“O PCP aburguesou-se muito na Marinha Grande”
Sente-se tratado como uma “embalagem descartável” pelo PCP e diz que foi afastado por se recusar a fazer favores a alguns dirigentes locais. Responde às críticas do PS de falta de obra com o facto de ter dado prioridade à organização da autarquia e condena a postura eleitoralista do principal partido da oposição.
Quando há cerca de um ano suspendeu o seu mandato deixou em aberto a possibilidade de regressar à Câmara da Marinha Grande. Mantém a mesma posição?
Quando pedi a suspensão admiti uma evolução da situação que me proporcionasse retomar a actividade. Pareceu-me contranatura dois ou três camaradas proporem a minha saída. Sem a confiança política do meu partido não havia condições para funcionar. Pedi a suspensão na perspectiva de que as condições pudessem ser alteradas.
E essas condições alteraram-se?
Não. Em alguns casos até era natural que se tivessem esclarecido.
Como estão as suas relações com o partido?
Praticamente não existem. O partido retirou-me a confiança política e eu não reagi. Tenho estado quieto e calado.
Sente-se desapontado?
Desapontado qualquer pessoa fica quando é militante de um partido há 45 anos, cumpriu com dedicação todas as regras partidárias, e chegam dois ou três indivíduos e utilizam-no como uma embalagem descartável.
Quem é que na realidade o afastou?
Foram os principais dirigentes locais do partido.
Sob que justificação?
A questão do terreno do Marinhense é a mais forte. Queriam-me forçar a aprovar aquilo. Sou uma pessoa coerente, ética e respeito a confiança das pessoas. O grosso do meu eleitorado não se sentiria bem se cedesse numa coisa dessas quando sempre disse que não era justo. Uns tinham necessidade de retirar os avales que tinham na Direcção do Marinhense. Outros faziam uns favores uns aos outros. Favorzinhos que não se devia fazer no PCP. Deixei margem para criar condições para passar, mas sem a minha assinatura. Mas eles não quiseram. A partir daí criaram-se outras situações idênticas.
Se estivesse inscrito na Marinha Grande, votaria no partido?
Quando decidir votar não o faço contra o partido. Posso reconhecer que não é o candidato melhor e abster-me.
E faria campanha pelo PCP na Marinha Grande?
A manter-se a situação, sem qualquer evolução ao nível dos responsáveis locais, não.
Foi acusado, muitas vezes, pelo PS de não ter realizado obra. Como vê estas críticas?
A câmara estava muito desorganizada em termos de estrutura, pessoal, funcionalidade e tesouraria. Quando o partido que está no poder esbanja com um conceito eleitoralista e aproveita até ao máximo todas as possibilidades que tem de fazer investimentos, uns legais e outros menos legais, isso desorganiza uma câmara. Quando cheguei lá a primeira coisa que fiz foi organizar as coisas. Isso levou tempo. Algumas obras que estão a ser agora iniciadas foram planeadas no meu tempo. Vencendo muitas dificuldades. Quando as coisas estavam todas preparadas, foi quando se deu esta situação.
Faltou-lhe tempo para concretizar obras?
Tem sido uma das pechas do meus mandatos não estar mais de um mandato seguido. Um mandato é praticamente para pormos a câmara ao nosso jeito para podermos governar. A CDU não pode contar com os benefícios dos sacos azuis que outros partidos têm contado para auxiliar os seus autarcas. As receitas que as câmaras têm deviam ser para fazermos obras no nosso mandato.
A avaliação dos funcionários da autarquia conotados com o PS gerou alguma polémica. Se tivesse feito essa avaliação, conseguia reconhecer o mérito das pessoas independentemente da cor partidária?
O meu passado, a esse respeito, responde por mim. Sempre tive muito cuidado e respeito com essas coisas, porque durante o fascismo fui muitas vezes discriminado. Muitas vezes contrariei algumas correntes dentro do meu partido, que diziam que devia meter na câmara mais gente da minha cor. Sempre disse que se devem escolher os que mostrarem melhores condições de acesso. Sigo os princípios do partido. O PCP aburguesou-se muito na Marinha Grande. Há algumas correntes burguesas que não têm
nada a ver com o partido. O princípio do partido é haver justiça, não favoritismos. Mas é evidente que em igualdade de circunstâncias opto por indivíduos do meu partido.
(surripiado do Jornal de Leiria)
8 comentários:
Só de lembrar que o J.Carreira foi expulso por ter escrito no "Correio" que não votava em J.B...
Alguém viu por aí o "amigo" confiante? Gostava de o ver a comentar esta entrevista, ó se gostava! Não me parece que tenha coragem para isso.
ganha calma... cada coisa a seu tempo.
Sim...
Dêem tempo ao rapaz para telefonar e pedir instruções sobre o que escrever...
Lendo estas palavras de J. Barros Duarte, só podemos mesmo lamentar que este tenha sido afastado do lugar para o qual foi eleito... Tudo seria diferente!
Talvez essa diferença fosse incomoda a muita gente, dentro e mesmo fora do PARTIDO!
Mais uma vez quem perdeu? a Marinha Grande
"A questão do terreno do Marinhense é a mais forte. Queriam-me forçar a aprovar aquilo. Sou uma pessoa coerente, ética e respeito a confiança das pessoas. O grosso do meu eleitorado não se sentiria bem se cedesse numa coisa dessas quando sempre disse que não era justo. Uns tinham necessidade de retirar os avales que tinham na Direcção do Marinhense. Outros faziam uns favores uns aos outros. Favorzinhos que não se devia fazer no PCP. Deixei margem para criar condições para passar, mas sem a minha assinatura. Mas eles não quiseram. A partir daí criaram-se outras situações idênticas."
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"queriam-me forçar a aprovar..."
"....sou uma pessoa ética..."
"...se cedesse..."
"....avales"...
"uns faziam favores uns aos outros..."
"favorzinhos..."
Isto não é uma forma de pressão sobre um detentor de cargo político?
Isto é grave de mais para ser verdade, por isso, isto necessita de investigação, tanto mais que o caso do Marinhense foi resolvido depois do "saneamento" do Presidente eleito.
Continuamos a aguardar impacientemente o comentário do "nosso amigo" confiante. Força homem, desembuche lá!
Falta de categoria, desculpando-se com os outros.
Não teve " tomates" e agora mendiga
desculpas.
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