E como qualquer esquadrilhado morredoiro, caí à cama fulminado pela maldita gripe, mas não sem ter apanhado susto de cova! É que os sintomas da maldita influenza revelaram-se após escapadela noctívaga a galinheiro de suspeito famanaz. A convite de compadre Horácio, alternadeiro profissional, pinchando entre a respeitável vidinha conjugal (classe “bodas de prata”) e as prestimosas casas da especialidade, aventurei-me, quase contrariado, a um intercurso “revigorante” - segundo palavras do próprio compadre. “É uma vez sem exemplo Relax!”, garantiu ele. Jesus! O ambiente era abafado, a música era ruim, as galinhas eram de aviário, o perfume era rafeiro e a “chãmpanha” caríssima e ordinária (setenta e cinco euros a botelha!). Salvou a noite uma visão extraordinária e inesperada, de rebenta-riso. Um conhecido cidadão da praça, figura de alta craveira moral, intelectual e filosófica, encharcado em whisky, depenicando entretido e despreocupado o que parecia ser uma loira pernilonga. “Então por aqui?” perguntei eu acercando-me do sujeito. O janota encarou-me, engasgou, tossiu convulsivamente, ruburizou, cambaleou, tombou redondo. A pernilonga desatou aos gritos e desfaleceu por simpatia. “Rais-parta-o-homem que se espicha” pensei antevendo um fim trágico para a minha abordagem. E quando já assustado me preparava para lhe aplicar uma massagem de reanimação cardíaca, umas murraças de punho fechado nas peitaças, o homem recobrou do ameaço e prostrando-se a meus pés suplicou: “não conte a ninguém que me viu aqui, por favor!...”. “Fique descansado, que até melhor oportunidade a minha boca é um túmulo!”, sosseguei-o, guardando cuidadosamente na manga o valioso trunfo, à Luis de Matos.
Felizmente confirmou-se, a influenza não era aviária, era simplesmente ordinária - “ponche quente, pachos de álcool e nada de correntes de ar” prescreveu o doutor das urgências-enquanto-as-há sem olhar para mim. Segui escrupulosamente a indicação do douto e baixei ao leito.
Está claro de se ver que tempo é coisa que não me tem faltado e para sobrepujar o tédio e matar as horas, quase tudo serve. Olha, por exemplo, tenho lido novelas de produção caseira em publicações sem critério. E embora, por norma, os argumentos sejam maus e os actores, fracotes, apresentem evidentes sintomas de acrofilia, tenho-me entretido. Entre outras ando seguir uma cuja estória roda à volta da mentira – um diz que o outro é mentiroso e o outro diz que o um é que é mentiroso. Mas nesta novela adaptada à vida real tudo é inconsequente e chamar mentiroso a alguém parece ser a coisa mais banal do mundo. A suspeita e a mentira são invocadas sem acanhamento e usadas para intoxicar, desinformar e urdir tramas foleiras. No tempo em que a honra era um valor e os homens tinham carácter, estas questões eram tratadas a punho, na praça principal, junto ao pelourinho. Mas nós por cá como não temos pelourinho, vá lá, que por uma vez sejam verticais e travem-se de razões sob o olhar atento do busto do Guilherme Stephens. Mas por favor não nos deixem baralhados em relação a quem incorporou o espírito do Pinóquio.
Enquanto isso, eu e mais quantos mil, lá vamos fungando, enxugando o pingo ó nariz e chuchando rebuçados do “Dr. Baiar" para acalmar a irritação.
3 comentários:
Este palerma já não diz coisa com coisa.
É um fartar vilanagem. Quando apanham um pobre moribundo, os abutres volteiam, volteiam sempre, na perspectiva do festim que antecipam…
O que este blog foi e no que nele se tornou!
Toda a mediocridade de quem tem capuz enfiado no recipiente de cérebros lavados, se rebola de riso alarve!
Que tristezas!! A deste decrépito espaço, que foi de debate de ideias e de crítica mordaz, e a do espectáculo que os seus detractores fazem gala em, despudoramente, demonstrar...
Que venham melhores dias são os meus votos.
...alto aí, caro Anacrónico, que se há coisa que eu não estou é moribundo! (e penso que o resto do pessoal também não o estará, embora desse jeito a muito boa gente)
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