta o velho para canto. Tenho dito.
Vocês não têm ido aos treinos, ora vejam lá se não faz mais sentido assim:
o velho tem barbas
o burro é verde
e o rapaz é encartado e dá-se mal com o velho.
Estou em crer que bates certo.
E o Topo Giggio? Onde é que fica nesta história?
o Toppo Giggio só espera pelo fim do mandato para mamar a reformazinha a que tem direito (?)
Gostei desta última...
Só resta acrescentar:-" e os vidreiros que se f...
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