Repararão que o texto foi escrito a propósito dos 30 anos da Revolução de 1974 (em 2004), mas a actualidade da reflexão mantém-se... tal como nos primeiros 30 anos, também nestes últimos 4, Portugal não mudou assim tanto...
Sempre,
Ex-Cura Araújo
25 Abril ~ 1º Maio
«25 Abril, sempre!» Foi este o grito que eu aprendi a ouvir desde miúdo quando na noite de 24 para 25 de Abril saia de casa com os meus pais para nos dirigirmos à Praça Stephens onde se celebrava anualmente a Revolução dos Cravos de 1974. E ainda que sem perceber muito do porquê de toda aquela euforia, o porquê de toda aquela multidão ali reunida, o porquê daqueles gritos uníssonos proclamando a Liberdade e a Democracia, renegando o fascismo e a ditadura, eu lá ia na marcha que percorria a avenida principal da cidade, e ansiava de ano para ano por essa noite quase ‘mágica’, em que as cores políticas, os partidos, as diferenças se silenciavam para apenas se ouvir uma palavra – Liberdade!
30 anos depois… eu tive já tempo suficiente para aprender o porquê de toda aquela euforia nessa década de oitenta… E porque hoje melhor os compreendo, menos compreendo o porquê da ausência dessa mesma euforia nos nossos dias. Não há uma verdadeira alegria hoje, no 25 de Abril. O Povo já não sai à rua para proclamar a ‘Liberdade’!’ Talvez porque a tenha já por garantida, talvez porque somos hoje uma geração que não sabe o que é viver privado da Liberdade. O 25 de Abril de 2004 foi uma vez mais um lugar comum na vida rotineira dos cidadãos portugueses… um feriado falhado, pouco mais. Uma data de memórias tiradas do baú, mas que de tão repetidas estarem perderam já da sua força, já não entusiasmam, já não nos prendem a atenção, já não nos fazem regalar os olhos ou os ouvidos…As celebrações já não saem à rua… ficam fechadas nas Instituições políticas. A festa já não é do Povo.
30 anos depois, 25 Abril continua por se cumprir. E é isso que faz com que não se vejam grandes motivos para festejar. É verdade que há maior liberdade. É verdade que há maior participação, mais cidadania. É verdade que Portugal é uma Democracia (=Poder ao Povo). Mas será que Portugal é hoje aquilo que sonhavam aqueles que fizeram o 25 de Abril? Será que Portugal é aquilo que ele poderia e é chamado a ser? De que serve a Liberdade, quando ela é aprisionada pelos sistemas e pelos lobbies políticos, económicos e sociais? Onde está a real participação dos cidadãos na Sociedade quando a única oportunidade que lhes é dada é um Voto esporádico em promessas nem sempre respeitadas, nem sempre cumpridas, por isso um Voto na mentira e na hipocrisia! O que é a Democracia quando a nação é governada não em favor do Povo mas contra o Povo, não para estimular e desenvolver o Povo e as suas potencialidades, mas antes o fazer descer às ruas da amargura, da incerteza, da insegurança, da desconfiança, do medo? Haverá verdadeira Liberdade em Portugal? Haverá verdadeira Democracia em Portugal? E não nos cinjamos à Economia, e ao que esta revela de pouca Democracia existente na nação. Fale-se da Justiça, fale-se da Política Externa, fale-se da Saúde, fale-se da Educação!
Da Revolução à Evolução vai um passo que, por muito que se queira, não aconteceu ainda em Portugal. Se queremos falar de Evolução olhemos para os países do Norte da Europa ou do Norte da América… e assumamos que evolução é coisa que ainda não há em Portugal. O que se fez em 30 anos foi apenas acompanhar um ritmo de desenvolvimento e de crescimento mínimo, foi o menos mal que se conseguiu fazer! Quando não houver listas de espera nos hospitais e o Serviço Nacional de Saúde for um verdadeiro Serviço à Comunidade; quando a Educação for para todos, e as taxas de analfabetismo e de abandono escolar foram quase nulas; quando a Justiça for verdadeiramente cega e imparcial, justa e célere; quando a Cultura for o bem de maior consumo em Portugal; quando a Economia for promotora de Justiça Social e de Igualdade; quando o desemprego for uma mentira e o respeito integral pelos direitos dos trabalhadores uma verdade; quando 25 Abril de 1974 deixar de ser uma memória trancada na gaveta política que se abre apenas uma vez por ano e for uma garantia em cada dia da vida da nação e dos cidadãos, então sim, podemos falar de Evolução.
