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quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O Velho, o Rapaz e o Burro

Zás-trás-pás! Zás-trás-pás! Zás-trás-pás! Faça-se silêncio na sala, amordacem-se os galegos, expulsai da mesa os labregos, sem brasão e sem tostão. Escutai criaturas, escutai, duma velha alcoviteira, esta história verdadeira, uma história de pasmar que vos vai fazer… corar.
Era uma vez… nããã!
Certo dia… humm…
Há muito, muito tempo… mau porra… soa-me a José Cid!… Recomecemos:
Zás-trás-pás, pozinhos de pre-lim-pim-pim, mesuras e pilim, esta história de pasmar não tem tempo nem lugar.
Em uma aldeia perdida entre Vila Velha do Vapor e Degredo da Porca, havia um velho, havia um rapaz e havia um burro. Comecemos pelo afalado jumento, que era o único da sua espécie na aldeia. De quatro patas, bem entendido.
O dito asinino, que já não era tenro e que já passara pelas mãos de diversos armentários, era o único meio de transporte do pequeno povoado e o alvo da cobiça de peraltas e abastados. É que mais do que os seus prestimosos serviços de pequeno, médio e longo curso, o burrico, equipado com faróis de nevoeiro, escape de alto rendimento e uma placa pendurada ao pescoço onde se podia ler “Serviço Ocasional”, era usado e abusado como veículo de ascendimento, para passear presunção e água-benta, pesporrência e soberba. Homem bom que se cuidasse, havia de passear-se pela aldeia no corcovo do bicho, todos os anos, entre o Domingo Gordo e o Dia de Todos os Santos, pelo menos três ou quatro vezes, enfarpelado em brochura domingueira e a tresandar a lavanda. Era o mínimo. Não que a tarefa fosse canja de miúdos, custava uma fortuna e alguns golpes de rins, mas como não havia outro modo, o melhor mesmo era perder o amor a três afonsins e deixar para as calendas os princípios distintivos dum novel e ilustre cavalheiro, que Deus os haja.
Quanto ao rapaz… bem, quanto ao rapaz, era simplesmente o dono do burro. No essencial era isso, o grumete era o dono do burro. Não se lhe conhecia condão nem predicado, o seu talento resumia-se a ser o dono do burro - um golpe de finura: um burro sério, de idade respeitável, arrematado em vésperas da restante comunidade asinina ter sido dizimada por um funesto surto de diarreia.
Já do velho, dizia-se, que era rijo, probo e imprevisível, às vezes finório. Havia sido contador de sua senhoria reverendíssima o Arcipreste Cilício, até ao dia em que foi chamado, contra a vontade de uns e a manha dissimulada de outros, a prover bom augúrio para o celeiro do burgo. Logo contas deitou à vida e com artes de avisado espíscopo entesourou cereal para quatro invernos, upa, upa, à míngua do povo que passava privações e miséria, de barriga e de alma.
Os tempos eram de indigência e até as viagens fautorias do burrico se ressentiam da conjuntura, levando o rapaz, que contava com o ovo no cú da franga, a exasperar para juntar folhelho que compusesse o estômago do escanzelado. Tá visto que lhe entravam nas contas as viagens promocionais do velho celeireiro mais umas quantas, bem medidas, idas e voltas de aprovisionamento.
Só que o velho, que não alimentava a mais pequena dilecção pelo rapaz e pelo burro, estima que era reciprocamente devolvida pelos visados, decidiu, contra as legítimas aspirações económicas e bairristas do rapaz, recorrer a azémola de aldeia vizinha, para compor a logística e para dar um ar de sua graça. Olha o que o velho foi fazer! O rapaz, melindrado com a desfeita, começou a enxerir à má-língua o desmiolado, treinando o burrico horas a fio a dar coices numa silhueta que replicava o velho, apurando-lhe o sentido para que o jerico lhe deferisse com os cacos um golpe demolidor, quando ambos na rua se cruzassem.
E tantas vezes o cântaro foi à fonte que, as gentes da aldeia que haviam levado o velho a supremo feitor do celeiro foram as mesmas que lhe indicaram a porta dos fundos e lhe entregaram guia de marcha compulsória. O rapaz, ufano, vangloriou-se e logo predispôs os préstimos do burro para honra e glória do povoado e da nova capelania. Olha o que o rapaz foi fazer! O velho, ressabiado, mandou espalhar bicadas e calduços, no rapaz e no burro, exigindo que fossem reparadas as ofensas despendidas. A esta nova investida, aos olhos do moço, impropérios, aos olhos do ansião, a defesa da honra, veio o burro zurrar clemente punição divina, que a dos homens custa uma fortuna e demora uma eternidade.
A tudo isto os mais comuns do povoado assistiam com ingénua indiferença e os mais altivos com paciência ardilosa, tolerando as piruetas do burro e dando anuência e palmadinhas nas costas às tiradas do imberbe - nunca se sabe o dia de amanhã! Ao decrépito, por piedade, tudo era descontado e assentado no rol da mercearia, que as contas ficariam lá mais para diante.

Moral da história:

“não vejas no melro um pavão, nem uma libra num botão”

10 comentários:

Anónimo disse...

Mas o que é que este gajo quer afinal? As mesmas chachadas de sempre!!!!

Anónimo disse...

Vá lá 'anónimo' nem sempre as coisas correm bem. Olhe o seu fígado!...
Sabe, as dificuldades não estão só no texto. Elas estão, sobretudo, nos anticorpos que o 'anónimo' tem para com o Relaxoterapeuta.
Coisa que, por exemplo, eu não tenho.
Eu tenho uma ideia onde é que o Relaxoterapeuta quer chegar, mas confesso que achei este texto um pouco hermético e, logo, difícil de fazer passar a mensagem.
Há dias!... Para a próxima tenho a certeza de que as coisas sairão da pena do 'escritor' um pouco melhores e de mais fácil leitura.

A propósito desta parábola quem é que, para aí, está em condições de me esclarecer quem são, afinal, o Velho, o Rapaz e, já agora, o Burro?
Tenho cá um palpite, mas também muita curiosidade em confirmar as minhas suspeitas...

Anónimo disse...

Ó curioso, eu para mim isto é limpinho como a água. E está muito bem escrito. Este relaxotepareuta é tramado.

Anónimo disse...

Meu caro H. Lopes,
Lá bem escrito está (embora já tenha visto o Relaxoterapeuta produzir coisas melhores...), mas agora limpinho como água!?... Com toda a certeza sou eu que tenho a massa cinzenta a atirar pró baço. Admito. Problema meu.
Mas ainda não sei bem quem são as três figuras da novel parábola.

Anónimo disse...

Ora bem...
Isto sou eu a adivinhar...
Temos um rapazito a mandar no PCP!!
Temos um PCP que não prima pela inteligência ( logo é burro)
Temos um Velho, que reclama para si um estatuto de douta sapiência, inquestinável honestidadade e inesgotável capacidade de trabalho (que se não viu).
O puto instrumentaliza o burro e o jumento chuta o velho para canto. Tenho dito.

Anónimo disse...

Vocês não têm ido aos treinos, ora vejam lá se não faz mais sentido assim:
o velho tem barbas
o burro é verde
e o rapaz é encartado e dá-se mal com o velho.
Estou em crer que bates certo.

Anónimo disse...

E o Topo Giggio? Onde é que fica nesta história?

Anónimo disse...

o Toppo Giggio só espera pelo fim do mandato para mamar a reformazinha a que tem direito (?)

Anónimo disse...

Gostei desta última...

Anónimo disse...

Só resta acrescentar:-" e os vidreiros que se f...