O 1º Maio vem precisamente lembrar-nos, a cada ano, o quanto ainda falta fazer para que se cumpra 25 de Abril em Portugal e na vida dos Portugueses. E quem mais o sente, é quem mais o sofre, como sempre foi quem mais sofreu os golpes da ditadura e do fascismo: a classe operária, os trabalhadores! É deles o 1º de Maio. E deles vem o grito que denuncia a falta de cumprimento do 25 de Abril.
Precisaremos nós de outra Revolução?
5 comentários:
O autor deste blogue anda apagar comentários no dia em que se comemora o facto de existir liberdade de espressão, deve ser um grande socialista o autor deste blogue, hahahahahahaha
Caro anónimo: a liberdade de um acaba onde começa a liberdade do outro. Não vi o post eliminado, mas provavelmente deveria ser um post a insultar gratuitamente alguem. E aí acho que deve ser eliminado. Sabe que o facto de se poder escrever tudo atrás do anonimato só é sinal de sabedoria quando serve para denunciar uma injustiça ou até expressar uma opinião desde que não seja simplesmente destrutiva, discriminatória ou ofensiva; caso contrário é pura estupidez e cobardia.
Depois da resposta ao nosso amigo anónimo, expresso então a minha opinião quanto ao 25 de Abril. Está provado que um país só volta a entrar no caminho do desenvolvimento após cerca de 3 gerações. Isto significa que só a partir geração do meu filho poderemos ter uma maior fé para Portugal. Se por um lado fico contente com o facto, por outro fico extremamente preocupado, pois essa também será a geração do "dá-me o telemóvel já!", da futilidade e do desprezo por todos os que não partilham da mesma moda ou que não ouvem a mesma música. É isto que queremos para o nosso país e para os nossos filhos? Temos que lutar todos por um objectivo comum e não esperar que nos caia do céu! O 25 de Abril não foi só dos operários, foi e é de todos os Portugueses. O problema foi que deixámos de ser patriotas (só para o futebol), não lutamos pelos nossos direitos (mas se for o Benfica a ganhar o campeonato, já vimos para a rua), queixamo-nos do preço do pão (mas para comprar o jornalinho do futebol ou a revistinha do jet set já há dinheiro), os combustíveis aumentam (mas nem por isso se deixa de usar o carro para ir até ao fim da rua), os hospitais dão prejuízo (mas alguns enfermeiros sonegam material para utilizar nos consultórios particulares), os professores protestam (mas ainda não conseguir entender qual o modelo de avaliação que propoem)...
Resumindo, ficamos á espera de chegar ao nível de vida e conforto de uma Dinamarca, por exemplo, mas não queremos trabalhar como eles trabalharam para lá chegar.
Quando o Povo se unir numa causa comum, e que esta seja o desenvolvimento do país, então a Revolução estará completa...
Caro Wolverine,
então os enfermeiros é que roubam material para os seus consultórios ????
Pensava que os médicos é que tinham consultórios ......
Quanto ao resto, de acordo. Só desejo é que mantenha essa postura construtiva quando o Governo da Nação for de outra "cor" ....
Caro anónimo,
sim, os enfermeiros também...infelizmente. Quando o Hospital de Leiria se tornou uma EPE com gestor privado, verificou-se que não havia registo eficaz de saídas de stock em vários produtos, mas que estes tinham muita saída. Implementando um registo, verificou-se também que essas saídas misteriosas acabaram. Os produtos em causa eram agulhas, seringas, fraldas, pensos, adesivos, pomadas. Quem poderia ter mais interesse nestes items seriam os enfermeiros com o fim de os utilizarem nas suas deslocações privadas a domicilios. A palavra consultórios não foi bem escolhida, realmente...
Quanto à minha postura, tento sempre que seja construtiva...seja qual for a cor dos que lá estão...
Enviar um comentário